Capítulo 2- Otávio

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Quando a agência de empregos me disse que encaminharia alguém para uma entrevista,eu esperava uma jovem senhora com seus meu escritório, perdi um pouco o ar.

Talvez porque ela me lembrasse Analy, minha ex-esposa, na época que a conheci. Já se passaram quase dez anos, mas experiência de me apaixonar pelo seu jeito extravagante e livre, ainda fazia meu coração acelerar.

Tudo aconteceu na Argentina. Em Buenos Aires. Estava jantando com um amigo e parceiro de negócios, quando a garçonete apareceu com seu sorriso lindo e espontâneo.
Nós trocamos telefone e, no tempo que fiquel na Argentina a passeio, saímos e ficamos algumas vezes. Quando voltei ao Brasil, já estava apaixonado. Então a trouxe para mim. A pedi em casamento. E acreditei que seria eterno, até perceber que minha linda esposa era livre demais para ficar amarrada a um homem que precisava trabalhar para manter seu estilo de vida.

A mansão afastada demais da cidade para ser movimentada, mas próxima demais para Ser considerada uma fazenda, a massacrou. Analy gostava de gente, gostava de festas. Aos poucos, ela foi definhando. Quando eu Ihe perguntei se ela queria o divórcio, ela quase me agradeceu.

E, desde então, eu tento manter a serenidade por conta de Igor e Isis. Eles eram apenas crianças e já estavam vivendo longe da mãe. Entretanto, não posso negar que quando vi Maria Eduarda Fiuza entrando na minha sala, algo cravou na minha carne.

O que por si só já era loucura.
O fato de ela me lembrar Analy mais jovem só devia coroar minha iniciativa de pedir aquela jovem de cabelos esvoaçantes para sair. Mas, ainda assim eu pedi para ver seu curriculum. A tratei bem. Mesmo com a justificativa de sua falta de qualificação bailando na minha boca, eu lhe dei
emprego.

Por quê?
Ela me atraía. Como Analy um dia me atraiu.

Só que havia algo que as diferenciava. Analy estava trabalhando de garçonete naquela noite apenas como um extra para seu curso de moda. Ela vinha de uma boa família e tinha um bom sobrenome na Argentina. Quando meu avô soube dela, ele lhe fez uma série de perguntas sobre sua linhagem e só
ficou satisfeito após descobrir tudo que pôde dela.

Meu avo morreu cinco anos antes, mas eu me lembro de jurar a ele que jamais desonraria os
Figueiredo ficando com qualquer uma.
Qualquer uma...

Eu não preciso ver o curriculum de Maria Eduarda para saber que ela é pobre. Sua pele, seus cabelos sem Corte, Suas sandálias empoeiradas e Sua saia velha mostram isso para mim. E ela sempre
trabalhou, já que tem muita experiência e pouco estudo. No papel está claro que ela sequer concluiu o ensino médio.

Ergo meus olhos para ela. O café a minha frente está servido. Ela bebe em sua própria xícara Como se estivesse muito constrangida em estar na minha frente.
Certo. Ela me atrai. Mas, eu nunca ficaria com ela.

-Bom, Maria Eduarda. Como eu já te disse, seu curriculum é ótimo e tenho certeza de que já cuidou e educou muitas crianças, mas preciso que saiba que meus filhos são diferentes. Igor será o prÓximo conde. Ter um título traz muita honra, mas também muita responsabilidade. Meu avô me ensinou que podemos nos deixar guiar por
não sentimentalismos, precisamos sermos firmes e
justos.

Eu sabia que ela não fazia ideia do que eu estava falando.

-Ok-disse, apesar de tudo.
-Não quero que você o encha de mimos, e o trate como um reizinho. Precisa ser rígida com ele.
-Mas, ele tem sete anos.
- Já está na idade de saber se portar. Não quero que você seja muito afetuosa com Igor. Ao contrário, quero que seja dura e exija dele sempre o melhor.

Ela assentiu. Sabia que não estava de acordo, mas aparentemente precisava do emprego.

-Outra coisa. Se tiver namorado ou marido, só poderá vê-lo em dias de folga e fora do ambiente de trabalho. Não quero homens estranhos perto dos meus filhos.

Ela enrubesceu.
- Não tenho...

Meu coração acelerou. Solteira, eu sabia era porque ela colocou isso no que curriculum, e me alegrou que não tivesse um namorado. Contudo, essa alegria era incômoda, porque não devia me alterar.

Ela terminou o café. Ficou um ralo rastro do líquido em seus lábios e eu senti Vontade de lambė-lo. Desviei olhar, volvendo ao papel. Eu precisava de uma babá porque tinha muito trabalho para fazer, e não tinha tempo de ficar procurando outra pessoa.
Além disso, ela era perfeita para o cargo.

Eu apenas precisava manter as bolas dentro da calça.

O problema é que fazia muito tempo que eu não tinha uma mulher. Analy e eu não transavamos a meses, antes mesmo do divórcio. E, mesmo quando ela se foi, eu estava machucado demais para procurar uma mulher.

Agora, sentia que o corpo reagia a falta.

-Bom, então é isso finalizei. Pode começar amanhã?
-Posso sim, senhor.
-Me mande seu endereço, vou pedir
para um dos motoristas da minha empresa
pegar suas coisas para trazer à casa. Arlete vai
preparar um quarto.
-Sou muita grata, Sr. Otávio.

Ela se levantou pouco depois, despediu-se e se foi. Seu perfume suave permaneceu no ambiente por um tempo, até se tornar apenas um rastro invisível de uma presença provocadora.

*****

-Simpática a moça.- Arlete me disse, enquanto me servia o jantar.

Igor estava à minha direita, e Ísis do outro lado. Eu era menos exigente com Isis, então ela comia usando o garfo e a mão. Contudo, Igor lutava bravamente com uma faca sobre o pedaço de bife.

-Muito simpática!- afirmei.

Arlete tirou a faca da mão de Igor e o ajudou a cortar. Ela sabia que eu não gostava que o ajudassem, mas Arlete foi minha babá na infância e quase uma segunda mãe, eu não tinha coragem de dizer-lhe nada.

-Quantos anos ela tem?
-Quase trinta.- Eu destaquei. - Se veste bem mal.- Observei.- Pedirei que use um uniforme!

Arlete me dá um sorriso estranho, como se quisesse me dizer algo, e eu quase a interpelei, mas Ísis chamou minha atenção.

-Ela parece a princesa Merida, papai.
- Merida?

Eu não sabia nada sobre as princesas. Tentei puxar pela mente. A Bela Adormecida era Aurora, a Branca de Neve era Branca.
Qual era o nome da Cinderela?

-De Valente.- Arlete me socorreu.-Mas, ela não é ruiva, Isis.
-Só a cor diferente. O cabelo dela é cheio de cachos.

Eu sorri porque tinha um pouco de verdade.

-Você gostou dela?
-Eu gostei. E você, papai?
-Eu também.
-Minha resposta foi tão automática que eu até me assustei.
-Será que mamãe gostaria dela?- Ísis indagou.

Mais uma vez, a semelhança me tocou. Ambas eram cheias de vida, espirituosas. Eu pouco vi de Maria Eduarda, mas a forma como ela sorria,Como ela tentava não transparecer a personalidade alegre parecia com Analy.

- Eu acho que sim, Isis...
A resposta encerrou a conversa. Falar sobre Analy, ou sentir a ausência dela, sempre afundava todos nós num ninho de dor.


O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora