Das Vezes que Falei

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Perdi as contas da quantidade de dias que falei absolutamente nada da mesma forma que perdi as contas dos dias que falei pouco ou muito. A única coisa que suspeito é que em momento algum falei o suficiente. O suficiente não fica por minha conta, o suficiente fica por conta de quem escuta. Hoje é dia 22 de outubro de 2014 e antes de pegar o metrô para vir ao trabalho, escutei uma música do Gabriel Pensador chamada "Bossa Nove", que contém uma frase onde ele diz "...se eu reclamo é porque eu amo isso aqui", em referência ao Rio de Janeiro. Meu principal pensamento dentro desta frase é em relação ao "...amo isso aqui", mas preciso falar primeiro sobre a indignação. Aprendi com um documentário chamado "A Resposta para Absolutamente Tudo", onde encontrei no youtube, que tudo o que eu pensava só era real por causa de tudo o que já escutei. Nada do que eu sei é da forma como sei por causa da forma como é, mas sim por causa da forma como aprendi. Ainda tenho tentado negar isto através da fé, mas enfim. Isto é voltar para si e entender quem estou sendo, mesmo que as coisas sejam como elas deveriam ser independente da minha vontade, sobretudo eu posso reclamar. Se em algum momento falei algo insuficiente ou falei absolutamente nada, a culpa não é minha e sim de quem escutou, no entanto se a reclamação for por uma insatisfação diante de algo que se deseja (que se "ama"), então se estão insatisfeitos com as coisas que falei, tenho quase certeza de que desejam que eu melhore a minha fala.Agora, tive que colocar dentro do último parêntese a palavra "ama" entre aspas, nos meus pensamentos não foi de forma aleatória (desta vez). Nos tempos atuais aprendi na prática que desejar nem sempre é amar. Aprendi que o amor é algo profundamente subjetivo pela sua extensa complexidade. Quando o comediante Eduardo Sterblitch foi ao programa do Jô Soares, disse que sua avó proferia uma frase que alerta: "O inimigo do bom é o melhor". Quero informar que "desejar o bem" não é proveniente apenas de um amigo. Amigos trazem sentimentos bons, provenientes de quem ama. Amigos trazem sentimentos fraternos, mas as armadilhas fraternais podem ser construídas por quem não aprendeu o prazer de amar.Um dia antes de iniciar este processo de silêncio, tentei programar em encontro com algumas pessoas que demonstram serem minhas amigas, inclusive meus pais. Eu ia levar o violão, ia passar a tarde na praça do Papa tentando explicar o porquê de fazer isto, o para quê de fazê-lo e também como iria rolar. Porém ninguém foi, meu pai tinha algo mais importante para fazer que era ficar perto do carro que estava passando por uma manutenção numa oficina. Minha mãe ficou esperando ele em casa e não pensaram que os ônibus poderiam nos levar até lá. Enfim, o sonho médio sempre atrapalhando nossas purezas naturais. Acontece é que pelo fato de eu não ter explicado ninguém neste dia, infelizmente tive que agir de improviso. Graças a Deus foi assim, deve ter sido melhor não sendo planejado, tem dado tudo muito certo, porém tenho encontrado algumas pedras nos caminhos. Tenho trilhado vários caminhos entre as pessoas, me lembro de muitas pessoas que conversei, se elas se lembram de mim eu não sei. Só não lembro bem por causa dos entorpecentes e que acho de uma certa forma, algo repudiável nas minhas atitudes. O que realmente tenho certeza é que a valorização que dei para estas pessoas foi relativamente grande. Acontece é que existem frutos que são plantados durante as falas e muitos frutos são perdidos. Jesus e Nietzsche fizeram desta mesma maneira. Acontece é que Jesus tem poucas falas e Nietzsche tem diversos livros cheios de ideias emboladas. Mas todas elas são sementes que buscam por finalidade um fruto específico.Gostaria de ter explicado para um grupo de pessoas as minhas finalidades, para que não pensassem que eu estou ficando louco. Para que não pensassem que eu estou pirando de vez, como descrevi antes, um dos meus maiores medos tem sido o fato de eu estar percorrendo a marginal da avenida loucura. Como diz uma música da banda Porcos Cegos, "...sonhos grandes, sanidade pequena...", há variados momentos que sinto ser exatamente isto. Para que eu volte à realidade, faço um pequeno diálogo dentro da minha cabeça, onde acabo questionando toda a humanidade com uma simples pergunta que poderia ser traduzida para todas as línguas do mundo que ninguém saberia a resposta conforme a Verdade: "De fato você sabe qual é a Verdade da Vida?". Nem precisa tentar traduzir para saber que qualquer resposta será subjetiva e não científica. Assim retomo a minha sanidade mental e percebo que toda a ilusão descrita no livro de Eclesiastes é tão surreal quanto a sabedoria do ser humano. Por tanto, o desânimo nesta pergunta não abala meu gigantesco sonho de simplesmente construir uma história conforme o sentimento que veio dentro do meu coração. A vontade de viver para aprender e falar para reproduzir. Repetindo em outras palavras: "A vontade de viver para ouvir e aprender para gerar algum bom fruto".Das vezes que falei, até o dia de hoje, ainda não colhi os bons frutos e tão pouco sinto que vou colher. Até agora suspeito que só plantei mato e vou ter que aprender a viver, conviver e sobreviver no meio de insetos, pequenos animais, pragas e sabe-se lá mais o que. Entretanto tenho certeza de que até agora tem funcionado mais como um aprendizado do que como uma fertilização de ideias.Os frutos que foram plantados na minha cabeça são os frutos da razão, da arte e da fé, dentro deles é possível encontrar diversos tipos de sabores, basta saber utilizar tais frutos para um fim pretendido. Dos três, o mais difícil de compreender é a fé, por tanto, deixarei este apenas para o fim da vida, sendo a razão e a arte os frutos em meio à vida.Dentre os momentos que eu disser algo, pretendo plantar uma delas, duas das ou as três sementes no coração de cada pessoa que me ouvir falar, mas não quero falar para um mau plantio e a subjetividade é algo que não posso controlar. Das vezes que falei até agora, reparei algumas situações. Hoje já é dia 23 de outubro e desde o último fim de semana eu tenho conversado muito com uma garota apenas pelo whatsapp, ela ainda não ouviu a minha voz se não cantando. Ela demonstrou muito interesse em me ouvir falar, também ficou muito interessada em mim e eu gostei dela. É uma garota linda, gostaria muito de manter mais contato com ela, porém não é apenas com ela que tenho falado, mas quem disse que cada uma das pessoas sabem disso? Eu não falo se não perguntam, porém hoje ela me perguntou e eu respondi a verdade. Não vou mentir, mentir não faz parte da minha proposta. Após ter dito a ela que já falei e que às vezes falo com outras garotas, ela ficou com muito ciúmes e acho que ela não está mais interessada em mim. Eu fiquei meio chateado na hora, mas na realidade estou rindo porque se ela não entendeu, o problema não é meu. A subjetividade é linda porque ela nos dá autonomia, mas também pode nos tornar injustos. Se ela entender que realmente estou interessado nela e não nas garotas com quem converso às vezes, por motivos específicos individualizados, ela irá entender que só estou interessado em ficar com ela e que as outras são apenas amigas que raramente falo. Não são apenas garotas, falo até com meus pais, também com o Noturno que veio aqui em casa e dormiu quase uma semana no barracão. Porém as pessoas precisam entender a ideia da subjetividade. Não estou nenhum pouco preocupado se este "voto de silêncio" não tem sido tão silencioso, quem se preocupa com isto são elas, eles, sei lá, tanto faz. Acontece é que mantenho o silêncio sim, mas quando quero da mesma forma que falo quando quero.Agora pense comigo mais um pouco. Se a garota ficou insatisfeita com o fato de eu conversar com mais alguém além dela, significa que o ciúme dela está criando uma subjetividade sem justiça diante dos fatos. Assim percebo que a mesma coisa fiz com minha ex-namorada. Minha injusta subjetividade fez com que em algum momento a Rute se afastasse de mim. Acha que será diferente da minha parte para com esta garota? Aprendi com a Rute a não perdoar injustiça quando realmente estiver diante de uma. O máximo que vou fazer é continuar minha vida, pois está cheio de peixes neste enorme aquário. Ela não sabe disto até agora, mas esta garota foi a primeira garota que mandei este livro. Enviei ele parcialmente, pois ainda está em construção. Enviei a poucos dias pelo facebook. Fiz isto apenas com ela, se ela não valorizar isto, como poderá valorizar minhas outras pequenas qualidades? Esta tem sido uma qualidade da qual estou levando a sério. Perceba a intensidade disto. Até então eu não conseguia ficar com nenhuma garota, eu era um cara que não tinha físico e nem papa na língua para conquistar nenhuma garota, sobretudo, neste aspecto, dei a volta por cima e conquistei algo que ainda não estou acostumado. Estou empolgadíssimo com esta história. As pessoas valorizam minha voz quando canto uma música. Só eu sei o quanto as pessoas ficam felizes quando me escutam. Elas demonstram uma valorização, por tanto, demonstrei mais uma valorização para com esta garota, mas ela não quis valorizar.Hoje é dia 27 de outubro e tenho algo para acrescentar na história em relação a esta garota. O nome dela é Julia, ela disse que podia falar sobre ela. Gostei muitíssimo dela e até parece queteríamos um caso muito gostoso pela frente, porém a irmã dela leu nossa conversa em particular do whatsapp. "Roubou" o celular dela para bisbilhotar e após saber disso, levou até o "grande" pai protetor e disse que não queria que ela conversasse mais comigo. Ela foi obrigada a me bloquear do facebook e do whatsapp, mas senti uma pontada de insatisfação dela também. Antes de ontem foi o último dia que falei com ela, mas desta vez, não falei mais pela internet. Telefonei para ela e falei que podia resistir, que nossos pais não são nossos donos. Coisas do gênero, mas quem disse que ela me deu ouvidos? Há momentos que devemos saber exatamente o que falar para não estragar um relacionamento. Com isto acabei descobrindo que não preciso planejar o que vou falar, apenas preciso dizer o que sinto conforme a minha realidade, e se não gostarem, o problema não será de fato meu e sim da particularidade de cada pessoa. É a questão da subjetividade, se não desejam, então eles que saibam da sua própria satisfação. A minha não é viver com pessoas que procuram dominar a minha vida. Cheguei a dizer para ela que eu não sou um robô dos meus pais programado para fazer o que eles querem, quando faço é por amor. Ela disse que ama os pais dela e por isso percebi que ela me chamou de fracassado assim como o pai dela também falou. A concordância em família faz parte da subjetividade. Ela me bloqueou e não sei se voltaremos a nos ver mais. Glória a Deus, a vida que segue.Cheguei a conversar também com a gestora do meu trabalho. Ela é uma pessoa maravilhosa. Uma psicóloga que gerencia o Centro de Prevenção à Criminalidade. Ela gerencia dois programas de grande importância na sociedade, onde auxiliam na reintegração social de remanescentes do sistema prisional ou em penas alternativas de pequenos delitos. Com certeza ela é uma pessoa com uma cabeça fascinante, não deveria ser para menos. Fui conversar com ela e expliquei que estou tendo a melhor experiência da minha vida. Esta minha fala foi para que ela pudesse me ajudar a manter silêncio no meu trabalho. Assim, não tenho falado com absolutamente ninguém lá dentro. Não faço ideia do quão pensativos estão cada um dos meus parceiros de trabalho. Sou apenas um simples digitador, não tenho a necessidade de conversar enquanto trabalho, isto tem me dado liberdade para refletir. Ajuda também no tempo que são apenas 6 horas de trabalho por dia de segunda à sexta. Está perfeito! A única coisa que tem prejudicado é a má interpretação de algumas pessoas.A pressão psicológica que sofro tem sido dentro de casa com minha família, e mesmo assim eles estão se esforçando muito para me respeitar. Jogo bola na terça feira e falei algumas coisas durante os jogos. Quando a adrenalina sobe parece que não tem jeito, mas estou trabalhando isto também. Tem sido mesmo uma experiência inesquecível, tanto na parte difícil quando na prazerosa.Tenho certeza de que o maior problema ainda está por vir. Haverão momentos mais intensos. Um dos momentos que estou esperando com ansiedade é a abordagem policial. Se uma velhinha me perguntar as horas na rua, eu informo baixinho para ela, ou não, vai depender da cara da velha. Tem umas velhas rabugentas que fico com medo, velhas têm muitas histórias, se as mulheres mais jovens já são capazes de atrocidades psicológicas, velhas podem até fazer magia psiquiátrica. Entretanto se for uma abordagem policial, vou me recusar de todas as formas. Principalmente se estiver com o papelzinho com as informações dos motivos do meu silêncio. Se quiserem me levar preso por desacato, vou ter uma história mais recheada para registrar, pois não vou dizer nenhuma palavra a eles. Realmente estou levando a sério esta pequena insanidade da qual o sonho é profundo numa realidade tão artificial.

Vomitando Gritos de SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora