O silêncio na manhã seguinte parecia anunciar o desastre que estava por vir. Gael estava em casa, distraído com tarefas simples, enquanto seus pensamentos vagavam até Thomas. As palavras de Thomas, a noite passada, sobre estarem juntos, ecoavam em sua mente. Ele não sabia que aquelas seriam as últimas palavras sinceras que ouviria do homem que amava.
Do outro lado da cidade, Thomas estava em uma sala fechada com seus superiores. A decisão havia sido tomada sem consultar sua opinião. O "prazo" de 48 horas que lhe deram fora uma mentira — apenas uma cortina de fumaça. O diretor estava decidido: a equipe invadiria o apartamento de Gael naquele dia, com ou sem o consentimento de Thomas.
— Você vai liderar a operação — o diretor ordenou, o tom frio e impassível. — Precisamos que você esteja lá. Gael confia em você. Vai facilitar as coisas.
Thomas sentiu um aperto no peito, como se cada palavra fosse uma faca cravada mais fundo em sua consciência.
— Eu disse que isso é um erro — insistiu Thomas, a voz carregada de frustração. — Ele não tem nada a ver com Wu. Essa invasão vai arruinar tudo, inclusive o que temos sobre o próprio Wu.
— Já tomamos a decisão — respondeu o diretor, inabalável. — E você vai cumprir a sua parte. Agora vá. A equipe já está a caminho.
Thomas saiu da sala sem mais palavras, seu coração pesado como chumbo. Ele sabia o que estava prestes a acontecer. E o pior de tudo era que teria que ser ele a trair Gael da maneira mais cruel possível. Parte dele ainda esperava, desesperadamente, encontrar uma saída de última hora, mas ele sabia que não havia mais escolha.
Poucas horas depois, Gael estava sentado no sofá, distraído com um livro, quando ouviu o som estridente da campainha. Antes que pudesse se levantar, ouviu um estrondo — a porta de seu apartamento sendo arrombada. Em poucos segundos, uma equipe de homens vestidos de preto, armados e com distintivos visíveis, invadiu o local, como se fosse uma cena de filme.
Gael congelou, os olhos arregalados em choque.
— Mãos onde eu possa ver! — gritou um dos agentes, apontando sua arma para ele.
Ele levantou as mãos, ainda sem entender o que estava acontecendo. "Isso deve ser um engano", pensou, enquanto sentia o pânico tomar conta de seu corpo. Mas no fundo, uma suspeita sombria começou a se formar. E essa suspeita se confirmou quando viu Thomas entrar logo atrás dos agentes, seu rosto impassível, como se fosse um estranho.
— O que está acontecendo? — perguntou Gael, a voz trêmula. Ele olhou para Thomas, procurando qualquer sinal de que aquilo era um erro.
Mas Thomas não respondeu imediatamente. Ele se aproximou lentamente, tirando o distintivo da CIA do bolso e o exibindo para Gael.
— Eu sou o chefe desta operação — disse ele, com a voz firme. — Estamos aqui para investigar sua conexão com Ray Wu.
Gael sentiu o chão desaparecer sob seus pés. "Operação?" A palavra soou surreal. Sua conexão com Wu? Ele mal conhecia Wu pessoalmente. Ele olhou nos olhos de Thomas, esperando, implorando por uma explicação.
— Você... você me usou esse tempo todo? — A voz de Gael estava quase inaudível, engasgada com a dor e a decepção.
Thomas queria dizer algo, qualquer coisa que pudesse suavizar o impacto, mas sabia que não adiantaria. Não havia mais como voltar atrás. Ele precisava deixar Gael acreditar que tudo não passava de uma mentira. Era a única maneira de protegê-lo de Wu, e talvez até da própria CIA.
— Desde o começo — respondeu Thomas, friamente. — Você foi um alvo, Gael. Não era pessoal. Era o trabalho.
Gael sentiu o coração se partir naquele momento. Ele tentou respirar, mas o ar parecia denso, sufocante. Lembrou-se das palavras que disse a Thomas quando se conheceram: "Eu sou só um cara comum. Não tenho nada para oferecer a alguém como você. Nem sou rico."
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Dano Colateral - Romance LGBT
RomanceGael Dubois, um preceptor renomado, é conhecido por sua discrição e seriedade ao trabalhar com filhos da elite global. Ao aceitar um trabalho no Havaí para o enigmático empresário Ray Wu, ele desconhece um detalhe crucial: Wu é um mafioso chinês pro...