33. Fênix

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Ariane amava os animais, as crianças, os direitos das mulheres e o respeito à vida. Não parecia uma anarquista. Dado que o conceito de anarquia era ser exatamente assim: lutando contra machismo, racismo, patriarcado, xenofobia, capitalismo e tudo o que destruía a paz em convívio por ego de um querer ter mais poder sobre o outro. Ela era uma anarquista perfeita. Tinha tudo pra ser bruxa, o conceito de rebelião e inteligência inalcançável que ela exalava assustava exatamente quem tinha que assustar, e atraia como um encantamento, exatamente quem tinha a mesma vibe. Anna, sua alma gêmea, que viria a ser sua melhor amiga pra toda vida, seria seu par pra nunca mais nada as sequer tentar abalar.

Após várias noites trocando ideias sobre a vida, relatos históricos que tinham relação direta com o motivo das coisas serem como são, traços de rebeliões necessárias e as quais ainda hão de vir, Anna revigorou sua essência, se lembrou de quem é, de onde veio e onde quer chegar. As coisas voltaram a fazer sentido, seu coração voltou a vibrar por algum motivo de estar viva. E com as cartas, ambas se aproximaram da espiritualidade e descobriram que eram almas gêmeas. Choraram e perceberam mais uma vez, que a vida vale a pena por cada surpresa que há de vir.

Anna se separou de Evan, de forma amigável, e se reaproximou de Apolo, afinal, ela já era ciente que tinha sim a proteção de sua espiritualidade e levou em consideração a intenção de cada coisa que sofreu, decidiu que Evan foi menos respeitoso em seus critérios e que foi injusta com Apolo, e não queria jamais deixar uma confusão pessoal atingir sua filha, que merecia nada menos que sua melhor fase. Evan por tanto não se tornou insistente, pois reconheceu a energia de justiça que pairava sobre Anna e aceitou que ter sua amizade já era suficiente.

Apolo por sua vez, tinha receio de se entregar novamente, ainda que a vontade de apenas se jogar de cara fosse muito maior dentro de seu peito. Mas o tempo cura tudo... e o amor... é o melhor remédio. E não demorou pra que os dois reatassem a relação, com uma áurea mais leve, finalmente, sem dúvidas e feitiços, apenas amor e lealdade. 

7h da manhã, Quinta-feira, 10 de Abril de 2025 (após uma noite de amor e muito sushi com Apolo - Anna amava mas não comia há anos por ser vegana):

Anna: Apolo? Por favor, eu achei que fosse caganeira de ter comido carne, alguma maldição talvez, falta de costume, mas aí lembrei que tô grávida, será que isso é trabalho de parto? Eu tô com uma dor de barriga que vai e vem cada vez mais fortes, minhas pernas... já tô toda trêmula... me ajuda eu tô com medo eu não quero parir agora (começou a chorar)

Apolo: Jesus, calma, sua bolsa estourou?

Anna: Não...

Apolo: Vamo pro hospital então e lá a gente vê o que vai ser... mas não fica nervosa que aí eu fico nervoso e nós dois nervoso não vale um rato banguelo. (risos)

Anna chegou ao hospital e se deu conta que aquela era a data que estava prevista pro seu parto, Apolo já havia preparado uma bolsa maternidade que aprendeu no YouTube com roupas RN, fraldas, toalha, mamadeira, chupeta, cotonetes, fórmula, pomada anti-assaduras, escova de dente, absorventes pós parto e sabonete líquido. O hospital fornecia travesseiro e cobertas, shampoo, condicionador, pasta de dente e secador de cabelo. Só por precaução, estava sempre no carro.

E lá no exame de toque pra saber se Anna estava em trabalho de parto, enquanto aferiam sua pressão, declararam que se ela atrasasse 5 minutos a mais poderia ter parido a criança em casa, pois ela estava com 9cm de dilatação, sendo o último estágio: 10cm. E que a bolsa pode não estourar, mas estoura durante a saída do bebê quando ele se empurra após encaixado. Era só esperar Athenna encaixar e Anna poderia começar a empurrar pra baixo.

Anna: Como assim fazer força pra baixo?

Doutora: Se concentra em respirar bem, mesmo quando faz força, mexe a força somente na barriga, como quem precisa soltar um peido sem fazer barulho, não deixa essa força subir pra não aumentar a pressão na sua cabeça e te trazer complicações, o parto é um trabalho intenso do corpo, se você seguir o que digo, vai ser uma experiência menos traumatizante.

Anna: Jesus eu tenho tantas perguntas pra ti Senhor... Porque não como os peixes deixando os óvulos na beira do mar? Porque não como os pandas que são minúsculos e depois quadriplicam seu tamanho fora da barriga? Um ovinho de codorna? Uma placenta pocket de um avestruz?

Apolo: Porque não cesária?

Anna: Porque não os HOMENS?

Doutora: Continua irritando ela paizinho, a ira dá forças pra empurrar.

Apolo: O problema vai ser a bebê nascer e ela me matar como um louva deus. (risos de nervoso)

Anna deu entrada 10h da manhã no hospital com dilatação pra parto normal e contrações favoráveis. Athenna demorou um pouco até se encaixar, enquanto isso Anna foi treinando o "pushing" fazer força pra baixo e controle de respiração. perto de 15h Athenna encaixou e foi muito rápido, e como era apenas uma tentativa, não deu nem tempo de Anna tentar reproduzir o que estava treinando, então ela apenas gritou com toda sua alma, seu corpo estrebuchou, atracada no ferro de apoio, Athenna veio ao mundo sem chorar, um pouco roxa pela falta de oxigenação e foi incubada num berço com ventilação.

Anna sofreu um hematoma no parto e precisou de pontos. Estava tremula, com frio, com fome, com sono, com raiva de não ter conseguido fazer da forma certa e estar sofrendo as consequências disso: ficou rouca de gritar, com dor no corpo todo pela força espalhada, dor nos dedos por segurar sorte o ferro de apoio, dor de garganta e nos pontos pelo hematoma. Foi traumatizante. E pra completar, Athenna era a xerox perfeita de Apolo, que após dilacerar sua mãe, lembrava aquele que a havia feito raiva minutos antes da sua vinda.

Athenna se recuperou na incubadora e começou então a chorar suavemente, pra não assustar nem dar spoiler a Anna do quão forte era sua garganta na verdade. Anna não conseguiu amamentar, foi quando Apolo foi perdoado por ter feito a bolsa maternidade com mamadeira e fórmula, e Anna lembrou o porque o ama: ele tá ali quando ela dá conta e principalmente quando ela não consegue mais... Fizeram alguns exames e com 2 dias foram liberados.

Ao chegarem em casa, tiraram os 2 primeiros meses de resguardo, Anna já estava completamente recuperada, apesar do trauma, se sentia bem. De fato não teve leite e não conseguiu fazer nada que estimulasse, ou que fizesse que Athenna aceitasse a pegada, então aceitaram a manter somente com fórmula e deu tudo certo, foi crescendo saudável como esperado de acordo com os acompanhamentos pediátricos.

Chegando perto de Agosto, mês dos 30 anos de Anna, Athenna tinha quase 4 meses e já estavam prontos pra terem mais contato com o restante do pessoal. E como sempre, papai Apolo cuidando de tudo, planejou uma festa surpresa pra Anna dentro da apresentação de Athenna no terreiro, e com uma outra surpresinha pra fechar com chave de ouro, que ela jamais iria esquecer...

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