Estive pensando durante algum tempo, quanto tempo ainda preciso pensar para iniciar uma maneira simples e direta de colocar para fora os meus pensamentos e sentimentos. No dia 14 de setembro de 2014, tentei dar início a um "processo", por tempo indeterminado, de silêncio "absoluto". Durante esta caminhada de silêncio pela sociedade, obviamente estão havendo algumas pessoas que me perguntam se realmente tenho ficado em silêncio absoluto. Através de gestos tento responder que não, tento dizer que já conversei com muitas pessoas durante este tempo, mas poucas pessoas me aparentam terem entendido isto. Pelo fato de eu não saber falar em libras, fica ainda mais difícil a maneira de conversar, principalmente com os menos pacientes. São vários os meus objetivos com esta atitude, mas para resumir, digo que é apenas uma experiência de vida, porém continuarei informando outros motivos ao longo destes registros. Obviamente começarei dizendo sobre o principal objetivo, por isto preciso registrar que todos os objetivos são principais e estão misturados dentro do tempo necessário para cada situação, mas desde já afirmo que a minha tarefa mais difícil não é a de ficar em silêncio e sim a de explicar o real motivo deste silêncio, mas tanto quanto a necessidade de silenciar, tenho também a de me explicar. Então vamos lá. Com o passar do tempo tenho tido, cada vez mais, a certeza de que qualquer ser humano vive como o vento, sem saber de onde veio e tão pouco para onde vai. Sobretudo, todo ser humano vive da sua própria maneira, ao contrário dos animais que vivem da única maneira que podem viver. Não fomos programados para saber viver da mesma maneira que os animais são programados com a natureza instintiva. No meu leigo ponto de vista, vejo que hoje em dia aparentemente a maioria das pessoas demonstram não procurar tantas respostas, às vezes parece que elas demonstram já terem certeza daquilo que procuram. Talvez elas finjam, mas realmente me deixam a impressão de que já sabem o que é bom para si. Digo assim, "hoje em dia", mas não sei exatamente como viviam outros humanos nos tempos em que eu não vivi, apenas tenho a capacidade de imaginação, porém com a influência de tantos filmes de ficção que temos por aí, com tantas informações de teorias de conspiração que se assemelham muito com as histórias contadas sobre acontecimentos tais como a revolução francesa ou a queda de Constantinopla que a verdade absoluta e incontestável fica sempre em cheque diante de tantas ilusões (isto para evitar de usar o termo mentiras). No final acontece é que sempre voltamos ao ponto inicial de todas as perguntas, o porquê, o como e o para quê. Obviamente não percebemos estas perguntas no nosso dia-dia, mas tenho reparado que sempre as fazemos desde que acordamos até a hora de dormir, absolutamente todos os dias, porém não é normal usarmos estas palavras com palavras, acontece é que as usamos de outras maneiras, nós as praticamos, nós as sentimos, nós as escutamos, mas não temos o costume de proferir taisperguntas. Isto tem me deixado perplexo diante do mundo. Para mim isto é como olhar o mar, moro em Belo Horizonte e foram raras as vezes que fui à praia, e por ter ido poucas vezes, percebi o encantamento ao olhar para tal grandiosidade. A minha perplexidade diante destas questões são tão grandiosas quanto ouvir as ondas, sentir o cheiro de peixe, comer camarão frito olhando a linha do horizonte de frente ao mar sentindo o vento vindo de algum lugar. Esta perplexidade tem me inspirado a viver, tem me inspirado a caminhar. Confesso que desde adolescente perdi o interesse em ser humano, isto fez a minha vida dar um salto para a insanidade que fica embaralhada com a sanidade que nos rodeia. Com esta sensação de desilusão, meu veículo físico não mais tem tido combustível para caminhar conforme o ritmo da sociedade, ou seja, perdi o interesse de ter os mesmos "brinquedos" que a sociedade possui. Certa vez tive um sonho diferente. Houve um dia na minha vida que eu dormia tranquilamente e pela manhã, quando acordava, permanecia de olhos fechados, pensativo, e a minha questão era sempre a mesma, quem eu sou? Então, como em dois clicks do mouse, abri as janelas dos meus olhos e disse para mim mesmo: Menino! Este sou eu, um moleque, uma criança. Levo tudo na brincadeira, deve ser, é a única coisa que consigo ser, afinal de contas, o que neste mundo é para se levar a sério? Já memorizei tantas mortes, meu HD biológico já estava saturado de informações tristes, perdi o sentido desde a minha adolescência e desde então nunca vi sentido em viver, mas também nunca vi sentido em cometer suicídio. Isso não muda o fato de que eu continuo tendo um destino, não mudou o fato de que continuo vivendo, o que piora ainda mais o meu oxigênio, pois preciso carregar o fardo de saber que estou vivendo apenas com uma direção, mas sem sentido. Destino eu já tinha, mas precisava de um sentido. Em física aprendi que sentidos e direções não são as mesmas coisas, mas ambas precisam funcionar em conjunto. Logo percebi o sentido de uma direção e a direção de um sentido, isto abriu portas e janelas da minha imaginação para que eu construísse a minha casa, então hoje meu lar está registrado com o título de Menino Elias. Nunca fui muito fã de títulos, quando adolescente eu tinha uma certa aversão aos títulos, sempre considerei que eles fossem apenas uma maneira de se levantar uma bandeira, mas agora vejo que cada bandeira tem a sua história. Não vou priorizar a defesa do conceito de títulos que falei no parágrafo anterior, mas vou explorar um pouco esta ideia pois o leitor há de concordar comigo que sempre que perguntam "o que você faz da vida?" a vontade (mesmo que seja bem no fundo) é de dizer algo melhor do que já se faz atualmente. Por este motivo preciso explicitar este sentimento unânime. Através de alguns estudos sobre o amor platônico e o amor aristotélico. Percebi também através de um professor chamado Clovis de Barros Filho, que o ser humano é insaciável e também possui a capacidade de se satisfazer com o que tem, respectivamente correspondente ao amor de Platão e ao de Aristóteles. Reparei que podemos encontrar pessoas sacos vazios e também pessoas de saco cheio. Há inúmeras distinções e quando estas distinções se cruzam, nascem os conflitos sociais. Na minha pseudo-infantilidade imagino que pessoas invejosas seriam as pessoas de sacos vazios e as pessoas que se sentem invejadas seriam pessoas de saco cheio (ou não – vice-versa). Esta ordem pode ser alterada conforme a história da pessoa. Não sou nenhum profissional da área de humanas, estou dizendo como um verdadeiro leigo que ainda não se sentiu estimulado a estudar o ser humano a fundo, mas pela necessidade de conviver tenho admirado a uma certa distância a filosofia contida na nossa história humana. Então fiz esta comparação entre pessoas de amores platônicos e pessoas de amores aristotélicos, pois esta visão me ajuda a construir uma ponte para o meu sentido, pois é a partir desta visão que posso aceitar ou recusar determinadas coisas na vida. Obviamente não é uma tarefa tão fácil para um garoto que evita se colocar tanto no lugar dos outros, mas sabe da importância de um ponto de referência e as pessoas ao redor sempre terão atitudes referenciais para diversos méritos. Fato é que, da mesma maneira que não sabemos o dia da nossa morte, também as histórias contidas nos títulos de cada cidadão são incontáveis e incalculáveis para nós humanos. Sobre isto não é impossível de entender que haja um número e um cálculo específicos, nós apenas não nos sentimos motivados a lutar para descobrir qual é, ao menos não de modo geral. O que fazemos então com estas dúvidas? Deixamos para a próxima geração, e a história vem de geração em geração conforme a necessidade de todas as gerações: O sentido e a direção ocultos nas entrelinhas das perguntas "por quê, para quê e como?". Aprofundar nestas questões é cansativo, parece que no passado os gregos tentaram enfatizar o "por quê" das coisas, me aparenta também que durante a "iluminação" do renascimento para a idade moderna tivemos uma transição de acordo com o "para quê" (conforme homens como Frederick Nietzsche) e então na sociedade contemporânea, nos "cansamos" também dos confusos "para quê's" e então adentramos no "como fazer?". Esta terceira atitude social globalizada seria como por um ponto final nas questões anteriores para apenas vivermos e não mais questionarmos nossos motivos. Sendo motivado por isto, de forma inconsciente durante a minha adolescência, acabei criando a minha própria bandeira para voltar a analisar estes assuntos que atualmente costumam serem menosprezados verbalmente, no entanto são sentidos diariamente.Você não há de concordar que o protesto de um professor brasileiro costuma ser hipócrita quando ele fala mal do salário de um jogador de futebol. Caso você acredite que seria inveja da parte de um médico protestando nas ruas contra os salários dos políticos, caso você considerasse ser "recalque", provavelmente não falariam mal de você, normalmente a única coisa que fariam seria sentir bem no fundo que você não bate bem da cabeça - ou que é um pedreiro ou gari. Observe que não estou dizendo mal de ninguém, mas sim fazendo uma análise conforme a sociedade que estamos inseridos. Os olhares se entrelaçam e conforme a necessidade de cada um, é gerado canibalismo psicológico. Uma espécie de antropofagia temperada com status social e os olhares enojados ou raivosos são as bocas salivantes por causa de alguma inveja ou defesa de seus próprios interesses. Há sentimentos de soberanias silenciosos perpassando em conjunto enquanto passeamos nos centros das cidades. Principalmente dentro do trabalho, até nas escolas, mas isto não tem acontecido comigo desta maneira. Nesta história tenho sido apenas um telespectador. Uma criança aprendendo com os adultos que ficam disputando quem tem mais "brinquedos". Quem possui mais títulos para provar as suas motivações? Quem possui mais motivação para apresentar seus títulos? Mas todos estamos no mesmo barco que os gregos estiveram, ou qualquer outro com suas dúvidas diante da grandiosidade do universo, então vamos admitir de uma vez por todas, estamos cansados desse assunto antigo, queremos crescer, só não sabemos como.
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Vomitando Gritos de Silêncio
SpiritüelUma experiência que me propus a fazer, que me deixou à beira da sanidade ou da loucura. Uma forma de aprender a ouvir melhor as pessoas. A experiência se passa em Belo Horizonte em 2014.