Hotel Praieiro, Ceará
09 de fevereiro
14h12min
No quarto, contemplando a praia da janela, Rosa tentou organizar a mente, deixando de lado a vontade de aproveitar o dia. Era criteriosa ao investigar: primeiro, observava os padrões e indícios; depois, estreitava conexões entre supostas evidências e descartava o que não era necessário para uma conclusão.
Andou pelo recinto. A cabeça de Rosa fervilhava de ideias; todavia seu instinto materno se preocupava com a criança no hospital público mal equipado. Se Adam chegasse à óbito, a notícia repercutiria de maneira negativa e muito rápida na mídia. Sentiu-se egoísta por pensar assim, mas receou que autoridades americanas cobrassem uma investigação para explicar o incidente, além da solução para a toxina necrosante. Estava quase certa de que isso acarretaria problemas diplomáticos entre os países. Preferiu encontrar vias de reparação.
Fez ligações importantes. Seu plano era que um helicóptero levasse Adam ate à capital, e então embarcasse no jato do Consulado americano, saindo do aeroporto de Fortaleza até São Paulo, para ser atendido no Hospital Sírio-Libanês.
Jogou o aparelho celular sobre a cama. Ele tocou segundos depois; na tela, um número desconhecido. Rosa atendeu e esperou alguém do outro lado da linha falar. Ao fundo, o barulho do mar misturado ao vento e som de crianças brincando chamou sua atenção. Visualizou a cena na mente e andou até a janela do quarto. De repente, o coração vibrou, assustado. Reconheceu o som que vinha do lado de fora. Ela procurou alguém na praia, com um celular ao ouvido.
− Não tenha medo − uma voz masculina e madura começou a falar. − Me chame de Alfa. Não precisa dizer seu nome, não me importa, o meu também não é esse. Está olhando pela janela?
− Estou − Rosa disse, insistindo em procurá-lo com os olhos. Uma figura alta de cabelos grisalhos à beira da praia molhava as pontas dos pés, a quase cem metros do hotel, e carregava um objeto na mão, junto à orelha direita.
− Roriz me disse que podia precisar de ajuda sobre o protocolo 77. Eu fui o relator deste processo. Hoje, estou aposentado. Moro por estas bandas há cinco anos.
Rosa achou que podia confiar nele, já que sabia acerca do protocolo, mesmo assim o testou.
− Precisa que eu diga o número de todo o processo que tem em mãos?
− É melhor. – ela conformou.
O homem mencionou os números.
– Você sabe o que aconteceu recentemente? – Rosa perguntou.
− O incidente com o menino americano? Sim. Que procedimentos tomou para socorrê-lo?
− Outro agente se prontificou em conduzir a operação para retirar o menino daqui.
− Muito bem. Dividir a carga no serviço pode ajudar você a pensar melhor. Roriz reclama que você tenta fazer tudo sozinha.
Rosa sorriu em silêncio.
− Estou cheia de dúvidas.
− Aposto que está. Contudo, confie em você. Roriz a recomendou porque acredita no que faz− ouvir a experiência de um agente mais velho era sempre proveitoso.
O homem lá fora andou, as calças dobradas na altura do tornozelo, enquanto a água do mar respigava nele. Rosa não tirou os olhos da janela, interessada.
− Por que o escolheram para o protocolo 77? Algum motivo especial?
− Nenhum motivo especial. Começamos a suspeitar do envolvimento da Biotech quando nossa Presidenta solicitou, em segredo, uma investigação acerca desta empresa. É papel da ABIN descobrir, a pedido do Chefe Maior, qualquer suspeita que acarrete danos ao país, você conhece os trâmites. Mas este caso envolve uma série de patentes brasileiras, patrocinadas pela iniciativa privada chinesa. Acontece que alguém denunciou os contratos sigilosos e desvios de conduta dentro da Biotech.
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UNICELULAR
Ciencia FicciónDisponível nas grandes livrarias! ROSA ViLLAR, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o envenenamento do filho de uma influente jornalista americana que estava de férias, numa das belas praia do Brasil. O que Rosa não imaginava é que...