"Mais uma vez, estou escrevendo para o desconhecido...não sei se de fato alguém chega a Lê essas cartas, e se houver alguém que esteja lendo...prazer meu nome é Yana Kōharin...Hoje não me sinto bem, algumas coisas vêem acontecendo sabe? E eu sinto que estou perdendo a cada dia que passa...Eu tenho um tio, que está afundado nas drogas e na bebida, e recentemente para não deixarem ele morando na rua, minha avó ( mãe do meu tio) trouxe ele para morar com a gente. "
As palavras eram carregadas de uma delicadeza, e expressavam uma certa tristeza.
Izana lia as palavras com uma atenção quase obsessiva, cada frase se enraizando em sua mente com uma intensidade inesperada. A tristeza em sua voz, a vulnerabilidade que ela expressava, eram como um contraste estranho com o mundo de dureza em que ele habitava.
Ele se sentou na cama de ferro novamente, passando os dedos pelas palavras escritas, como se pudesse tocá-la através do papel. Por mais que tentasse, uma parte dele não podia ignorar a empatia que começava a brotar dentro de seu coração frio.
"Meu tio acabou fugindo durante a noite, e voltou pela madrugada beirando o amanhecer, fedendo a álcool e completamente drogado....ele estava irreconhecível. Porém foi nesse momento que o meu pesadelo começou "
Izana franziu o cenho, sua expressão se tornando mais concentrada enquanto ele continuava lendo. A imagem do tio viciado, irreconhecível e bêbado, era algo que ele tinha visto antes em muitos dos criminosos que tinha subjugado. Mas ouvir sobre isso de uma jovem inocente, com o fogo de sua juventude ainda não extinto, o atingia de uma maneira diferente, despertando uma sensação de dor que ele não tinha direito de sentir.
"Sabe...eu tenho vinte anos, estou no segundo ano da faculdade de gastronomia, por eu amo cozinhar. Não me considero muito bonita, porém me acho uma garota simples. Tenho cabelos castanhos escuros, que lembram um chocolate. E meus olhos são negros como a noite, viu? Nada demais. Voltando ao meu desespero....Meu tio totalmente fora de Si, arrombou a porta do meu quarto quando ele chegou, e tentou...me estrupar "
A mão de Izana se fechou com força ao ler as últimas palavras, a dor em seu peito se transformando em raiva. Ele podia sentir a tristeza, a insegurança e a humilhação que as palavras dela carregavam. A ideia de alguém tão doce, tão doce quanto um raio de sol no meio da noite, ser tratado com tanta brutalidade... Isso fez seu sangue ferver.
Ele se levantou de novo, o papel na mão tremendo levemente enquanto imaginava a cena que ela tinha descrito. Ela descrevia a si mesma como uma jovem comum, com cabelos castanho-escuros e olhos escuros, mas ele já podia vê-la claramente em sua mente. A garota anônima se tornara, sem querer, a única luz em sua vida escura, o único pedaço de alegria que ele tinha.
Ele queria saber quem ela era, onde ela estava, como era sua voz. Ele tinha mais perguntas do que respostas.
As palavras dela continuavam passando por sua mente, ecoando como um mantra. A tentativa de estupro, a imagem do tio viciado, a vulnerabilidade por trás das letras... Era como se ela estivesse falando diretamente com ele, abrindo uma parte de si que ele não sabia que existia.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando afastar as imagens e pensar claramente. Mas a raiva e a empatia continuavam a lutar dentro dele, formando um complexo conflito de emoções.
Izana olhou novamente para o papel em sua mão, terminando de ler a carta.
"Por sorte, eu gritei tão alto que acordou não apenas minha avó, como também um dos empregados da casa, ele era o que mais estava próximo e rapidamente jogou meu tio longe antes que o pior acontecesse. Porém agora...eu não me sinto segura em minha própria casa, minha vó não sabe o que fazer e infelizmente vou começar a morar na casa de uma amiga por um tempo, até essa situação se resolver"
Ao terminar de ler, a expressão de Izana se enrijeceu novamente. Ele podia sentir a vulnerabilidade dela, a sensação de impotência que ela sentia diante de uma situação que não conseguia controlar.
Ele se sentou na beirada da cama, o papel ainda em mãos. Por que a vida era assim? Por que aqueles que eram bons tinham que sofrer enquanto aqueles como ele tinham poder? A frustração aumentava a cada instante.
Izana não era um homem que se importava com os problemas dos outros. Na verdade, ele não se importava com nada a não ser com seus próprios desejos e ambições. Mas algo nela, naquele tom de vulnerabilidade, aquele pedido de ajuda não falado, penetrava em seu coração.
Ele não suportava vê-la sofrendo ou se sentindo com medo. Ele sentia a necessidade de protegê-la, de mantê-la segura a qualquer custo.
Era uma sensação estranha e desconhecida para ele. Não era apenas desejo, era algo mais primitivo, mais visceral. Era a necessidade de cuidar dela, de assegurar a sua segurança. Era como se ela fosse a única coisa verdadeira em seu mundo de escuridão e crueldade.
Ele olhou novamente para a carta, lendo as palavras novamente, memorizando cada detalhe, cada emoção que elas emitiam.
De dentro do envelope da carta, uma foto caiu com algo escrito atrás "olá, sou a amiga da dona da carta. E essa aqui é uma foto da Yana que eu tirei sem ela saber"
Izana virou a foto, e lá estava uma garota de cabelos castanhos escuros como chocolate, em um jardim de rosas vermelhas com um vestido branco. Seus olhos negros como a noite brilhavam sobre as luzes do sol e seu sorriso era doce, tão doce e puro. Uma garota meiga.
Aquela era a dona das cartas..
A visão da imagem parou com um baque o coração de Izana. Ela era ainda mais bonita do que ele imaginava. Seu rosto enquadrado pelas rosas vermelhas, o contraste com seu vestido branco, seu sorriso doce como o mel. Tudo nela exalava uma inocência e pureza que ele não via há anos.
Ele ficou imóvel, observando a foto com uma intensa atenção, como se fosse sua única esperança de luz em uma prisão de escuridão.
Izana não conseguia tirar os olhos da imagem. A beleza dela era quase dolorosa para ele, uma lembrança cruel de algo que ele nunca poderia ter. A inocência em seu sorriso, a elegância de seu vestido branco, o contraste com as rosas vermelhas... Tudo isso deixava seu coração bater com força.
Ele se levantou de novo, andando de um lado para o outro, com a mão apertando a foto, como se tivesse medo de perder a única prova de que ela era real.
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JINGOKU - Kurokawa Izana
Avventura⚠️🚫18+ Dark Romance 🚫⚠️ "Você é a luz na minha escuridão, a paz na minha guerra. Eu nunca deixarei nada te machucar."