Descida

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Costa Marítima Brasileira

10 de fevereiro

11h55min

O monomotor Caravan 208 foi abastecido na cidade de Vitória, no Espírito Santo, para uma viagem de três horas acima do oceano. Alex e Éder olharam através das janelinhas a imensidão do Atlântico, que ondulava calmo sob o céu da manhã, esperando vislumbrar a qualquer momento a Ilha da Trindade.

Os dois discutiram bastante antes de tomar a decisão até aquele destino. Por mais que a origem do esporo gigante tenha partido de Fernando de Noronha, Alex considerou que as rotas áreas do Geodésica apontavam para algo bem maior em Trindade. O fato acendeu uma discussão acirrada entre os dois. A ilha era muito distante de onde estavam; mais de dois mil quilômetros.

Alex sugeriu a Éder que voltassem a Noronha para concentrar uma investigação ali. Éder discordou; Trindade intrigava muito mais. E ele estava certo. Éder anunciou realizar a jornada sozinho. Contrafeito, o professor tentou fazê-lo desistir da ideia e, depois de mais discussão, Alex foi convencido a seguir até a ilha.

A viagem seria cansativa. Compraram passagens para o primeiro voo da madrugada, com quatro horas e meia de duração, até a capital do Espírito Santo. A segunda parte da viagem era de monomotor. Alex acertou uma quantia considerável com o piloto e dono do avião, que fazia transporte de cargas a serviço dos correios. Era um conhecido de William, do programa Geodésica, que ele havia indicado. Alex não esqueceu o tom de surpresa do piloto quando revelou o destino por telefone:

– Ilha da Trindade.

É melhor tomar um voo comercial até o Rio de Janeiro, depois seguir de carro até Paraty...

– Acho que o senhor não escutou direito – Alex o interrompeu, rindo da incredulidade dele. – Estou falando da maior ilha do arquipélago de Trindade e Martim Vaz. O senhor a conhece?

Ave Maria! – o homem exclamou. – Eu pensei que estivesse confundindo o lugar.

– Estou lúcido quanto a isso – Alex fez uma careta para Éder, que sorriu. – Vamos dar uma volta acima da ilha. Acertamos tudo assim que chegar.

Está certo. Fico no aguardo.

Alex desligou o telefone e encarou Éder.

– Ainda não consideramos se o avião terá permissão para pousar em Trindade, nem sabemos se existe de fato uma pista de pouso.

– Não precisamos pousar – Éder sugeriu. – Podemos descer de paraquedas. Já realizei muitos saltos duplos. Sei como funciona – mostrou um sorriso travesso.

– Você é maluco? – Alex se aborreceu.

– Só estou considerando a possibilidade de não podermos pousar.

– Não vamos precisar de paraquedas – Alex concluiu.

– Espero que não, mas posso conseguir todo o material em caso de emergência, incluindo roupas para o salto.

– Eu já ouvi você demais.

– Então acredite no que eu vou dizer – Éder falou, sério. – Se não pudermos entrar naquela ilha pela pista de pouso, eu pularei daquele avião de paraquedas.

– Você tem problemas, rapaz! – Alex disse, irritado.

E lá estava ele, com o macacão de paraquedista e roupas mais soltas por baixo, esperando a ilha surgir no meio do oceano. O barulho do motor o incomodou. Quis tirar um cochilo, mas os ouvidos doíam por causa da altitude. Evitou olhar outra vez pela janelinha e tentou controlar sua acrofobia, o maldito medo de altura. Assustado, deu um pulo da cadeira quando o avião tremeu; teve a impressão de que desmontaria a qualquer momento. Éder gargalhou, a voz competindo com o barulho da hélice:

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