Capítulo 3

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Gael acordou no dia seguinte com uma sensação estranha, uma mistura de ansiedade e expectativa. Era cedo, mas ele já estava de pé, organizando seus materiais para as aulas com os filhos de Ray Wu. Enquanto ajustava sua agenda, seu pensamento continuava voltando para Thomas. O encontro na cafeteria foi inesperado e deixou Gael mais intrigado do que ele queria admitir.

Ele não sabia o que pensar. Por um lado, Thomas parecia genuíno; por outro, Gael estava acostumado a se manter distante de qualquer tipo de envolvimento emocional. O trabalho exigia dedicação total e ele sabia que qualquer distração poderia afetar seu desempenho. Além disso, havia algo em Thomas algo que ele não conseguia definir — um olhar, uma intensidade que fazia Gael desconfiar que havia mais ali do que ele deixava transparecer. Antes de sair, decidiu apenas mandar um "oi" para mostrar que aquele era seu número. Desligou o celular sem esperar uma resposta.

Enquanto caminhava em direção à casa dos Wu, passando pelas ruas de Honolulu, ele tentava focar no dia que tinha pela frente. Os jovens precisavam de atenção, e a disciplina que Gael impunha em seu trabalho era fundamental. No entanto, seus pensamentos continuavam vagando para Thomas e a inesperada atração que sentia por ele.

Chegando à casa de Ray Wu, um dos seguranças, como de costume, o cumprimentou e o deixou passar pelos portões. A mansão era grandiosa, com jardins impecáveis e uma vista deslumbrante para o oceano. Era o tipo de vida que Gael nunca havia imaginado para si, mas que agora fazia parte do seu dia a dia, mesmo que apenas como observador.

Ao entrar, ele foi recebido por Li Jun, a governanta, que o conduziu até o escritório de Ray Wu. O próprio Ray estava lá, de pé, observando um mapa detalhado da região do Pacífico. Ele se virou para Gael assim que ele entrou, com um sorriso calculado no rosto.

— Bom dia, Gael — disse Ray, a voz calma, mas carregada de autoridade. — Espero que tenha tido uma boa noite.

— Sim, obrigado — Gael respondeu, tentando manter o tom profissional. — Estou pronto para as aulas de hoje.

Ray acenou com a cabeça e se aproximou da mesa, onde um dossiê estava aberto.

— Ótimo. Meus filhos gostam muito de você, Gael. Você está fazendo um trabalho admirável.

— Fico feliz em ouvir isso.

Havia um silêncio estranho por alguns segundos, e Gael começou a se sentir levemente desconfortável. Ray Wu era um homem de poucas palavras, mas suas palavras sempre tinham peso. O tipo de peso que fazia Gael sentir que, apesar de tudo, ele sabia mais do que demonstrava.

— Sabe, Gael — Ray disse finalmente, sem tirar os olhos do dossiê. — Eu sempre admirei pessoas que sabem ficar no próprio lugar. Que fazem o trabalho delas, sem perguntar demais. Pessoas como você.

Gael sentiu o arrepio na espinha. Ray não estava elogiando; ele estava advertindo.

— Claro, senhor Wu. Eu estou aqui para ensinar, nada mais.

— Exatamente. E espero que continue assim.

Com um aceno quase imperceptível, Ray o dispensou, voltando a sua análise. Gael saiu rapidamente, sentindo a tensão no ar. Algo estava acontecendo, e ele não podia evitar a sensação de que estava sendo observado de perto, mais do que de costume.

Depois de um longo dia de aulas com os jovens, Gael deixou a casa de Ray Wu e voltou para seu apartamento. A caminhada pela cidade, com o vento suave e o barulho das ondas ao fundo, costumava relaxá-lo, mas hoje ele estava inquieto. Seu encontro com Ray havia despertado algo nele. Talvez fosse apenas sua imaginação, mas ele sentia que havia algo sinistro no ar.

Quando chegou em casa, ligou o celular e recebeu uma mensagem. Era de Thomas.

"Jantar hoje Posso te buscar?"

Gael encarou a mensagem por alguns segundos, antes de responder.

"Sim." Mandando seu endereço

Ele sabia que estava se envolvendo demais, mas algo em Thomas o atraía. Havia uma conexão ali, mesmo que ele não pudesse explicar.

Quando Gael chegou à portaria um pouco antes do horário combinado, ficou apreensivo, será que estava apenas se deixando levar por fantasias?

Quando Thomas chegou, com um sorriso confiante no rosto, Gael já sabia que aquele encontro seria diferente.

— Bom te ver de novo — Thomas disse, abrindo a porta do carro para Gael.

— Você é pontual — Gael comentou, tentando esconder o nervosismo.

— Sempre sou. Especialmente quando é algo importante.

Gael arqueou uma sobrancelha, desconfiado.

— Algo importante?

— Sim, Gael — Thomas respondeu, inclinando-se um pouco mais perto. — Acho que nós dois temos mais em comum do que você pensa. E, francamente, eu gostaria de saber mais sobre você.

Gael se inclinou para trás, analisando cada palavra de Thomas. Ele não podia negar que havia uma atração, mas ao mesmo tempo, algo não parecia certo.

— Está falando apenas de mim? — Gael perguntou, com um tom mais sério.

Thomas riu suavemente, mas seus olhos não deixaram os de Gael.

— Estou falando sobre você, Gael. Mas também sobre como a vida as vezes nos empurra para boas surpresas. - Gael franziu o cenho, confuso.

— O que você quer dizer com isso?

Já no carro, Thomas olhou para fora da janela por um momento, como se estivesse calculando suas próximas palavras.

— Eu só quero dizer que, a dois dias atrás eu estava seguindo um marido infiel e me deparei com você e você foi capaz de me fazer esquecer qualquer outra coisa que exista no mundo.

Gael sentiu o coração acelerar. A atmosfera leve foi substituída por uma apreensão palpável.

— Eu... eu não sei o que dizer? — Gael finalmente falou, sentindo a apreensão pelo que desejava...

Thomas se inclinou ainda mais, seu rosto agora a poucos centímetros do de Gael.

— Você não precisa falar, eu é que vou te mostrar. – Ele juntou seus lábios ao dele e um beijo explosivo envolveu aos dois.

Dano Colateral - Romance LGBTOnde histórias criam vida. Descubra agora