Sala de Controle
10 de fevereiro
16h20min
Randall seguiu cauteloso a dez metros do casal. Minutos antes, precisou se livrar de Bouvier. Há quase um ano, os dois se desentenderam por causa dos acessos de ciúme dela, o que arruinou a relação. A indicação de Randall a Chang daria a ela a chance de reaproximação do dois. Randall conhecia as intenções da ex-namorada. A mulher era pegajosa.
Ele refez o caminho que o grupo utilizou para o refeitório. O casal entrou em um corredor tubular de acrílico. Seguiu por outro corredor iluminado, com câmeras a cada três metros. Desceu uma escada de vidro e aço polido. A pouco mais de cinco metros, Ellen levou algo ao ouvido esquerdo; Randall não pôde definir o que era.
Continuou a passos lentos e observou a sofisticação do ambiente, com ares de laboratório moderno. Passou por funcionários fardados com o símbolo da Biotech no peito, que acenaram para ele. Randall disfarçou um sorriso e continuou.
Depois das escadas, chegou a um jardim, uma pequena área banhada pela luz do dia. Naquele ponto, percebeu a base de concreto de uma estufa enorme, tão alta quanto um edifício de dez andares. Por trás das placas de acrílico, viu mais organismos indefinidos, da altura de grandes árvores retorcidas e curvas.
O casal prosseguiu. Wankler virou a cabeça. Randall se escondeu a tempo, atrás de uma coluna de cimento e esperou. Ficou pensando se a mulher havia notado a presença dele. Voltou a andar e passou por mais um jardim, desta vez com arbustos engraçados, a arte engenhosa da poda elaborada em formato de células ciliadas.
Mais à frente havia um prédio moderno, a arquitetura convexa pintada de branco. A porta de vidro estava com acesso liberado. À esquerda, na parede, um identificador biométrico piscou sua luz vermelha. Randall cruzou a entrada, desconfiado.
Quando dobrou o hall, o casal o esperava, sorrindo. Ele deu um pulo para trás.
– Está mesmo curioso, Randall – Chang disse. – Não é a melhor hora para conhecer nossa Sala de Controle, mas, como é expert no assunto, talvez seja bem apropriado.
– Como souberam? – perguntou, nervoso.
Wankler tirou um minirrádio do bolso do seu jaleco.
– Trabalhamos com alta tecnologia aqui, Sr. Randall. As câmeras captaram você nos seguindo e fomos avisados por Zhu, nossa técnica que administra o controle – informou Wankler. – Entre conosco. Zhu, feche o acesso, por favor – ela deu o comando pelo pequeno aparelho.
A barra de vidro atrás dele deslizou, seguido de um bipe. Juntou-se ao casal. Randall adentrou um ambiente muito familiar a ele. Vários monitores e um telão principal recebiam as filmagem em tempo real de dezenas de câmeras dentro e fora dos prédios. Havia consoles de comando e computadores por toda a sala. Só não gostou dos cabos nos cantos do chão. Mas, no geral, o aparato tecnológico o impressionou bastante. Era claro que o investimento foi alto ali. Talvez nem a Disney tivesse equipamento do mesmo nível.
Somente três técnicos trabalhavam na sala, talvez pelo fato do complexo não ter sido inaugurado ainda. Recomendaria a Chang pelo menos seis.
Uma mulher oriental se aproximou. Não era muito bonita, mas carregava certa simpatia estampada na face. Vestia-se de maneira simples: calça jeans, tênis gastos e um moletom amarrado à cintura.
– Zhu, este é Jeff Randall – Chang o apresentou. – Trabalha no centro de controle da EuroDisney. Veio nos fazer uma visita.
A mulher mostrou-lhe um sorriso com dentes miúdos, encarando-o por vários segundos, depois se virou para o casal.

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UNICELULAR
Science-FictionDisponível nas grandes livrarias! ROSA ViLLAR, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o envenenamento do filho de uma influente jornalista americana que estava de férias, numa das belas praia do Brasil. O que Rosa não imaginava é que...