Randall

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EuroDisney, França

10 de fevereiro

7h02min

No corredor repleto de pôsteres coloridos do antigo Mikey Mouse, um homem ao estilo Steve Jobs, camisa social, calça jeans e tênis, andou apressadamente. Ele endireitou o colarinho e mal olhou os desenhos emoldurados na parede de carpete com inúmeros bordados dos personagens da Disney.

Jeff Randall trabalhava há mais de dez anos na área de engenharia de segurança de parques temáticos. Seu conhecimento em mobilidade robótica de brinquedos e softwares que davam vida eletrônica a um parque de diversões era vasto. Toda a experiência que adquiriu por tempo de serviço começou ainda jovem. Manteve por mais de quatro anos a ordem do maior parque temático do mundo, a Disney de Orlando.

Dois anos depois, a proposta dos chefões era que se mudasse para a Europa. A demanda de turistas para a EuroDisney era cada vez maior, foi o que disseram, e precisavam de alguém no controle. Randall teve de se adequar ao modo de vida europeu em pouco tempo, mas, antes disto, ganhou fama como consultor de parques temáticos de menor porte, incluindo o início do Universal World. Os chefões do Mickey Mouse não encaravam a prática com bons olhos, mas Randall nunca assinou qualquer acordo de exclusividade. Era livre como consultor. Percebeu a estratégia da empresa quando quiseram enviá-lo para mais longe. Nunca propuseram a ele um contrato exclusivo. Talvez pelo pagamento triplicar de valor.

Dentro de sua sala, observou os monitores com gráficos e filmagens de turistas. Cinco técnicos trabalhavam com ele, controlando as imagens através de consoles sobre suas mesas individuais.

Randall era um homem ocupado. Mostrava-se alegre ao cruzar com qualquer funcionário da empresa, sempre disposto, mas agitado. Era elegante, cabeça desprovida de fios, rosto bonito e anguloso, olhos azulados. Saiu outra vez da sala para tomar um café e acenou para a secretária, uma mulher muito atraente. Pensou em como a Disney se importava em contratar gente de boa aparência.

– Bom dia, Sr. Randall – ela disse solicitamente, sempre com um sorriso autêntico no rosto. Ordens da empresa.

– Como vai, Kate? Algum telefonema do pessoal da Pixar? – Randall perguntou.

– Ainda não, mas tenho um recado. Um homem chamado Chang pediu para marcar uma hora com o senhor. Vai poder atendê-lo?

– Chang? – repetiu, estranhando. Há mais de um ano ninguém de fora da empresa o procurava no trabalho. – Que horas sugeriu a ele?

– Bem, na verdade – Kate disse sem jeito –, ele está esperando o senhor na sala de reuniões. Pedi a ele que aguardasse lá. Insistiu muito. Disse que é urgente e não adiaria.

Randall franziu a testa.

– Quem é ele?

– Não sei dizer. Disse que precisa falar com o senhor sobre uma possível consultoria e que necessita da sua opinião urgentemente.

Mais um parque, Randall pensou. O último, na Alemanha, fora um fiasco.

– Você ficou de olho nele? Não é nenhum vendedor de livros? – Randall brincou.

– Não. Aliás, é um oriental muito simpático – ela sorriu.

– Suspeitei pelo nome – ele disse, depois ergueu o indicador. – Escute. Talvez o pessoal da Pixar apareça por aqui. Há um novo projeto com personagens gigantes do Toy Story. Caso cheguem, pode interromper, entendeu?

– Ok – ela assentiu.

– Eles são mais importantes e preciso de tempo para a reunião – Randall balançou a cabeça como se tentasse lembrar de outra coisa. – Qual é o nome do homem?

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