Capítulo 19- Maria Eduarda

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Ouvi o som do carro de Otávio partindo da casa enquanto entretinha as crianças no quarto delas.

- Por que papai saiu, Duda? - Ísis me perguntou, mas seu olhar era como se sabia a resposta.
- Papai e mamãe se odeiam, não é? É tudo por nossa causa...

Eu neguei com a face.

- Claro que não, meu amor. Eles fizeram vocês, que são as crianças mais especiais do mundo. Mesmo que não fiquem mais juntos, ainda assim, tem um laço que nunca vai se partir.

Igor me encarou como se eu tivesse acabado de proferir uma mentira, e eu senti que aquilo tudo era injusto para as crianças. Eles estavam aflitos pelos pais, e talvez a resolução de tudo seria os pais reatarem para poder criar as crianças num ambiente seguro e feliz.

Pensei na minha própria infância sem amor, questionando por que não podia ter uma casa normal com pais que me amavam. Eu entendia minha mãe, entendia que ela foi forçada a partir desse mundo, mas meu pai ...

Por que ele não voltou?
Por que ele não ligou? Anos depois eu soube que ele teve outros filhos e que era amoroso com eles. Por que não foi comigo?

A mão de Igor tocou a minha.
Por que Analy nunca ligou, desde que eu cheguei?
Deus, como aquilo doía. Talvez as pessoas pensassem que Ísis e Igor não se importavam, mas eu sabia a verdade. Eu vivi a verdade.

Já havia colocado as crianças para dormir quando ouvi o carro retornando. Já era quase meia noite, e fui até às escadas para ir de encontro a Otávio. Eu precisava falar com ele, ouvir o que ele sentia, e saber qual decisão eu devia tomar.

Quando eu estava chegando na escadaria, ouvi o começo de uma conversa que me destruiu:
- Responda: você vai ficar com ela?

Eu dei dois passos em direção às escadas. Senti lágrimas nos meus olhos quando vi Analy montada em um Otávio esparramado no sofá grande.

- Não.
- Você quer filhos dela?
- Não. Seriam bastardos ...

Eu fiquei travada na escada. O olhar de Analy me encontrou, e então eu soube que ela fez essas perguntas de propósito, para me fazer entender que eu não tinha lugar ali, além da casual amante que o conde foderia enquanto sua esposa estava fora.

Os ricos são mesmo muito cruéis ...

Eu não me movi mesmo quando eles começaram a transar, Analy raspando e resvalando para frente e para trás sobre o corpo de Otávio. Os gemidos dela eram necessários para me fazer entender a realidade. Eu demorei para alçá-la, mas agora ela estava escancarada na minha cara.

Nós havíamos feito amor de tarde. Agora, ele estava transando com a ex-mulher. Ele nem se importava com quem faria sexo, contanto que o fizesse. E eu, a idiota, acreditei que comigo era especial.

Eu não fui especial nem para meu pai, quiçá para um homem com título de nobreza.

O erotismo da cena abaixo se intensificou e os gemidos de Analy invadiram minha cabeça, me fizeram enfim recuar. Eu não era capaz de ver a bombada final, não era capaz de ouvir Otávio chegando lá. Simplesmente andei por onde vim, até conseguir chegar no quarto.

Eu só reparei que meu rosto estava totalmente molhado de lágrimas quando entrei no aposento e reparei no espelho ao lado da cama.
Só então os primeiros soluços vieram. Meu joelho dobrou e eu caí no chão.

Usada ... Como uma vagabunda ...
Mas, a verdade é que eu havia me apaixonado perdidamente. Eu o amava ... havia amado ... Não sei mais o que pensar.

Eu me abracei, tentando me confortar. Eu sou humana, afinal de contas ... Quem nunca cometeu um erro? Quem nunca se deixou levar pelos sentimentos?

Não eu ... Eu jamais me envolvi com um patrão ...
E agora eu estava perdidamente apaixonada pelo meu patrão.

O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora