18. Acordo

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Apolo: Pai...

Pai Billy: Não me chama mais de pai Apolo, por favor, nunca mais volte na casa, e se não for pedir muito, se retire daqui antes que eu perca minha sanidade e te dê o que você merece.

Anna: O que aconteceu?

Pai Billy: Você ta com ele?

Anna: Ele me trouxe...

Pai Billy: Pois pergunte pra ele.

Milena: Que gritaria gente, se acalmem, pessoal ta olhando sem entender nada... vamo pai, vem comigo, me conta o que aconteceu, fica calmo... (e saíram)

Anna: Apolo...

Apolo: Fui eu... de novo, desde que você entrou na minha vida eu sou capaz de tudo por ti.

Anna: Foi você o que?

Apolo: Eu fiz magia de desencarne... quando percebi que ele usou a situação a favor pra tentar te enganar e sabe lá o que...

Anna: O que você tem que fazer por mim você não faz, né... só faz na verdade pelo seu ego, leonino que não aceita que errou e foi passado pra trás. Nunca te passou pela cabeça que eu poderia ter um direito de escolha nisso tudo? Querer te esquecer, querer abortar e querer estar com Evan agora?

Apolo: É isso que você quer?

Anna: Eu quero ir ver como ele tá.

Fomos até o quarto de Evan, ele estava entubado, com leves arranhões, nenhum osso quebrado nem nada que explicasse ele estar em coma. Então nessa hora me deu um mal estar de pensar como era real a força da espiritualidade sobre a gente, que nossas vidas poderiam simplesmente não valer nada sem a proteção deles, pois eu tive certeza que ele só estava respirando por ser um protegido leal. Em prantos o abracei...

Anna: Me perdoa... eu não sabia onde você estava se metendo por mim... é tudo culpa minha... eu devia ter acabado com tudo isso no Rio de Janeiro e hoje você estaria bem, sendo essa pessoa amável, sorridente, que ajuda todo mundo e encanta com seu jeitinho malandro e parceiro...

Nessa hora, Apolo, arrependido, enciumado, decepcionado, se retirou do quarto pra não ter que ver aquela cena onde seu amor parecia estar amando outro... e ficou do lado de fora do quarto contendo as lágrimas.

Anna: Por favor, se você voltar eu... eu tenho o bebê... e até deixo você escolher o nome (risos enxugando as lágrimas), por favor seu Zé Pilintra, se pra mandar matar a gente oferece uma morte, deixa o Evan viver e eu te ofereço uma nova vida... a do meu bebê. Ai... não sei nem se isso faz sentido, não sou tão boa como o Apolo pra essas coisas...

Evan: Você é bem melhor que ele, Anna... (com uma voz falha e um sorriso)

Anna: (gritos eufóricos após um grito de susto) Meu Deus! Tá me ouvindo? Tá bem? Vou chamar um enfermeiro! Alguém-Alguém ajuda aqui! O paciente acordou!

Apolo, enquanto isso, do lado de fora, orava também a Zé Pilintra, protetor de Evan, e apesar de não ter uma boa imagem de malandros, ofereceu pela vida do rapaz, uma batida alcoólica de coco, cigarros, velas, uma feijoada com carne seca e farofa, flores e frutas e que começaria a cultua-lo desde então. Quando minutos depois Anna sai aos berros alegando que Evan havia acordado do coma...

Com sensação de orações atendidas, Apolo não pensou mais em magia pela primeira vez, só aceitou que o que fosse acontecer era o que teria que ser. Dando a escolha a Anna, sobre ter ou não o bebê, sobre ficar com Evan ou não, sobre lhe perdoar algum dia... ou não. Escreveu um bilhete e deixou com um dos enfermeiros do quarto de Evan.

"Hoje eu percebi que nem sempre o que a gente quer é o melhor pra gente, eu quis ele morto, e se ele tivesse morrido, você iria sofrer, e eu não quero isso... assim como eu queria muito você e nosso bebê na minha vida, mas não tem magia que faça sentido te forçar viver isso comigo, espero que um dia me entenda, me perdoe... mas também se não, vou ter que aceitar igual. Obrigada por me ensinar isso, conte comigo sempre, se precisar... não hesite em me procurar. Amo você, pra sempre minha rosa bonita e cheirosa em meio o cemitério. - Apolo"

Apolo voltou pra sua casa, e foi cumprir sua parte, já que Evan havia acordado... comprou imagem do malandro, as bebidas, cigarros, preparou a comida que prometeu e entregou com flores e frutas, maçã, pera, uva, ameixa, melão, morango, kiwi, pêssego... colocou a feijoada no meio, a farofa separada ao lado, a batida de coco do outro lado, as frutas em redor e velas entre elas. Ele de fato sabia fazer a coisa, ficou uma lindíssima oferta no altar.

