Capítulo 18- Otávio

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Durante a viagem, disse mil vezes a mim mesmo que o que aconteceu entre Maria Eduarda e eu era apenas fruto da solidão, e que não se repetiria.

A primeira coisa que fiz ao vê-la na estrada foi parar o carro e ir até ela. Depois, eu a amei. Mais uma vez. Eu não sei como conseguiria parar porque simplesmente eu não queria parar.

Encarei a loira à minha frente. Minha ex-esposa parecia saber o que estava acontecendo mesmo que eu não dissesse uma palavra.

-Essas coisas acontecem - ela murmurou, depois de alguns minutos em que nós nos encaramos como se Analy pudesse simplesmente decifrar tudo que estava envolvido em nosso silêncio.

- O que quer dizer? - indaguei, enquanto Ísis me puxava pela mão e me levava até o sofá para me mostrar o desenho que fez. - Você sabe o que eu quero dizer.

Analy foi até o outro sofá e sentou-se, encarando os filhos. Havia tanto constrangimento entre nós que eu não conseguia dizer uma palavra. Nesse instante, eu soube que Analy sabia o que estava ocorrendo entre a babá e eu. Mais uma vez, a culpa me corroeu. A visão de meu avô surgiu, pesada em minha consciência. Meu avô jamais permitiria. Eu quase podia enxergá-lo me reprimindo porque eu não era o neto perfeito.

- Você parece bem, Otávio - a voz dela me tirou do torpor. - Você também.

Era um pouco dolorido dizer isso. Ela estava apagada nos últimos meses do nosso casamento. Saber que Analy renasceu longe de mim só destacava o quanto eu fui péssimo como marido. Mais uma vez, lá estava meu avô, dizendo que tudo era por minha causa.

- Eu precisava do tempo que nos demos, Otávio.
- Nós não nos demos um tempo. Nós nos divorciamos.

Ela deu os ombros.

- Papeis ... No que são importantes?

Contratos eram tudo para mim. Mas, Analy sempre teve esse espírito livre que não precisava de amarras.

- Onde estava?

Ela me encarou como se uma nuvem negra passasse pelos seus olhos. Por um momento, vi a antiga Analy ali, minha antiga namorada pela qual fui tremendamente apaixonado. A garota que me queria e que ansiava por minha proteção num mundo onde tudo era tão vazio e inconstante.

- Eu preciso falar com você, Otávio, mas não na frente das crianças.

Assenti, e então encarei Igor.

- Leve sua irmã para cima. Vão até Maria Eduarda.

Como sempre, meu filho mais velho não retrucou nenhuma de minhas palavras. Ele simplesmente segurou a mão da irmã menor e se afastou. Analy os observou subindo as escadas com um sorriso no rosto.

- Como cresceram - ela murmurou.
- Muito, desde que os viu pela última vez. Por que não ligou para eles? Por que não apareceu para vê-los? As crianças sentiram demais a sua falta.

Ela volveu seu rosto para mim.

- Me serve um martini?

Senti como se ela estivesse jogando novamente, a forma como seu pedido soou parecendo parte do seu plano. Ainda assim, dancei conforme sua música. Fui até as bebidas e a preparei o drink. Trouxe até ela e a vi bebendo um gole com um sorriso satisfeito.

- Ninguém prepara como você ...

Não queria beber, mas imaginava o quanto essa conversa seria difícil, então acabei preparando um conhaque. Bebi tudo num único gole, e então andei novamente até o sofá. Sentei-me diante dela, e aguardei.

- Eu estava tão afogada em nosso casamento, Otávio. Você é tão ... tão difícil de lidar. Sempre tão firme, tão rígido com Igor ...
- Você nunca pareceu se importar - murmurei.

O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora