Uma Vez Para Nunca Mais
Está pensando que cachaça é água? Cachaça não é água não! Uma semana depois de meu "fingimento de mudinho na porta do shopping" (como diz o Manel e o Bernardo) ter terminado, volto a construir meu último texto para a conclusão destes registros. Achei que já havia concluído, sobretudo estive errado em relação a isto, o que me faz lembrar que sempre terei algo para registrar e muitas histórias perdidas ao longo desta vida, não me sinto especial por registrar estas coisas, mas me sinto exclusivo por estar vivendo. Espero que o leitor se satisfaça com este sentimento. Preciso registrar outra deficiência que tive. Agora meu objetivo será difamar a minha própria sanidade mental apenas para deixar mais um exemplo de vida do qual gostaria que as crianças (chamo de crianças as pessoas que queiram entender o que digo) possam perceber que por mais que tentemos apresentar uma certa inteligência, ela também não é algo que nos prevenirá de estarmos vulneráveis aos ataques contra nossas próprias vidas. Tudo começou quando nasci. Foi um certo tipo de acidente, mas tudo bem, foi um modelo de acidente que agradou ao mundo em certas coisas, mas em outras foi uma piada ruim, de qualquer forma, meu nascimento prematuro não me invalidou de interpretar cognitivamente certos sentimentos dos quais parte da sociedade considera ser inexistente. A história é a seguinte: Estive na praça da liberdade durante uma sexta feira, após quase uma semana depois que eu já havia voltado a falar. Bebi muito durante aquela noite. Tem acontecido vários programas culturais por vários lugares de Belo Horizonte e um destes foi um sarau bem organizado, com guardas municipais, seguranças bem vestidos com ternos, um clima social de família onde ocorria uma apresentação de poesias. Sem saber o que estava ocorrendo, passei por lá para saber o que estava acontecendo e então descobri este sarau. Estava chovendo, mas acho que foi a prefeitura que organizou uma cobertura muito bem feita. Quando passei por lá, meu nível de embriaguez estava bastante ativo, o suficiente para me dar coragem de recitar uma das minhas músicas em forma de poema. Quanta bohemia da minha parte achar que a arte se faz sob efeitos. Então recitei a primeira parte de uma maneira muito desajeitada, fazendo microfonia naquele aparelho chamado microfone. No entanto consegui recitar, porém minha falha mental me fez esquecer a segunda parte do poema. Pedi desculpas dizendo, ainda desajeitado, que estava muito bêbado, para piorar, fui como Jesus dizendo que eu iria retornar, neste caso, para recitar o resto que esqueci num branco. Para a minha saída, como vi que no meio da roda daquelas muitas pessoas havia uma taça de vinho entre duas garrafas de um vinho relativamente fino, após os aplausos de consolo e também de satisfação pelo entendimento da primeira parte do poema, pedi licença para beber daquele veneno e antes mesmo de me darem a liberdade de bebê-lo, eu já estava pegando a taça para conferir se tinha sabor de água, ou seja, minha insanidade se foi quase numa golada. Quando o próximo poeta de rua foi recitar seus sentimentos para aquela gente bonita, eu saí para jogar uma água na cabeça, naquele bebedouro que tem na praça. Já estava chovendo, eu já estava muito molhado, mesmo assim quis molhar a cabeça, tinha que ser no bebedouro, quanta desvalorização da minha parte para com a água dada diretamente por Gaia. Após a minha ignorante atitude de chover no molhado, retorno para o sarau, para recitar o restante do poema. Antes que eu fosse àquele aparelho chamado microfone, fiquei observando a inspiração dos poetas ali presentes, e uma coisa bizarra aconteceu. Em meio a todos aqueles olhares sociais, o fantasma de liberdade daquela praça se fez presente no poeta que pregava fazendo-o despir-se completamente diante da plateia. Nu! Foi incrível, aquela gente nem se importava e eu não sabia se era verdade o que estava vendo. De toda forma achei fantástico, mas não vi necessidade de imitar aquele rapaz, só depois fui descobrir que aquele era um sarau chamado de pelado. Vários outros fizeram a mesma coisa, mas ainda eu não tinha esta ciência. Assim que o artista fez o seu papel, fui em direção àquele aparelho que o leitor já sabe o nome, e de uma maneira ainda mais desengonçada, com direito à microfonia grave e aguda, consegui recitar a segunda parte do meu poema, que dizia em seu refrão repetidas vezes: "Eu vou voltar para minha cela, talvez então vá se lembrar que estou numa prisão, assim como você está." - Pronto, eu já estava satisfeito por ter deixado meu recado, não reparei se houveram aplausos, mas sei que não faltou compreensão sentimental, embora talvez esqueçam das palavras que usei. Foi simples assim, desajeitado e direto, cumpri meu papel como artista deixando aquele lugar dando as costas e cambaleando. De lá fui até a fonte mais próxima do coreto e pulei na água. Outros dois malucos fizeram o mesmo que eu