Vale do Silício, Califórnia
09 de fevereiro
9h45min
A luz matinal atravessou o vidro da janela e bateu no rosto de Max Carter, presidente e sócio da HardCom – Hardware Company, empresa que produzia baterias para computadores portáteis e celulares.
Que calor dos infernos! Achou que iria derreter. Estava tão quente que os condicionares de ar não davam conta. Max suspeitava que sua pressão estivesse alta. Puro nervosismo.
Enxugou as têmporas suadas com as mãos enquanto se preparava, ansioso, para a reunião com todos os diretores administrativos e investidores. Mostraria a eles um novo protótipo, no intento de convencer os dois últimos grupos de que o retorno seria milionário assim que chegasse ao mercado. Tomou a iniciativa por reprovar a ideia da HardCom ser declarada uma empresa de capital aberto, a consenso da maioria dos acionistas. Isto significava que as ações poderiam ser compradas, principalmente à beira da falência. Era o caso da HardCom.
Carter detinha apenas 35% das ações. Junto ao seu irmão, Dilan, totalizavam 50% de tudo. O irmão, um playboy idiota, tendia à ideia desvairada dos acionistas minoritários. Não pensava no nome da empresa, construída há anos por ele, apenas no lucro. Carter fechou a persiana com raiva, soltando um palavrão. Sentou-se à mesa de granito, tentando esconder a agitação. A boca estava seca.
– Cadê a água que pedi, garota lerda?! – gritou com a secretária.
A moça correu, pôs a bandeja com os copos e a jarra sobre a mesa. Carter pegou a água e bebeu quase meio litro, esperando que o calor passasse enquanto aguardava todo o pessoal chegar.
Aos 43 anos, Carter, um texano magro e alto de temperamento explosivo, fizera fortuna no ramo da produção de baterias para computadores portáteis. Lembrou-se da última reunião, quando outros acionistas sinalizaram aceitar a proposta da Big Blue, também conhecida como IBM, a primeira interessada em comprar ações da HardCom. Carter ficou furioso com a possibilidade, jogando contra a parede o cinzeiro de cristal. Rememorou seu último discurso acalorado:
– Vão pro inferno, seus merdas! Sempre busquei independência para esta companhia. Eu criei a HardCom – disse, batendo no próprio peito. – Esta empresa funciona na maior região de tecnologia do mundo! Não foi fácil competir com gigantes como Apple, HP, Symantec. Conhecem minha batalha! A fábrica no Brasil está para abrir e não vou desistir disto. Seus espúrios de merda!
– Sr. Carter – disse um dos acionistas. – Rumores surgiram sobre uma bateria de tecnologia mais avançada para computadores, muito melhor do que aquelas que produzimos. Não descarte a possibilidade da venda da HardCom ser iminente. A IBM pode nos salvar.
– Que rumores? – Carter girou na cadeira, encarando os outros. – Você sabe de alguma coisa, Dilan? – o irmão negou com a cabeça, abaixado-a em seguida. O desgraçado sabia de algo. – Inferno! Alguém está me escondendo alguma coisa? – perguntou, furioso.
Os acionistas deram a desculpa de que a HardCom investia pouco em inovações tecnológicas com vistas para um mercado mais competitivo. Carter não caiu naquela conversa. Havia algo obscuro e ele sempre era o último a saber. Precisava reverter aquilo. Dera todo seu sangue pela HardCom; seu orgulho não o deixava esquecer.
De repente, o grupo chegou. Um a um, sentaram-se em suas cadeiras. Carter observou todos eles. Uma cena patética: mexiam em seus papéis sobre a mesa, ensaiando competência e interesse. Puro teatro.
Todos uns bastardos imbecis!
Planejou sua fala por duas semanas, especializando-se nos desenhos do novo protótipo construído junto com a equipe de inovação da HardCom. Preparou um discurso polido. Precisava ser menos agressivo que de costume. Muitos na empresa não gostavam de seu linguajar e todos os investidores iriam participar da reunião.
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UNICELULAR
Science FictionDisponível nas grandes livrarias! ROSA ViLLAR, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o envenenamento do filho de uma influente jornalista americana que estava de férias, numa das belas praia do Brasil. O que Rosa não imaginava é que...