Fernando de Noronha, Pernambuco
10 de fevereiro
07h03min
Assim que o avião Embraer E-195 pousou no único e pequeno aeroporto da ilha principal, desligou os motores e abriu sua portinhola. A aeromoça, vestida em azul com lenço amarrado ao pescoço, dispensou os turistas embasbacados com a beleza do lugar que desceram as escadas para o desembarque. Muitos deles tiravam fotos ininterruptas enquanto desciam.
Um dos turistas se destacava dos outros. Era um homem bonito de cabelos grisalhos, em boa forma, vestia bermuda e camisa polo, como se fosse para um safari, óculos escuros no rosto. Bocejou ao descer da aeronave. Resmungou um palavrão. Carregava uma pequena mala com roupas suficientes para uma pessoa.
Do lado de fora, um rapaz de camisa branca bordada no peito a palavra IBAMA se aproximou dele antes que o homem austero entrasse no saguão para pagar as taxas de acesso ao arquipélago.
– Senhor ministro, bom dia. Um jipe nos aguarda logo ali – o rapaz apontou para além das grades que delimitavam o estacionamento do aeroporto.
– Eu espero que me recebam com um bom café. Estou morto de fome – o ministro falou.
Cruzaram o portão direto até o jipe. Quando entraram no veículo, o rapaz ligou o motor, deu partida e perguntou:
– Fez uma boa viagem?
– Poupe-me de perguntas. Fico aborrecido quando durmo mal. Pretendo voltar ainda hoje, no voo da tarde – o ministro reclamou, sem notar a careta do rapaz após sua resposta.
O jipe percorreu a estrada BR-363. Localizava-se bem no meio da ilha. Era difícil ver o mar dali. A área urbanizada da ilha era um conjunto de vilarejos com prédios e casas simples. O ministro teve a impressão de que Noronha era organizada. Menos de um minuto depois, contudo, deixou de lado a ideia. A estrada se transformou em um atoleiro. O balanço do veículo o irritou ainda mais. O jipe parou de repente.
A clareira revelou, a poucos metros, um prédio bem planejado com portas de vidro e um pequeno estacionamento à frente; um dos Centros de Controle de Visitantes, chamado de Pic Golfinho Sancho, com acesso a uma das dez praias mais bonitas do mundo, a praia do Sancho.
O ministro pensou que o jipe fosse parar ali, porém arrancou e continuou o percurso. Uma placa dizia:
Trilha do Capim-Açu.
Entrada autorizada somente com guia credenciado pelo IBAMA
Mais abaixo, um letreiro menor explicava as penalidades legais caso alguém adentrasse sem permissão.
A mata densa se fechou ao redor deles. O ministro, impaciente, não notou os pássaros pipilando nas copas das palmeiras, muito menos o som do mar à sua direita.
O jipe virou numa bifurcação e ali parou. Um portão, tomado por trepadeiras, bloqueava a estradinha. Uma placa escondida na mata dizia:
ÁREA RESTRITA
(Somente Pessoal Autorizado)
– Vocês são ótimos – o ministro desdenhou. – Disfarçaram até a entrada com a vegetação do lugar. Chang está de parabéns. Tudo para não chamar atenção, como sempre quis – dois seguranças com emblema da Biotech abriram os portões pelo lado de dentro. – Só não entendo por que estão fardados com o nome da empresa se não querem destaque – ele riu.
Ao passarem pelo portão, notou o ambiente arborizado com muitas espécies de gramíneas no chão e jardins planejados. Lembrou-lhe um parque ecológico, a não ser pelo contraste da arquitetura moderna de três prédios arredondados e vitrificados, semelhantes à células enormes.

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UNICELULAR
Fiksi IlmiahDisponível nas grandes livrarias! ROSA ViLLAR, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o envenenamento do filho de uma influente jornalista americana que estava de férias, numa das belas praia do Brasil. O que Rosa não imaginava é que...