Quando os enfermeiros estabilizaram Evan, alegaram que seu coma foi pelas paradas cardíacas, mas que de fato não sabiam o motivo das paradas já que ele não sofreu nada interno nem tampouco externo, além de arranhões leves. Então passaram remédios de dor, pomadas, e remédios pra ajudar na cicatrização, e logo teve alta.

Já em sua casa, Anna, Milena e Pai Billy estavam lá reunidos falando sobre tudo que aconteceu. Pai Billy contou sobre Apolo, o que ele sentiu quando orava pela vida de Evan, e quando expulsou Apolo da casa. Então Anna contou que estava grávida de Apolo, e que estavam tentando abortar, mas Apolo ressurgiu e pelo que tava acontecendo não sabia o que era pior, ele ter sumido ou voltado com aquele gênio forte.

Pai Billy: EU SABIA! Não adianta me esconder, meu santo me conta. Mas eu sempre penso "ah são meus filhos, vão confiar e me dizer no tempo deles", eu gostaria que assim fosse pelo menos...

Anna: Ai pai me perdoe, mas eu mesma queria que nem fosse verdade, quem dirá sair contando essas coisas... mas e ai Evan... se for menino ou se for menina, qual nome você prefere?

Evan: Eu vou escolher o nome? Porque?

Anna: Sim, não sei, eu orei e fui atendida, e essa foi parte da minha promessa, mas se você puder ter senso na escolha eu agradeço (risos)

Evan: Hmm... se for menina, Flor... mas se for menino... que é o que eu acho que é, quero que você fale com Apolo...

Anna: (meu brilho sumindo) Que? Não entendi...

Evan: Pai, Mih, vocês são tudo pra mim, muito obrigado por tudo, mas... preciso falar com a Anna um negocinho em particular...

Milena: Pois bora embora pai, que esses negocinho dele demora viu.

Pai Billy: (risos) Fiquem a vontade, vamo filha, ele sabe que ta em boas mãos, esse menino é malandro (risos e foram embora)

Evan: Anna, eu gosto de você, mas não como ele... eu não faria por você o que ele faz, talvez nem o mínimo eu faria, você precisa de alguém como ele na sua vida agora mais que nunca... oh, eu to bem, adorei esses momentos entre a gente, mas você pode ir... não se preocupa comigo, não vai doer, eu to bem. A gente não ia dar certo, eu prefiro manter essa lembrança da nossa amizade que foi boa, então vai ser melhor pra você assim, longe de mim...

Com os olhos cheios de lágrimas, Anna então apenas virou as costas e saiu sem olhar pra trás. Evan então chorou como jamais, afinal... mais uma vez ele não contou toda a verdade pra Anna, que durante seu coma seu guia o visitou e disse que a malandragem não caminha com a deslealdade, que ele tava se metendo em trabalho de guia alheio e ia apanhar a toa, afinal ele não iria ser pra Anna o que Apolo seria, não por muito tempo, ainda que essa vez parecesse diferente das outras moças de verão... e que havia firmado um trato de sair do caminho deles pra ter uma nova oportunidade, vivo, ou sairia morto. Então ele se fez de coitadinho, mas cumpriu o que devia.

*inspirado em "Eu Menti Pra Ela Zé/Eu Ando Triste Zé - Ikaro Ogan"*

Chegando em casa, Anna se sentiu sozinha... passou um filme em sua cabeça, sobre tudo que já passou na vida, o que a levou a entrar na religião, suas lutas e prosperidades, cada aprendizado e por fim se sentiu grata... olhando para suas imagens, percebeu que toda a blindagem que fez de energia negativa estava funcionando, ela já se sentia melhor só de estar em casa.

Então preparou um banho de ervas parecido o que Evan lhe deu como escalda pés, mas esse, pro corpo todo, também fez um chá, já que limpar por dentro também era bom. Jogou fora as receitas de chá abortivos enquanto isso, refletindo sobre como aceitar essa situação... durante o banho passava a mão na barriga, orava para si como quem ora pelos dois, pediu proteção, livramento de más energias e prosperidade...

E quando foi deitar, sonhou pela primeira vez de forma clarividente com sua moça, dona Rosa Caveira. E desse sonho, muita coisa mudaria em sua vida a partir dali.

Deixa Acontecer MacumbalmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora