Capítulo 10- Otávio

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É claro que eu não precisava de uma companhia para o jantar de Bernardo. O convite veio a meus lábios de repente, durante a refeição, algo inesperado até mesmo para mim.

Talvez eu me sentisse muito sozinho. E ela estava sempre na casa, com as crianças. Foi essa justificativa que dei a Arlete, quando lhe pedi que entregasse o vestido a Maria Eduarda.

- Você precisa separar a semelhança com Analy, do fato de ela ser uma jovem disponível - Arlete aconselhou. - Não vá machucar a moça. Apesar de ela ter esse jeito espontâneo, ela não é Analy, não tem as mesmas defesas de Analy ...

Era um conselho sábio, reconhecia. Mas, quando a vi descendo as escadas, esqueci-me completamente dele.

Maria Eduarda não era Analy, mas por alguns segundos eu vi minha ex esposa. Dez anos voltaram-se a minha mente enquanto a observava no vestido claro, seus cabelos descendo em cachos por seus ombros, os olhos alegres e a beleza estonteante adornada pela roupa que caia perfeita pelo seu corpo.
Ela era linda ... toda linda ...

Meus olhos passearam por seus seios grandes, desceram até seus quadris largos.

Então, de repente, seus olhos obscureceram. Foi exatamente como no filme de minha vida. Minha belíssima esposa que eu amava mais que tudo perdendo o brilho. Com Analy levou anos, mas com Maria Eduarda aconteceu em segundos.

- Vamos? - indaguei, tentando ignorar aquela tristeza que vi nela.

Porque realmente não importava. Ela era apenas uma companhia substituta.

- Claro - ela respondeu.

*****

O jantar devia ter sido algo íntimo, apenas para alguns convidados, mas a casa de Bernardo estava cheia de gente, ao ponto de eu sequer enxergar meu amigo em algum canto.

- Ele subiu a um dos quartos com uma mulher atraente - um dos homens me contou, um sorriso malicioso nos lábios.

Isso era a cara de Bernardo! Um evento cheio de gente desconhecida, várias modelos e influenciadoras que ninguém sabia o nome, e ele deixar tudo para se esgueirar com alguma mulher enquanto negócios importantes acontecem.

Era um pouco insultante, especialmente porque havia outra classe de mulheres ali. Esposas. Não era certo ele fazer esse tipo de coisa, era uma desfeita com os investidores. Esforcei-me então numa das aptidões que mais me faltava: a social. Levei Maria Eduarda até um grupo e começamos a conversar com eles. A conversa era leve, em torno da política e economia, nunca aprofundando demais.

Ficamos assim por um bom tempo, ela foi muito educada e gentil em me acompanhar em tal coisa.

- Você quer comer alguma coisa? - perguntei a minha acompanhante quando enfim parecia que tínhamos falado com todos.
- Sim ...

Segurei sua mão e a levei até uma mesa, onde várias coisas estavam sendo servidas.

- Você conhece toda essa gente? - ela perguntou, enquanto segurava um prato.

Começamos a zanzar entre o buffet. Havia muita comida ali, de vários tipos, mas tanto Maria Eduarda quanto eu optamos por salada e carne.

- Só conheço dois ou três investidores. Os demais, só Deus sabe quem são. Bernardo faria as apresentações, mas sumiu. Se ele não fosse meu melhor gerente, estaria despedido agora.

Ela sorriu. Era fofa quando sorria.

- Ele parece ser muito corajoso em fazer isso na noite que o chefe viria a sua casa.
- Ele é maluco - eu concordei. - Mas, é um cara legal. Você vai gostar dele quando o conhecer.

O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora