"dòs de an-aghaidh gaol" -

9 2 0
                                    

ᚓᚒᚓᚒᚓᚐᚖ ¹⁹²⁶ ᚖᚐᚒᚓᚒᚓᚓ

As lâminas afundavam nas verduras com precisão, enquanto o sol ainda tímido lá fora indicava que era cedo demais para qualquer tipo de movimento na casa dos Shelbys. A não ser, claro, para os Shelbys. O ambiente exalava uma tensão constante, e Violett sentia cada gota disso penetrando em sua pele. Ela se movia rapidamente, cortando os ingredientes, mas sua mente vagava para lugares distantes, lugares onde ela tinha mais controle do que ali, naquela cozinha, às 5:30 da manhã de Natal.

Karl e Charles, os filhos de Ada e Thomas, corriam ao redor, rindo e fingindo ser policial e bandido. O som das suas risadas ecoava pela cozinha, mas não trazia nenhuma alegria para ela. Pelo contrário, Violett sentia que cada risada era um fio a mais no laço invisível que apertava seu pescoço. Como se fosse parte de uma peça de xadrez, controlada por forças maiores.

Ela pensava em Thomas Shelby. Aquele maldito homem, que parecia carregar o peso do mundo nas costas e, ao mesmo tempo, acreditar que o próprio mundo girava em torno dele. Ele havia organizado mais uma de suas manipulações. Uma ilusão grandiosa para enganar os ricos e poderosos, para alimentar sua própria visão de grandeza. Mas a que custo? A vendetta com Luca Changretta, o caos que envolvia a cidade, e agora isso — Natal ou não, ele sempre tinha um plano.

“Quem ele pensa que é?” Violett se perguntava, as mãos apertando o cabo da faca com mais força do que o necessário. “Ele acha que é um deus? Que pode manipular vidas como peças de tabuleiro?”

A tensão em seu corpo só crescia. Ela cortava as verduras com mais rapidez, tentando liberar de alguma forma o turbilhão de sentimentos que se agitava dentro dela. Mas era inútil. Sempre foi inútil. E, então, Karl deixou um copo de trigo cair no chão, o som do vidro quebrando foi como um estalo na mente de Violett.

“DAMNAITE! Ciamar as urrainn dhut a bhith cho brùideil, a Shelbys!” Ela gritou em gaélico, a língua de seus antepassados escoceses, sua voz reverberando na pequena cozinha. Suas mãos tremiam, e foi só quando ela viu o sangue no chão que percebeu que havia cortado o próprio dedo.

A dor física era pouca comparada ao que estava acontecendo dentro dela. O sangue no chão parecia se misturar com os cacos do copo, um reflexo de seu estado emocional fragmentado. Violett sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas fechou-os com força, tentando recobrar o controle. Não havia espaço para fraqueza na casa dos Shelbys.

Ela pensava em Polly. Sua relação com a matriarca dos Shelbys era complexa. Polly sempre a tratou com carinho, talvez até com afeto maternal, mas isso não mudava o fato de que Violett também era uma peça no jogo. Polly havia trazido Violett para aquela casa por uma razão, e ela sabia disso. Não era apenas porque Mary Docherty, sua avó, tinha sido a melhor amiga de Polly. Havia mais ali. Sempre havia algo mais nos planos de Polly Shelby.

E depois havia Thomas. Ela odiava a forma como ele mexia com ela, como suas palavras e olhares pareciam penetrar suas defesas, fazendo-a questionar suas próprias convicções. O modo como ele a olhava, como se soubesse que ela guardava algo mais, algo que ele poderia explorar. Ela sabia o que ele queria — sua pureza, sua virgindade. Para Thomas, tudo era um jogo de controle. Ele precisava ser o vencedor.

Mas Violett também sabia o que isso significava. Ela vinha de uma longa linhagem de mulheres fortes, druídicas, e isso a fazia hesitar. Sua avó, Mary, tinha sido uma mulher respeitada e temida, mesmo em uma sociedade que desprezava o paganismo delas. O legado druida corria em suas veias, e era esse legado que a fazia resistir. Ela sabia o que estava em jogo se cedesse a Thomas Shelby. Ela precisava se manter firme, não apenas por ela, mas por tudo o que sua linhagem representava.

Pecado Ambicioso - Fic - Thomas Shelby Onde histórias criam vida. Descubra agora