Penhasco

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Ilha da Trindade

10 de fevereiro

12h05min


Éder despertou de um sono curto, as costas doíam apoiadas na rocha escarpada. Um sujeito agarrou seu braço e gritou seu nome ao virar cabeça para ele. Parecia familiar. Demorou quase um minuto para reconhecer Alex.

– Está bem, garoto? Você desmaiou. – disse, enganchado a ele.

– Só minhas costas que doem. – dobrou o pescoço para cima e viu o paraquedas rasgado. Foi aí que percebeu onde estava. – Droga!

As cordas haviam se enrolado na ponta de um penhasco. Abaixo dele, um abismo. Ele começou a suar, controlando o desespero.

– Chegamos vivos na ilha. – Alex ironizou. – So não estamos no lugar mais adequado.

Uma das cordas do paraquedas partiu como o fio de um violão.

– Que merda! – Éder xingou.

– Não se mexa muito. – Alex pediu e o vento forte da ilha empurrou o corpo deles contra a amurada de rocha. – Já percebi que não adiantar muito. Vamos tentar passar para o outro lado, usando as cordas do paraquedas.

– Não sabemos o que há no outro lado. – Éder disse, receoso. Evitou pensar no arrependimento que sentia. Podiam ter morrido na queda. – Espero que não seja mais um abismo.

– É o plano mais prudente. Alguma ideia? – Alex falou aborrecido. – Me desenganche, por favor.

Alex se agarrou às cordas.

– Aguentam até 300 quilos. – Éder o soltou, surpreso com a coragem do professor.

Vários fios se esgaçaram, mas não quebraram. O peso dele ao subir, fez o paraquedas ceder. Alex apoiou os pés entres os sulcos da rocha e depois sobre os ombros de Éder que reclamou de dor.

– Aguente! – Alex ordenou.

– Está se vingando? – Éder quis saber.

– Estou. – o professor respondeu.

Ao chegar na extremidade da rocha, ouviu o professor exclamar:

Uau! Você precisa ver isso. – comentou. – Dá pra andar aqui em cima.

Éder usou toda a força dos braços para subir. Evitou olhar para baixo. Perto da ponta do penhasco, Alex o ajudou a se equilibrar. Ele esticou o pescoço para ver depressa o outro lado, sua curiosidade o consumia.

A visão o surpreendeu de imediato. A uma distância de novecentos metros, havia uma estrutura gigantesca e esférica que brilhava ao sol, feita de placas hexagonais espelhadas que reagiam à luz, mudando para um tom escuro, à medida que a intensidade dos raios aumentava. Era um conjunto de estufas reunidas, algumas maiores que as outras. Prédios brancos e convexos acresciam o complexo arquitetônico hi-tech.

– É bem maior que as estufas da Cornuália, no Reino Unido. – Alex informou.

– Você já foi lá? – Éder perguntou.

– Sim. – ele respondeu admirado. – Creio que estamos diante da maior e mais moderna estufa do mundo. Mas não faz sentido ter outro projeto semelhante aquele.

O projeto da Cornuália era uma coleção de espécies inseridas em estufas enormes que imitavam biomas vegetais de várias partes do planeta em um ambiente controlado. Através de computadores, podiam regular a umidade do ar, a temperatura e os nutrientes.

– Então que diabos tem ali dentro? – Éder questionou

– Não tenho certeza. – Alex respondeu, os olhos vidrados na descoberta.

– Parece que saiu de um filme do Guerra nas Estrelas. Me sinto em outro planeta. Qual será a distância até lá? – Éder perguntou.

– Talvez um quilômetro. 

– Construíram acima de um platô. – Éder apontou, depois andou até a margem da rocha e olhou para baixo. Havia um declive acentuado. – Não é um abismo, mas é muito íngreme.

– Calculo cinco ou seis metros até o solo. – Alex completou. – Podemos escalar usando as cordas do paraquedas mais um vez. Elas têm quanto de comprimento?

– Uns quatro metros.

– Vamos ter que acampar por ali, se o vento não conseguir nos derrubar. – o professor ponderou. – Depois, seguimos viagem. A caminhada não será muito longa até lá.

– Não sabemos se permitirão nossa entrada. – Éder supôs.

Os dois se viraram para puxar juntos as cordas do paraquedas.

– É a ilha mais distante da Costa Brasileira e ninguém vai me impedir de entrar naquele lugar. – falou decidido.

Os dois silenciaram para contemplar as belezas naturais da ilha, com paredões escarpados enormes, penhascos de rochas piroclásticas que assustavam pela magnitude, ambos com pouca ou nenhuma vegetação. O pico mais alto da ilha tinha seiscentos metros de altura.

Dezenas de aves marinhas planavam na encosta. Era possível ver o mar um pouco além, acompanhado do bramido das ondas.

– Trindade é uma ilha com quase 10 km quadrados. – Alex começou. – Foi erguida há 3 milhões de anos da zona abissal do atlântico por vulcanismo básico e misto. Do outro lado, a leste – ele apontou – a Marinha brasileira mantém um Posto Oceanográfico com uma Estação Meteorológica. Aquela ilhota ali é Martin Vaz. Este é ponto mais oriental do Brasil. Onde o sol chega primeiro.

– Você ja visitou esta ilha? – Éder perguntou com curiosidade.

– Nunca. – Alex sorriu. – Pesquisei na internet.

Os dois gargalharam. Aí voltaram a observar a estrutura diante deles.

– Isto me fez pensar por que motivo escolheram o lugar para uma projeção tão magnífica como esta. – Alex comentou. – Há engenharia de ponta aqui.

– Por que acha isso? – Éder perguntou.

– Não acho, tenho certeza. Nenhuma área complexa como esta envolveria apenas engenheiros brasileiros. – Alex avaliou. – O governo de outro país está envolvido nisso. Este lugar envolve acordos internacionais, esteja certo. – fez um pausa. – Apesar de não ser uma unidade ambiental, como em Noronha, nada aqui deveria ser construído sem prévio levantamento geológico e ambiental. Será que calcularam tais impactos?

– Tenho certeza que não. – Éder disse. – Mas de alguma forma estou convencido de que fabricam experimentos obscuros ali dentro.

– E isto me traz uma sensação de perigo e morte. – Alex comentou, o tom de voz temeroso.

O sol ainda estava a pino quando foram surpreendidos pela rajada de vento. Os dois recomeçaram a jornada e usaram as cordas para descer a elevação rumo à descoberta.

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