e eu nem os conheço, mas tentei ajudar a não machucarem um dos dois rapazes que foi o último a sair da água, alegaram que ele estava fingindo estar possuído por um demônio e queriam bater nele por isto. Como é hilário esta vida. Por não ter conseguido ajudar aquele rapaz de forma precisa, saí de perto daquela gente estranha sem estranhar tanto, afinal de contas, conquistando o apelido de mudinho, como eu posso me dar o luxo de estranhar qualquer atitude? Pois bem, ao sair de lá fui até a outra fonte, tão molhado quanto girino, me assentei próximo a água da fonte mais próxima do bebedouro. Naquela fonte existem vários canos de ferro agudos, não fui lá para pular na água, desta vez fui apenas para jogar mais água no rosto, ao escorregar de forma bizarra, fui com o rosto de encontro a um dos ferros e rasguei meu rosto. Após cair, voltei imediatamente por reflexo para o canto onde estava, olhei para o prédio à minha frente, pisquei os olhos com medo e senti vindo do canto inferior do olho direito, uma voz dizendo: Filho, você está ansioso de mais, não tenha pressa, pare de insistir em correr atrás do vento como se o vento não fosse voltar mais. Estou te dando outra chance de não perder a sua visão. Foi assim que abri meus olhos melhor para a inutilidade de viver buscando aventuras perigosas. Do que adianta correr riscos e esquecer de si mesmo? Pelo nível de embriaguez, não percebi que tinha sido tão sério, eu só havia sentido esta voz divina vinda de uma dor, tudo bem que esta voz é algo que dá pra ser racionalizado, não é algo além da nossa natureza, mas como o leitor já sabe, esta é minha maneira de entender a vida. Alguns rapazes que viram meu rosto me avisaram do pequeno estrago que havia sido feito, um corte que deixou minha carne exposta e o sangue escorrendo junto as gotas de chuva. Por este motivo, após algumas horas, fui até o hospital João XXIII. No hospital não tive tanta pressa para ser atendido, mas não demorou muito para me chamarem e assim que fui para uma sala de cirurgias rápida com vários outros pacientes, uma linda médica chamada Marina, de olhos verdes, lindos, me atendeu. Meus hormônios me fizeram ter um diálogo muitíssimo saudável, onde ela perguntava e respondia tanto quanto eu respondia e perguntava. Enquanto os outros médicos e pacientes também ouviam nossa conversa, eu dizia para ela a minha relação curta de vida com Nietzsche e Jesus, dizia um pouco sobre minhas experiências e meus sentimentos, sem medo de ser livre, falava sobre drogas, sobre a nossa sociedade, nossos medos, e ela também me falava com carinho sobre suas tristezas, redescobri que até uma estagiária de medicina quase formada pode ter seus problemas psiquiátricos. Ao aplicar bastante anestesia no meu rosto, não pude mais ver direito, mas continua conversando. Quando ela saia de perto, eu a chamava "Olhos brilhantes?" e a resposta "Estou aqui Elias". Aquele sentimento me deixou tão tranquilo para receber aquela agulha no rosto que nem me importei com os pontos para abrir um pouco meus olhos, e via aqueles olhos lindos. É uma pena como não sabemos valorizar os detalhes dentro dos momentos nas nossas vidas, e elas se vão sem deixar lembranças, pois não guardamos na caixinha de memórias, mas sempre vou me lembrar dela, no entanto, acho que isto foi apenas uma vez para nunca mais. Foi apenas mais um momento como vários outros que deixarei registrado, mas agora que tenho um pouco mais de visão, com a venda deste livro, vou comprar um óculos para evitar de ficar me aventurando como se eu fosse um atleta físico e me aventurar um pouco mais nas emoções da minha própria mente. O leitor tem o direito de enxergar uma contradição que negue boa parte do que falei desde o início, mas eu nego isto, pois uma experiência que não teve influências drásticas na minha vida, não mudou meu futuro de modo incisivo, apenas de modo alertado, e muito bem alertado, qualquer momento em que eu ignorar estes avisos, é por minha conta e risco, pois uma vez já fui alertado. Agora deixo meu agradecimento definitivo e espero ser lembrado, sendo positivo ou negativo, mas sempre de maneira construtiva. Apesar dos meus defeitos incluindo este último texto em referência ao meu erro bizarro, se torna evidente que não estou aqui para dizer o que é perfeito enquanto humano, só estou aprendendo a ser criança depois de ter conhecido o mundo adulto que tanto tem me dado tédio, depois de ter me deparado com a esperança em voltar a viver de um modo melhor do que o proposto atualmente de modo prático. Agradeço a todos, principalmente aos que se opõem, pois sem estes provavelmente eu não tentaria me encontrar. Muito Obrigado.
Esteja em Paz!
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Vomitando Gritos de Silêncio
EspiritualUma experiência que me propus a fazer, que me deixou à beira da sanidade ou da loucura. Uma forma de aprender a ouvir melhor as pessoas. A experiência se passa em Belo Horizonte em 2014.