O Nascer de um Vilão

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Matthew On

– Querida, como você está? — Digo apressadamente, depois que entramos dentro do jato. Qualquer palavra será um erro e erros não serão tolerados num momento tão crucial... Jasper está na palma da minha mão.

– Eu... Eu estou bem, amor. Apenas, cansada... Pensei que seria diferente. — O olhar decepcionado em seu rosto, me faz pegar suas mãos, fazendo com que olhe diretamente para mim.

– Ei, minha linda jóia rara. Está tudo bem, ele estava tentando fazer sua cabeça... Não pense muito nisso. Okay? — Acaricio seu rosto macio, minha pequena boneca de porcelana.

– Senhor, daqui a algumas horas estaremos na Califórnia. — A aeromoça diz, entregando um par de travesseiros, entrego para Arteise, que se ajeita em seu assento.

– Certo, logo, logo, estaremos em casa, meu bem. — Me levanto do assento, e vou em direção à cabine do piloto.

– Lembre-se, devemos pousar sem sermos captados pelas torres de comando. Não quero que ninguém nos encontre.

– Sim, senhor.

– Dessa vez, não permitirei erros.

Por que? Não seja rude! Se não fosse por aquele estrume, eu não precisaria fazer tudo isso. Era pra ser diferente, não queria machucar ninguém, mas já que precisavam de um vilão... Que assim seja!

Não me culparei por nada, ela sempre foi minha! Ela me disse isso, dizia todos os dias, todas as noites. Mas aí, aquela vadia desgraçada da Megan, inventou que eu estava apenas usando ela, disse que eu dava em cima de outras garotas, que eu não prestava e isso chegou aos ouvidos do irmão dela...

Ele nunca foi com a minha cara, depois dessas mentiras, aí que não me aceitou mesmo. Mas agora, aquela otária vai ter o que merece, se querem culpar alguém, culpem a Megan.

Ah, você não sabia? Megan sempre foi apaixonada por mim, mas eu nunca liguei pra ela, eu só pensava na Arteise. Ela tentou me seduzir, tentou fazer com que dormíssemos juntos, mas eu a rejeitei e meu melhor amigo fez com que a escola inteira soubesse disso.

Arteise ficou insegura, e eu fiz de tudo para que ela confiasse em mim. Mal notei quando Megan começou a usar meu melhor amigo para nos afastar, mas aí, uma garota nova entrou na escola, Sophie.

Pensei que com Jasper babando pela novata poderia fazer com que Arteise soubesse que eu a amava mais do que tudo, fiz uma surpresa para ela, íamos jantar a luz do luar, sob as estrelas. Mas então, do nada ele apareceu, segurando uma faca, estava obviamente embriagado.

Sim, meu amigo bebia, eu também, mas estava tentando parar.
Ele estava louco, furioso, tentou atacar ela, mas entrei em sua frente, discutimos, ele estava tão bêbado que mal sabia como reagir.

Partimos para cima um do outro, e ele acertou meu rosto, me deixando com essa cicatriz, a marca do meu nascimento, como os outros diziam, eu apenas o nocauteei, não ia mata lo, mas foi pior.

Os pais dele me culpavam por aquilo, ninguém me ouvia, a polícia me chamava de psicopata, os meus "amigos" tinham medo de mim, a diretora fez um pedido para que eu fosse expulso. Eu nunca menti, mas mesmo dizendo a verdade, ninguém confiava mais em mim.

A  verdade parecia irrelevante. Ninguém se importava em ouvir o meu lado. Olhares de desdém me seguiam pelos corredores, como se eu carregasse uma etiqueta de vilão costurada na pele. A única coisa que restou foi a solidão.

Voltei para casa com a cabeça cheia de pensamentos tortuosos. Arteise? Onde ela estava agora? O que Megan havia feito com a nossa história? As memórias de risadas e segredos se transformaram em ecos distantes. Fui para o meu quarto, joguei-me na cama e encarei o teto, pensando em tudo o que havia acontecido. A cicatriz ainda ardia, não só na pele, mas na alma.

As semanas se arrastaram. A escola virou um campo de batalha emocional. As conversas se calavam quando eu entrava, como se eu fosse um espectro que perturbava a paz de todos. E mesmo assim, a ideia de enfrentar Megan nunca deixou minha mente. Ela havia causado tudo isso, e eu tinha que fazer algo a respeito.

Numa manhã cinzenta, enquanto caminhava pela escola, vi Jasper. Ele estava rodeado de amigos, rindo, como se nada tivesse acontecido. Fui tomado por uma onda de raiva. Ele tinha tirado Arteise de mim, e agora estava lá, se divertindo, como se eu fosse o único que tivesse perdido tudo. A dor da traição queimava em meu peito.

Entrei no refeitório e a sensação de estar cercado por aqueles que uma vez considerara amigos era sufocante. Mas o olhar de Arteise não estava mais ali para me dar conforto. A única coisa que eu via era a sombra da dúvida nos olhos dela, plantada por Megan.

Decidi que precisava confrontar Megan, a encontrei na cantina, cercada de admiradores que pareciam hipnotizados por suas mentiras. Fui até ela, meu coração batendo forte.

– Precisamos conversar. — disse, tentando manter a calma, apesar da tempestade que se formava dentro de mim.

Ela virou a cabeça, com um sorriso debochado nos lábios.

– Ah, olha quem resolveu aparecer. O mal encarnado. O que você quer? Desculpas? — Sua voz era veneno.

– Não quero nada de você. Quero que você pare de mentir. Você destruiu tudo o que eu tinha. — respondi, sentindo a fúria crescer.

Os sussurros ao nosso redor aumentaram, e percebi que todos estavam prestando atenção.

– Destrui? — Ela riu, um riso que ecoava como uma lâmina afiada. — Você sempre foi um brinquedo, e agora está quebrado. Não pode me culpar por ser tão frágil.

Aquelas palavras foram como um tapa. O mundo ao meu redor pareceu girar.

– Não sou frágil — retruquei, a voz tremendo. — Arteise é minha e sempre será. Você vai se arrepender de ter feito isso.

Megan inclinou a cabeça, desafiadora.

– Então faça algo a respeito. Mas saiba, todos estão assistindo. Se você falhar, vai ser o vilão que todos esperavam que você fosse.

Aquilo ressoou em mim como um sino. Eu estava cercado. E, de repente, percebi que não tinha escolha. Se queriam um vilão, eu daria o que esperavam. Mas também mostraria a todos que eu não era só um monstro. Eu tinha a verdade ao meu lado, e isso, de alguma forma, ainda era meu poder.

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