Capítulo 26- Maria Eduarda

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Eu havia acabado de trocar as fraldas de Isabella e a colocado no berço para dormir, quando o som de uma batida na porta me chamou a atenção. Eu não era de receber visitas, já que meu espaço era limitado. Meu contato com meus amigos, por exemplo, eram feitos na padaria ou aos domingos, quando almoçava na casa deles.

Então arqueei as sobrancelhas um tanto curiosa. Caminhei até a porta, uma parte de mim antecipando a visão que teria.

Eu sabia que Otávio viria atrás de mim. Eu só não sabia por quê. Talvez ele pensasse que eu fosse entrar na justiça e manchasse a imagem dos Figueiredo com uma criança fora do casamento, mas eu não pretendia fazer isso. Desde que Analy me disse que ele queria que eu tirasse a criança, algo em mim se partiu.

- O que você quer? - indaguei, assim que abri a porta e me deparei com ele.

Era incrível como ainda achava que podia me manipular. Até usou a palavra "amor" naquele nosso outro encontro. Não que eu fosse acreditar nisso. Eu não era mais a garota tola que ele deixou sozinha.

- Maria Eduarda, a gente precisa conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você. - Ao contrário, nós temos muito a dizer um ao outro.

Ele avançou. Entrou no meu pequeno lar. Eu não fiz nenhum escândalo, porque não queria incomodar o sono da minha filha.

- Ok. Fale - ordenei, os braços cruzados sobre os seios.

Eu não sei como minha postura parecia, mas ele se mostrou arrasado diante de mim. Sei porque seus olhos não conseguiam esconder o que fosse que estivesse se passando com ele. Otávio deu dois passos em minha direção, e tocou meu rosto. Recuei.

- Eu nunca mandei você abortar. Eu nem sabia que estava grávida.

Imaginei que ele fosse dizer isso, então minha expressão não mudou.

- Por que sua esposa mentiria? - indaguei. - Ela sabia que eu poderia entrar com um pedido na justiça a qualquer momento.
- Analy não é minha esposa a muito tempo - ele reforçou. - E eu imagino que ela mentiu apenas para me destruir, porque ela sabia que eu jamais permitiria que uma mulher tirasse um filho meu. Esse foi o começo do fim do nosso casamento. Ela queria abortar e eu não deixei. Talvez ela só quisesse me ferir. Talvez ela só quisesse ver minha reação em descobrir que você abortou.

Podia ser. Talvez fosse. Uma parte de mim fraquejou naquele instante, então suspirei profundamente tentando ser forte.

- Provavelmente. Até acredito em você - disse, e vi o sorriso de alívio nele. Ainda assim, não amenizei. - Sua vida é uma bagunça Otávio. Eu posso permitir que você reconheça o bebê que tivemos, e até seja um pai presente. Mas, eu não vou voltar para você e para toda a situação que você vive. Não posso te aceitar sabendo que sua esposa entra na sua casa na hora que quer, que usa seu quarto ... Que transa com você.

- Analy está proibida de entrar na minha casa. Eu não posso dizer que ela vai sumir de nossas vidas porque ela é mãe de dois de meus filhos, mas eu prometo que não terei qualquer contato com ela, que toda questão entre nós será tratada por advogados. Eu juro que ela nunca mais vai voltar a pisar no Casarão. Por favor, Maria Eduarda, eu preciso de você. Ísis precisa de você. Igor precisa de você. Minha casa nunca mais foi a mesma desde que você se foi.

Eu não queria fraquejar. Eu queria ser forte e dizer não. Mas, eu estava um bagaço, meu coração moído de dor a tanto tempo, que simplesmente não consegui conter mais as lágrimas. Desviei meu olhar dele, os braços firmes em volta de mim mesma, tentando me dar qualquer força.

Dessa vez, quando Otávio deu um passo à frente, eu não recuei. Ele ergueu minha face, eu sentia meus lábios molhados pelas minhas lágrimas que caiam sem controle. Então, ele baixou o rosto e beijou cada uma delas. Mais uma vez, meu coração acelerou diante da lembrança do calor que ele emanava.

Eu não faço ideia se isso vai dar certo. Até porque eu só queria odiá-lo com todo meu coração e nunca mais permitir que ele invadisse minha alma, mas quando Otávio me beijou, eu soube que o havia perdoado.

*****

- Oh meu Deus ... Ela é a cara de Ísis quando nasceu - ele sorriu, segurando Isabella nos braços.

Eu não sei o que sentir diante dessa visão. Sempre pensei que se ele quisesse ver a filha, eu permitiria apenas por uma questão legal. Mas, agora, eu mesma estava colocando Isabella nos braços dele, transbordando de felicidade em saber que ela teria pai.

- Mas ela tem o temperamento calmo de Igor.

Ele ergueu os olhos para mim.

- Igor está mais apático e silencioso desde que você se foi. Eu tento me aproximar dele, mas é como se ele ... eu não sei ... É como se ele estivesse em depressão.
- Você procurou um médico?
- Não - admitiu. - Eu francamente não sei como fazer isso. Não sei como reagir ao meu filho. Ele é uma criança, e seus problemas hoje são por minha culpa. Ele devia ser feliz e brincalhão, mas eu apaguei toda alegria nele.

Levei minha mão até a de Otávio. A apertei.

- Tudo bem, Otávio. Eu vou voltar para casa - disse. - Eu cuido dele.

Ele suspirou de alívio. E uma parte de mim também estava tão aliviada. Eu sentia tanta falta de Igor, eu sabia que podia ajudá-lo a superar toda adversidade . Simplesmente porque eu o amava demais, e ele confiava em mim.

Você vai voltar para mim? - Otávio indagou.
- Eu não sei ...

Estava sendo sincera. Eu o amava, eu o perdoava, mas ainda não sabia se confiava nele o suficiente para ficar com ele.

- Tudo bem, Maria Eduarda. Se você voltar para casa com nossa filha, eu já estou feliz. Eu sei que posso e vou te reconquistar.

Não sabia se ele cumpriria a promessa, mas estava disposta a tentar descobrir.

O filho que você não quisOnde histórias criam vida. Descubra agora