5. Anna da Rosa Caveira

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Durante a semana, eu tive sonhos, sensações de ter alguém por perto, senti cheiros específicos que não tinha por perto, um aperto no peito como se eu precisasse fazer alguma coisa na minha área amorosa. Ouvi o conselho da Milena e deixei meus guias me orientarem sobre o que fazer, ainda que eu não soubesse quem era eles, eles sabiam quem eu era, e iriam me ajudar corretamente. Mas aquela angústia não podia continuar.

Canela em pau, 2 litros de água, 7 colheres de açúcar, 3 borrifadas do meu melhor perfume, 13 cravinhos da índia, um fio de mel, uma rosa vermelha escura para arrancar as pétalas, um papel escrito o que exatamente eu quero.

Amor próprio, autoconfiança, coragem, prosperidade, leveza, sabedoria, sensibilidade pra perceber as situações ao meu redor fisicamente e espiritualmente, e um pouquinho de sedução, pra abrir o leque da área amorosa.

Fervi tudo, coei, esperei esfriar enquanto tomava um banho de luxo, esfoliação, hidratação, depilação, skin care e tudo que tenho direito. E do pescoço pra baixo, me joguei aquele "chá de moça" fazendo uma oração sincera.

Anna: Minha moça, eu não te conheço ainda, mas tu me conhece, saiba que tens livre acesso em mim e minha vida, fique a vontade pra agir como achar melhor, se revelando ou não, abrindo ou fechando um caminho, te peço que apenas tenha compaixão de mim, não me deixa enganada, não me deixa sofrer, que as coisas sejam claras e justas, que eu tenha resiliência pra lidar sem ferir ninguém... e se não for pedir muito, me permite a sensação de viver um amor recíproco, intenso e leal, te ofereço meu corpo neste banho, pra que exale tua energia a meu favor e proteção. Laroyê!

Durante o banho eu estava tendo calafrios, não sabia se era de frio, por não poder enxugar o banho e ter que esperar secar. Mas assim que vesti a roupa senti forte no coração um passo a passo que fez total sentido...

Fui ao mercado e comprei limão, cebola roxa, pimenta dedo de moça, azeite de dendê, folhas de mamona e farinha de mandioca, 7 velas vermelhas, rosas, e um espumante bem docinho de maçã vermelha. Fiz a receita de padê, enfeitei com maçã e pétalas, fui na esquina de um cemitério, deixei a bandeja, abri o espumante e espirrei por cima um pouco, deixando o resto na garrafa ao lado, posicionei ao redor as 7 velas e acendi dizendo:

Anna: Licença meu povo, vim deixar esse agrado pra minha moça, que nenhum espírito das trevas se aposse da minha fé, receba minha moça esse agrado, em nome de tudo que já fizestes por mim, Laroyê!

Senti um cheiro forte de rosas, como um campo, um aromatizante, mas todo aquele encanto se quebrou quando quase me caguei de susto escutando uma gargalhada assombrosa... gente, me perdoem mas eu sou do time macumbeira que tem medo de espírito (risos) mas eu sei que isso vai passar, na verdade tenho mais medo dos vivos do que dos mortos, só que eu nunca vi morto gargalhar, por isso me assustei, podia ser alguma pessoa me sondando pra fazer algum mal... saí correndo e voltei pra casa.

Chegando em casa vi um carro parado na frente identico ao carro do Apolo... mas não pensei em mais nada a não ser me trancar em casa e esperar o dia do batismo.

DIA DO BATISMO:

Milena: E ai amiga! Nervosa?

Anna: Ansiosa, mas não nervosa... amiga... tenho que te contar uma coisa...

Contei pra ela sobre o banho, o padê, a gargalhada e também sobre o carro parado em frente minha casa.

Milena: Mana! Chocada passada! Olha, pelo que tu me relatou não achei nada bizarro, mas to chocada que realmente tu teve coragem e agora to curiosa pra saber os próximos capítulos desse rolê.

Anna: Eu trouxe uma vela vermelha de 21cm e um incenso de rosas vermelhas, sei lá, deixar um agrado...

Milena: Sim amiga, bem lembrado, esqueci de te falar que além do preceito é bom trazer uma oferta.

Anna: Mentira? Muito obrigada viu!

Milena: Anda, senta ai que já vai começar.

