Capítulo 22- Otávio

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Um ano depois...

Entro no casarão e a primeira imagem que vejo é a de Arlete, segurando uma garrafa de suco de morango, trazendo no semblante a pura indignação.

- O que aconteceu agora?
- Analy está aí. De novo.

Há um ano, quando Maria Eduarda foi embora, eu expulsei Analy da minha vida. Não exatamente no mesmo dia, ainda precisei de um tempo para ter forças de mandá-la embora, mas enfim, eu consegui.

Foi mais ou menos assim: Maria Eduarda me bloqueou uma segunda vez e, por mais que eu ligasse ou mandasse mensagens, nunca tive um retorno. Depois de quinze dias, alguém atendeu minha ligação, e descobri que ela vendeu o número e o celular para uma pessoa qualquer.

Ela cortou os laços. Aquilo me arrasou. No mesmo dia, quando cheguei em casa, dei de cara com Igor amuado em um canto.

"Eu sinto falta da Duda, pai" - ele me confessou, como se sentisse muita culpa por ter sentimentos.

Pela primeira vez na minha vida eu abracei meu filho. Disse a ele que eu também sentia falta dela. Maria Eduarda foi a responsável por quebrar essa barreira entre Igor e eu. Provavelmente, se ela nunca tivesse surgido em nossas vidas, eu passaria meus dias mantendo meu filho afastado, cobrando dele atitudes "de homem" como meu avô fez comigo, sem saber que o estaria condenando as mesmas inseguranças que me avassalavam.

As mesmas inseguranças que me fizeram recusar o amor puro daquela mulher.

-"Por que a mamãe não gosta de mim?" - ele perguntou tão logo nós desfazemos o abraço.
-"Como assim, filho? Claro que sua mãe gosta de você!".
-"Antes de ela ir embora, ela não nos queria perto. Depois que voltou, ficava insistindo para que ficássemos o tempo todo perto dela. Depois que Duda se foi, ela manda Ísis e eu nos afastarmos e a deixarmos em paz".

Foi por causa disso que eu também quebrei de uma vez aquela relação doentia.
Analy gritou, chorou, esperneou, mas ordenei a Samuel recolher suas coisas e depois Gustavo a levou embora.

-"Eu vou ficar com as crianças" ela me ameaçou.
-"Tudo bem, você quer levá-las agora?" eu perguntei, só para ver o que ela faria.

Claro que eu não entregaria meus filhos a mãe relapsa deles, mas ver como ela perdeu a pose diante da minha concordância só destacou que ela nunca se importou com os filhos, apenas pensava que poderia usá-los para me chantagear.

Então ela se foi. Para voltar várias vezes nos meses que se seguiram, a fim de visitar os filhos e tentar me seduzir de novo.

Mas, algo se quebrou em nosso casamento. Não teríamos volta.

Com toda essa tragédia, eu quase me esqueci de Maria Eduarda. Quase. Porque havia dias que eu apenas pensava que ela foi um sonho romântico bobo que passou. Mas, nas noites, enquanto deitava minha cabeça no travesseiro, eu me lembrava de como se entregava a mim com tanta paixão.

E tinha mais: nós nos tornamos amigos. Eu adorava conversar com ela nas noites que tomávamos chá de hortelã.

Mas, eu não tinha nada dela, nem mesmo uma foto. E a lembrança dela começou a se esvair na minha mente, até que decidi esquecê-la.

- Você a deixou entrar? - Perguntei a Arlete.
- Ela disse que está aqui para ver os filhos - minha governanta deu os ombros, como se não houvesse nada que ela pudesse fazer.

Acenei.

Então rumei até o quarto deles, apenas para encontrar a mulher loira de cabelos esvoaçantes sorrindo falsamente.
Analy perdeu o encanto. Para mim, ela nunca mais seria a mesma.

O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora