O silêncio na sala de espera do hospital era sufocante. Thomas estava sentado, as mãos entrelaçadas com tanta força que seus nós dos dedos estavam brancos. Cada segundo parecia durar uma eternidade. As vozes dos médicos na sala ao lado se misturavam com o som distante de máquinas de monitoramento, uma sinfonia mecânica que fazia o coração de Thomas pesar ainda mais.
Gael estava ali, a poucos metros de distância, lutando pela vida em uma cama de hospital, inconsciente e gravemente ferido. Os médicos já haviam falado com ele mais cedo. As palavras "estado crítico" e "poucas chances" ressoavam em sua mente como um eco cruel.
Ele não conseguia acreditar. Não depois de tudo que haviam passado juntos.
— Thomas... — A voz suave de Deby o puxou de volta à realidade. Ela e TJ estavam de pé ao lado dele, mas era Lupita quem estava tomando a dianteira, discutindo com os médicos.
— Ele precisa vê-lo, antes que seja tarde demais — ela insistia, sua voz firme, mas com um traço de desespero. — Vocês disseram que ele pode não sobreviver à noite, então deixem Thomas se despedir. Por favor.
Os médicos hesitaram, mas depois de um momento de murmúrios, um deles assentiu. — Vamos reduzir a sedação. Mas não podemos prometer por quanto tempo ele ficará consciente.
Thomas engoliu em seco. Ele não estava pronto para isso. Não poderia estar.
A luz branca e fria iluminava o corpo de Gael, pálido e imóvel. A máscara de oxigênio cobria grande parte de seu rosto, e os monitores ao lado da cama mostravam sinais vitais fracos e irregulares. Thomas aproximou-se da cama, sentindo como se o chão estivesse desabando sob seus pés. Ele se ajoelhou ao lado de Gael, tomando sua mão gelada e sem vida.
— Gael... — sua voz quebrou imediatamente. Ele não conseguia encontrar as palavras. Era como se tudo estivesse preso em sua garganta, uma dor impossível de descrever.
Os minutos se arrastaram em silêncio, até que, lentamente, os olhos de Gael começaram a se abrir. Foi um movimento fraco, mas Thomas percebeu, e seu coração deu um salto. Gael estava acordando.
— Gael? — Thomas chamou, sua voz baixa e desesperada. Ele se inclinou para mais perto, segurando a mão de Gael com mais força.
Gael piscou, seus olhos turvos de confusão e dor. Quando finalmente focou em Thomas, um pequeno sorriso cansado curvou seus lábios.
— Thomas... — Gael sussurrou, sua voz fraca e quase inaudível. — Você... está aqui.
— Eu estou aqui. — Thomas respondeu, sentindo as lágrimas brotando em seus olhos. — Eu não vou a lugar nenhum.
Gael tentou sorrir novamente, mas a dor evidente em seu rosto transformou o gesto em um esgar. — Eu... sinto muito. — Ele pausou, respirando com dificuldade. — Eu sei... que tudo isso era parte... do seu trabalho.
Thomas balançou a cabeça rapidamente, a dor em seu peito quase insuportável. — Não... não era só isso. Você... não era só parte da missão. Nunca foi. Eu juro, Gael.
Gael respirou fundo, os olhos ficando mais pesados, mas ele continuou. — Eu entendo... agora. Você... tem um trabalho importante. Combater pessoas... como Wu. — Ele tossiu levemente, o som fraco e dolorido. — Eu perdoo você... por me usar. Mesmo que... tenha sido uma mentira para você...
Thomas sacudiu a cabeça com força, o desespero tomando conta. — Não fala isso, por favor! Você vai conseguir, Gael! Eu vou tirar você daqui. Vou cuidar de você. Não se despede de mim... — As lágrimas desceram livremente pelo rosto de Thomas enquanto ele se inclinava ainda mais perto, os dedos acariciando o rosto de Gael.
Gael respirou fundo, como se estivesse reunindo suas últimas forças. — Para você... pode ter sido uma missão. — Ele parou por um momento, a dor em seus olhos evidente. — Mas para mim... foi a coisa mais bonita... que já tive.
Thomas apertou os olhos, tentando não desmoronar completamente. — Não, não, por favor, não fala assim. A gente tem que lutar. Você vai viver, Gael! Eu preciso de você!
Mas as palavras de Thomas pareciam se perder no ar. De repente, o monitor cardíaco emitiu um apito agudo e constante. O coração de Gael havia parado.
— Não! Não! — Thomas gritou, enquanto os médicos invadiam o quarto, empurrando-o para longe da cama. Tudo ao redor de Thomas virou um borrão. As mãos dos médicos trabalhando freneticamente, as máquinas apitando, os gritos abafados... e Gael, imóvel.
Thomas caiu de joelhos, assistindo impotente enquanto os médicos lutavam para trazer Gael de volta. Ele queria gritar, mas sua voz não saía. Ele estava em choque.
Após momentos que pareceram horas, o som contínuo do monitor cardíaco foi interrompido por um bip irregular. Os médicos conseguiram estabilizá-lo, mas Gael agora estava entubado, seu corpo frágil preso às máquinas que o mantinham vivo.
Thomas saiu cambaleando, as pernas parecendo feitas de chumbo. Lupita e TJ estavam esperando do lado de fora, suas expressões de pura tristeza.
— Ele está vivo? — Lupita perguntou, mas a expressão no rosto de Thomas respondeu antes de ele conseguir falar.
— Ele está... mas... — Thomas não conseguiu terminar. Ele não sabia quanto tempo mais Gael poderia aguentar.
O silêncio tomou conta do corredor, até que, com um olhar gelado de raiva, Thomas murmurou: — Eu vou matar Wu. Ele vai pagar por isso.
Lupita assentiu silenciosamente. Ela sabia que nada que dissesse agora poderia aliviar a dor de Thomas.
Enquanto isso, Chris estava no escritório, os olhos fixos em uma série de documentos e vídeos. Sua investigação havia dado frutos. Ele olhou para Deby, que estava ao seu lado, e soltou um suspiro de alívio misturado com preocupação.
— Eu consegui. Ardat — disse Chris, virando a tela para mostrar os arquivos.
Deby inclinou-se para olhar e seu olhar endureceu ao perceber a gravidade da situação.
— Ela era uma ex-espiã da KGB — Chris explicou. — Construiu uma fortuna imensa por suas conexões com as máfias de diversos países. A socialite que ela finge ser é apenas fachada. Na verdade, Ardat controla operações subterrâneas ao redor do mundo, financiando e protegendo seus "amigos" mafiosos, e usa essa posição para ficar perto do nosso grupo, descobrindo nossos movimentos.
Deby respirou fundo, absorvendo tudo. — Então... Wu nunca foi o verdadeiro inimigo.
Chris balançou a cabeça. — Wu é apenas uma peça no tabuleiro dela. Ele nem faz ideia de que Ardat é muito mais perigosa que a própria máfia chinesa. Ela o manipula com facilidade, enquanto segue com seus próprios planos, protegendo seus aliados criminosos.
Deby franziu a testa, preocupada. — Isso significa que estamos lidando com algo muito maior do que apenas Wu. Ardat tem influência em redes globais... ela poderia destruir todos nós se quisesse.
Chris assentiu gravemente. — Sim. Precisamos agir rápido, antes que ela perceba que estamos no seu rastro. Wu era só o começo. Ardat é a verdadeira ameaça.
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Dano Colateral - Romance LGBT
RomansaGael Dubois, um preceptor renomado, é conhecido por sua discrição e seriedade ao trabalhar com filhos da elite global. Ao aceitar um trabalho no Havaí para o enigmático empresário Ray Wu, ele desconhece um detalhe crucial: Wu é um mafioso chinês pro...