Sentamos normalmente como nas demais giras, defumamos, cantamos pontos de saudação, tivemos passe, e enquanto as entidades estavam em terra, os que iriam ser batizados foram direcionados pra porta dos fundos da casa, eu nunca tinha ido lá, e era um quintal que tinha uma cachoeirinha forjada, as velas de cada entidade ao lado de sua imagem no caminho, a água transparente e as árvores, era tudo lindo e me emocionou muito, parecia que realmente cada um estava presente ali me acompanhando pra me receber nessa nova etapa.

Cada entidade em terra se posicionou dentro da água, que batia perto de seus joelhos, fomos em fila nos posicionando em ordem em frente cada entidade, eu percebi que iria ficar justamente com o Exu do Apolo, e apesar de adorar ele, queria evitar, e expandir mais com os demais... troquei de lugar na fila com o da frente mas não adiantou, seu Caveira segurou minha mão e me puxou pra frente dele e mandou o de trás voltar pra frente pro próximo guia.

Apolo me olhava com um sorriso leve, e eu tentava frisar que era o Exu e não ele, e também que ele era lindo e charmoso mas eu devia respeito a tudo naquele local.

Apolo incorporado: Achei que depois da nossa última conversa você não desviaria mais o olhar de mim, muito menos sua presença, minha florzinha... você ta bem?

Anna: Perdão senhor, eu to passando por umas coisas e to meio confusa então to tentando dar uma variada pra entender de outro ponto de vista algumas coisas... e o senhor ta bem?

Apolo incorporado: Sabe que ninguém nunca me perguntou isso antes? (risos) Eu to bem, e bem feliz com sua evolução, e depois de hoje, muita dúvida sua vai ser respondida.

Anna: O senhor parece saber de algo que eu não sei, mas me pergunto porque não me contaria?

Apolo incorporado: Não é direito meu nem de ninguém se meter no seu processo de cada coisa da vida, eu posso te ajudar a desenvolver, mas não posso ir além...

Interrompidos pelo inicio do batismo, com discurso e pontos de exaltação, eu era a quarta da fileira... fizeram uma oração pra cada um, e na vez de cada um, a pessoa se ajoelhava em frente a entidade e ela jogava água por sua cabeça.

Na minha vez, eu ajoelhei de cabeça baixa, e exu Caveira pegou em meu rosto com delicadeza levantando meu olhar para de encontro com o dele, e quando eu o olhei ele disse:

Apolo incorporado: Bem vida minha Rosa...

Senti novamente aquele cheiro gostoso e forte de flores, um calafrio e uma sensação de ter alguém colado em minhas costas, o que me tirou um pouco do equilíbrio enquanto a agua escorria pelo meu rosto, tentava me levantar mas as pernas não garantiram, e quando eu ia caindo, Apolo (ou seu Caveira) me segurou de imediato pela cintura, ainda com a outra mão no meu rosto... e a cena parece ter congelado na gente, mas só pra gente, os demais nem notaram, seguiram o batismo dos 3 restantes, mas eu percebi que tava rolando um clima ali...

Eu quis correr, me senti constrangida, já estava de saco cheio de não entender se eu era uma pervertida ou ele realmente me dava esses sinais de propósito e eu tava sendo feita de besta ali. Mas ainda assim, tinha que respeitar. Então firmei os pés no chão e tirei as mãos dele de mim simultaneamente olhando bem firme em seus olhos. Logo ele tirou o sorrisinho do rosto e me olhou como quem se pergunta o que aconteceu.

Após o batismo, fizemos nossas ofertas e orações aos nossos guias e a consulta com o Exu que nos auxiliava era opcional. Eu fui embora e o deixei sozinho lá. Imediatamente meu coração acelerou demais, minha barriga começou a doer, o ar ficou denso, perdi um pouco da visão e audição... apaguei.

Milena: Anna! Anna tu ta bem? O que foi isso? O que tu ta sentindo? Ei??

Poucas pessoas perceberam, mas eu consegui ver o Apolo me olhando muito sério, eu já não sabia se era ele ou a entidade... eu já tava com medo de ir além, por 2 segundos pensei em voltar pra igreja, não sabia o que tava acontecendo, onde tava me metendo, mas depois pensei...

Anna: Eu sou corajosa!

Milena: Que?

Anna: Eu não tenho medo! Se for físico eu me cuido, sou forte e inteligente. Se for espiritual eu estudo, faço o que tiver que fazer, não vou ser fraca e nem me render ou fugir. Eu sou Anna da Rosa, Caveira.

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