Temos nossas vidas interligadas pelo todo da nossa essência humana. Possuímos diversas maneiras de conexões que nos fazem sermos "irmãos" e "irmãs" numa gigantesca rede social. Nossos sentidos nos fazem sentir como se realmente sentíssemos uns aos outros, podemos nos colocar no lugar dos outros, mas esta capacidade de imaginação possui diversas falhas das quais fazem com que estejamos sempre querendo sermos melhores do que já somos. Acho impossível sermos melhores do que já somos, a única coisa que podemos ser é quem já estamos sendo. O futuro só pertence ao nosso presente em construção, ou seja, ao Deus que encontramos dentro de nós. Hoje completam 36 dias que iniciei a minha inatividade semi-ativa. Digo inatividade semi-ativa pois deixar de falar é uma inatividade, semi-ativa é porque não tenho ficado ativamente em silêncio, como já disse, converso com algumas pessoas durante este período, mas não é mais uma atitude normal na minha vida. Tenho observado a admiração e/ou preocupação das pessoas diante da minha inatividade e será sobre isto que falarei agora dentro do núcleo da nossa essência de atração ou repulsão. Claro que preciso relembrar que não sou nenhum acadêmico, não possuo status de conhecimentos específicos ou gerais. Sobretudo tenho prazer em escrever sobre a minha experiência de uma maneira reflexiva para que fique explícito o meu sentimento diante deste pseudo-amor que os "adultos" possuem em relação ao status social, que desde o início dos tempos tentam rebaixar para se sentirem superiores.A filosofia contemporânea já cientificou-se nitidamente que a ação possui um valor culminante nas nossas vidas. Pegue o exemplo de um evento cultural. Imagine que lá estão milhares de pessoas, então um grupo, com cerca de cem pessoas, planejam por diversão simularem uma correria como se houvesse alguém pronto para disparar uma rajada de tiros com uma metralhadora. Cada uma das pessoas desse grupo sabem que é mentira, mas a intenção delas é fazer uma pegadinha, pois sabem que o medo passa de pessoa para pessoa. Qualquer ação possui um valor que nos motiva à alguma reação, ou seja, o troco. Agora, toda compra possui um produto relevante ao pagamento. Quando esta compra não está de acordo com o pagamento, dizemos que foi um mal negócio. Da mesma maneira funciona a ação, a boa ação tem um bom pagamento em contra ao mau troco para a má ação.Então imagine que uma das pessoas que estão no evento, mas que não saiba da ação, resolve sacar uma arma para se proteger. Outras pessoas que também não souberem da brincadeira, masvirem esta pessoa, vão ter para si e oferecer para outros a certeza de que realmente há alguém armado, isto enquanto todos correm de um lado para o outro. Desta maneira o pânico aumenta e então a brincadeira começa a ser tratada como uma verdade para o pânico. Suponha que algumas pessoas do grupo resolvam parar e acalmar os desesperados dizendo que era só uma brincadeira, nesta hora, o que elas estarão fazendo é "devolver" o produto da ação para não haver uma reação ainda pior. Siga a sua imaginação e veja que não dá mais para imaginar só uma situação. A confusão já foi feita.Diariamente acontecem ações de arrependimentos na nossa sociedade. De segundo a segundo nos arrependemos de alguma coisa. Escrevo algo no texto e volto a refletir sobre minha reflexão. Será que eu deveria ter colocado o ponto no lugar ou só uma vírgula seria suficiente? Qual será o meu pagamento por esta ação? Repare que a nossa preocupação em arrepender é a mesma intenção em começar a agir. Queremos receber! Então me lembro de um átomo com as suas órbitas e o número de elétrons que circulam cada camada. Quanto mais próximo do núcleo, mais difícil é de se perder um elétron. Aproxime um determinado átomo de outro e a tendência pode ser sempre uma ação e reação por causa da atração ou repulsão, ou seja, o recebimento e/ou o troco. Tudo na natureza funciona assim. A cadeia alimentar não é diferente. Não preciso dar nenhum exemplo para não ficar circulando tanto, mas gosto de circundar um pouco estes exemplos para que o leitor veja a aproximação das coisas de um ângulo real e não apenas de acordo com a nossa imaginação repleta de falhas.Durante a produção destes registros, percebo que ainda não fui encontrado, e não estou querendo ser encontrado por psicólogos ou psiquiatras, não por não gostar do que fazem, ao contrário, é profundamente admirável, mas não espero que eles me encontrem. Também não tenho interesse de ser encontrado por pessoas que se alimentam do status, que assim como cães ferozes, farejam talentos para montar a pirâmide do poder social. Não estou esperando ser encontrado por pastores, bispos, padres, religiosos que procuram encontrar Deus dentro de si apenas através dos outros. O salário do pecado é a morte. Neste mundo todos nós morreremos, é assim que percebo a realidade de todos nós sermos pecadores e se não depender da misericórdia da Natureza, talvez não tenhamos outra chance de reviver esta maravilha de oxigênio que tanto tenho prazer de sentir tocar a minha epiderme.Esta minha ação de produzir este livro em conjunto com a minha inatividade, também possui o interesse de receber um certo pagamento. Lógico que não me refiro ao dinheiro, óbvio que não me refiro ao status, mas se não é nada disso, então o que é?Caro leitor, honestamente eu não sei! Estou determinando a minha falta. Não quero influenciar ninguém a fumar maconha, não quero influenciar ninguém a beber, não quero tão pouco ser uma influência real na vida de ninguém, quero apenas ser junto com cada um que entende o que é ser. Ser não depende de ter, ser não depende de conquistar, para mim ser depende de respirar, sentir, emocionar, registrar tais emoções para que continuemos existindo, para que continuemos sentindo. Isto é o que vejo de Nietzsche em relação à arte grega. Assim encontrei o meu sentido. O destino eu já sei, mas eu não sabia qual era o sentido. Preciso continuar em silêncio por mais alguns dias até concluir estes registros neste período de inatividade semi-ativa, mas afirmo que provavelmente não demorarei muito. Sentir-se inativo não é agradável. É um tipo de morte. Me separei de muitas pessoas, perdi a conexão com muita gente. Não tenho diálogo. A maneira desentirem o que sinto é muito diferente para mim. Tento sentir o que as pessoas sentem, fico imaginando o que elas pensam enquanto estou perto. Às vezes no momento que estou longe penso mais ainda, outras vezes só quero continuar sozinho. O núcleo de cada cidadão que conheço é um atrativo confuso. Suas ambições costumam ser artificiais, mas elas não deixam de existir assim como eu, logo percebo que não são suas ambições que são artificiais e sim a minha visão em relação à artificialidade. Não há problema em ser ambicioso, em ter status, não há erro em querer ter de mais e ser poderoso, o problema está na maneira como relatamos isto para aqueles que não querem brincar com os mesmos brinquedos sociais dos adultos.A maneira como o núcleo de um provoca insatisfação de viver em outro me faz sentir que há uma obscura desumanidade nas nossas relações. Também sinto que deixamos de ser humanos no instante em que não nos esforçamos para sentir. Qual seria o nosso pagamento se vivêssemos "vivendo para inexistir"? Muita gente vive assim. Não quero nem pensar na palavra inferno, mas quero me afastar da sub-realidade nuclear de algumas pessoas que o promovem em vida. Elas criam o inferno nas suas imaginações e retransmitem o medo para que sejamos impedidos de sentir a beleza da vida. Por que será que está muito na moda a síndrome do pânico? Com certeza existem as pessoas que tentam nos alertar de que estamos sendo exatamente estas pessoas enfraquecidas, para que nós acordemos para a existência. Para que tenhamos coragem. Existe uma música do Cazuza que se chama Blues da Piedade, ela busca retratar este sentimento de pedir para que Deus possa ter misericórdia da vida destas pessoas que se sentem mesquinhas. Vejo que elas tentam produzir o medo em outras pessoas para que elas possam sentirem-se existindo. Não há necessidade de abafar o brilho de ninguém, a humanidade já tem seus medos naturais, não precisamos criar mais fantasmas. Dentre vários períodos que ouço, uma das orações que mais tenho escutado é "você é muito corajoso". Há momentos que tenho muita vontade de responder, mas só me imagino respondendo que não sou corajoso, sou apenas humano. Às vezes suspeito que corajoso são homens como o Silvio Santos ou o ex-presidente Lula, a sua sucessora Dilma, ou soldados que vão para qualquer tipo de guerra. Corajosos são os pilotos de avião, os policiais, os lutadores. Coragem para mim é ser alpinista, tem que ter muita coragem para subir num monte de terra, suportando um frio insuportável apenas para sentir-se. Neste caso eu tenho coragem de fazer sexo, mas ficar em silêncio para mim não tem sido uma questão de coragem e sim de construção da minha existência. Porém se há alguém que queira chamar de coragem, não há nenhum problema em dar esta reflexão, eu só acho que o que tenho feito não tem sido uma atividade e sim uma inatividade. Semelhante a uma faculdade, não é fácil, mas diferente de uma faculdade, pode ser vergonhoso. Não sinto vergonha, talvez por isto tratem como coragem. No meio deste silêncio um rapaz com o apelido de Noturno que eu não conhecia virou um grande amigo. Durante quase uma semana ele ficou na minha casa, dormiu no meu quarto e eu na sala, onde deixou meus pais mais tristes comigo do que já estão. Eles não estão entendendo ainda a minha proposta, mas peço a Deus que conforte seus corações pois tem sido uma fase estranha e difícil para todos nós. Este rapaz foi junto comigo para o barraco onde moro depois de nos conhecermos numa noite de domingo, porém antes de ficarmos um tempo no coreto tocando violão, eu já havia conhecido algumas garotas que admiraram a minha atitude e já falei a respeito delas. Não sei o nome de nenhuma delas, ironicamente digo que não perguntei. Elas foram as garotas que me assediaram no coreto da praça da liberdade. Estou pegando o exemplo delas e do Noturno para exemplificar um pouco sobre os núcleos de atração. Estudando a lei de atração até em física quântica talvez você entenderá isto melhor, mas digo talvez porque eu nunca estudei, hão coisas que apenas a epiderme já me fazem sentir dores ou satisfações. Acontece é que mesmo sem falar nada eu tenho sido algum tipo de atrativo e quanto mais as pessoas me olham confusas, mais percebo que minha vida tem mudado completamente. Nunca foi tão fácil conquistar garotas. Nunca foi tão fácil refletir sobre a vida. Para mim nunca foi tão fácil ser tão agradecido com a vida apenas por calar minha boca. Milhares de pessoas saem do interior para morar no núcleo das grandes metrópoles. O número de moradores de rua aumentam, os aglomerados intensificam e todos procuram meios de construir seus próprios núcleos, porém reparo que não alimentamos mais a nossa criatividade do que nos alimentamos da criatividade dos outros. Comemos a criatividade dos livros de autoajuda, comemos a criatividade da ostentação. Enquanto que nos Estados Unidos a população cresce em gordura, o Brasil cresce em cópias repetidas. Não estou aqui para falar mal da gula, porém você sabe o quanto é destrutivo para o nosso organismo brasileiro deixar que as nossas veias metropolitanas (ruas das cidades) fiquem cheias de gorduras (medos). É como se estivéssemos com medo do próprio medo que criamos. Não parece contraditório lutarmos contra nós mesmos? Imagine se nossos governantes resolvessem cair na realidade e parassem de falar para começar a agir. Até imagino um candidato à presidência, que durante o debate não dissesse mais nada, em seus segundos ou minutos de disputa, além de dizer que não vai dizer nada, pois não adianta dizer, só adianta mostrar na prática o que deve ser feito. Então daria apenas os destaques necessários, melhorar a educação e a cultura, a saúde e consequentemente a defesa social. Depois disso, não precisaria responder mais nada, porque não adianta dizer como fazê-lo. Dizer como fazê-lo é o mesmo que misturar as informações para abafar a falta de criatividade. Desde o início dos tempos o Brasil é um país imitão. Começou como algo do tipo República Federativa dos Estados Unidos do Brasil. Agora percebemos que somos apenas uma mistura de informações das quais na fala apresentamos as qualidades dos outros países, mas na prática destacamos as nossas fragilidades como as pessoas que são atraídas e não como as pessoas que atraem. Honestamente este sentimento me ajudou a calar a boca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vomitando Gritos de Silêncio
SpiritualUma experiência que me propus a fazer, que me deixou à beira da sanidade ou da loucura. Uma forma de aprender a ouvir melhor as pessoas. A experiência se passa em Belo Horizonte em 2014.