Cicatrizes invisíveis - Rebeca Andrade e Simone Biles.

17 - a bucket of cold water.

Pov - Rebeca .

Na noite anterior ao piquenique, a ansiedade começou a me dominar. E se a conversa não saísse como eu esperava? E se tudo se tornasse ainda mais complicado? Tentei afastar esses pensamentos, lembrando-me das palavras de Lorrane sobre ser honesta e não se deixar levar pelo medo.

Quando o sol começou a nascer, senti uma mistura de nervosismo e expectativa. A manhã era linda, e eu sabia que tinha que fazer isso. O piquenique poderia ser o ponto de virada que tanto precisava, tanto para mim quanto para Simone, especialmente com a pressão das Olimpíadas à nossa porta.

Depois de fazer minha higiene pessoal, peguei a cesta e fui em direção ao Sena, onde um lugar especial me aguardava. O cheiro do pão fresco e das frutas que eu havia escolhido pairava no ar, e, ao chegar, encontrei o local perfeito: um pequeno espaço sob uma árvore, com vista para a água que refletia a luz suave do sol.

Eu queria que tudo desse certo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que o importante era ser verdadeira e, independentemente do resultado, dar esse passo em direção ao que realmente sentia.

A brisa fresca trouxe um toque de calma, e, ao olhar para o horizonte, lembrei-me de que, às vezes, os momentos mais difíceis podem se transformar nos mais significativos. E estava pronta para enfrentar isso, não importa o que viesse a seguir.

Depois de organizar tudo com carinho, enviei uma mensagem para Simone, ansiosa pela resposta. "Oi, Simone! Estou aqui no Rio Sena e preparei uma pequena surpresa. Você poderia vir?"

Esperei, o coração acelerado, imaginando a expressão dela ao ver o piquenique. Mas, para minha decepção, a resposta não veio como eu esperava. "Oi, Rebeca! Eu adoraria, mas o Jonathan já havia me chamado para sair. Desculpe!"

A mensagem atingiu-me como um balde de água fria. Uma mistura de frustração e ciúmes começou a se formar dentro de mim. "Tudo bem, eu entendo. Espero que se divirta!" respondi, tentando esconder a decepção.

Fechei os olhos por um momento deixando lágrimas solitárias escorrerem pelo meu rosto, respirando fundo. Eu havia planejado tudo com tanto carinho, mas agora, estava sozinha ali, sob a árvore, com o piquenique que eu tinha imaginado para nós duas. A brisa suave não conseguia apagar o peso que sentia no peito.

Enquanto olhava para a água do Sena, refletindo as luzes da cidade, percebi que precisava decidir como seguir em frente. A competição estava prestes a começar, e eu não podia me permitir ficar presa a esses sentimentos não resolvidos.

Após alguns minutos, decidi que não deixaria que essa situação me derrubasse. Era hora de aproveitar aquele momento, mesmo que estivesse sozinha. Comecei a desfazer a toalha e arrumar as coisas, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim começou a se acalmar. Essa era uma oportunidade para refletir sobre o que realmente queria.

Enquanto mordia uma fatia de pão, lembrei-me das palavras de Lorrane. Ser honesta com meus sentimentos era essencial, e talvez eu pudesse usar esse tempo para me entender melhor. O que eu realmente queria? E o que significava para mim a "amizade" com Simone?

Com esses pensamentos em mente, terminei o lanche e aproveitei a vista. A cidade vibrava ao meu redor, e a atmosfera das volta das competições se aproximava. O sentimento de competição e camaradagem preenchia o ar, e, apesar de tudo, uma parte de mim se sentia grata por estar ali, vivendo aquele momento em Paris.

Percebi que, mesmo que as coisas não tivessem saído como planejado, ainda havia espaço para a esperança. E quem sabe, em algum momento, Simone poderia entender o que eu sentia. Para isso, eu precisaria ser forte e clara sobre meus sentimentos.

Com a determinação renovada, levantei-me e deixei o local, decidida a enfrentar o que viesse, tanto na competição quanto no que sentia por Simone.

Decidida a seguir em frente,caminhei de volta para a Vila Olímpica. A energia vibrante das Olimpíadas preenchia o ar, mas, ao mesmo tempo, a decepção ainda me acompanhava. Assim que cheguei ao meu quarto, encontrei Lorrane e Jordan em uma conchinha na cama.

- Oi, Rebe! Como foi o piquenique? - ela perguntou, levantando os olhos e notando meu semblante abatido.

- Na verdade, não aconteceu - respondi, sentando-me em um poltrona próxima dela. - A Simone não pôde vir. O Jonathan a chamou para sair.

Lorrane franziu a testa, visivelmente desapontada. - Sério que ela preferiu sair com aquele cara? Porra Simone! eu estava torcendo para que desse certo. Você estava tão animada! - Jordan apenas observava,ela não entendia muito português.

- Eu estava. Achei que seria uma boa oportunidade para conversarmos, mas agora... bem, estou me sentindo confusa,triste e decepcionada. - confessei, olhando para o chão.

- Rebe, eu sei que isso é difícil. Mas você não pode deixar que isso te abale. As Finais estão prestes a começar, e você precisa focar no seu desempenho - ela disse, colocando a mão em meu ombro.

- É, você está certa. Mas, com o Jonathan por perto, fica difícil separar os sentimentos. Eu só... não sei como lidar com tudo isso, - desabafei.

- Lembre-se de que sua prioridade agora é você e sua competição. Se a Simone realmente se importa, ela vai perceber o quanto você é especial. Não deixe que isso te distraia, - Lorrane encorajou, com um olhar determinado.

- Obrigada, Lô. Você sempre sabe como me fazer ver as coisas de forma diferente. Eu vou tentar me concentrar no que realmente importa e dar o meu melhor - respondi, sentindo um pouco da frustração se dissipar.

- Isso mesmo! Vamos treinar juntas mais tarde. E quem sabe, quando a poeira assentar, você pode ter uma conversa com a Simone. Às vezes, as coisas se resolvem de formas inesperadas - Lorrane disse, sorrindo.

Com as palavras dela, comecei a sentir uma onda de motivação crescendo dentro de mim. A competição era o que eu sempre sonhei, e eu não poderia deixar que nada atrapalhasse isso.

- Vamos lá! Hoje, vamos nos dedicar ao treinamento e esquecer um pouco as emoções. As finais estão logo ali, e precisamos estar preparadas - Lorrane exclamou já no inglês, levantando-se animada.

- eu posso ir Lô? - Jordan pergunta olhando para mim e para Lorrane.

- Claro! Vamos!

Saí do quarto com elas, a energia na Vila Olímpica pulsando ao nosso redor. Eu estava pronta para me reconectar com o que realmente amava: o esporte e a paixão que me trouxeram até ali.