»★« ; 𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝟓𝟔

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KENJI NAKAMURA

ᴸᵒˢ ᴬⁿᵍᵉˡᵉˢ;
ᴱᵁᴬ ²² ᵈᵉ ᴬᵇʳⁱˡ ᵈᵉ ²⁰²⁴

Tudo estava de cabeça para baixo por culpa dele. Era fácil culpá-lo, mas, no fundo, eu sabia que meus próprios atos também traziam consequências. Nada do que fizemos foi impulsivo; cada movimento foi calculado com cautela. Nossos planos seguiam o caminho que Javier e eu traçamos, e a morte de Victor não fazia parte desse roteiro. Ambos sabíamos que ele sairia do tabuleiro, mas não imaginávamos que nosso verdadeiro mestre faria uma jogada tão ousada. Lucius... Ele sempre estava um passo à frente, nos forçando a sermos meros peões em seu jogo. Não era inesperado, claro — como o mentalista que é, sabíamos que essa possibilidade estava sempre presente. Ainda assim, aqui estou, esperando ansiosamente sua próxima jogada. A frustração me consome por não saber quem ele é, por nunca ter visto seu rosto. Se eu ao menos o tivesse visto uma única vez, talvez tudo fosse mais simples. Talvez minha tortura não fosse tão... insuportável.

Blair só descontou sua angústia no Javier por não saber a verdade ou até mesmo a ponta do icebergue do nossa realidade. Por não saber que é Lucius que está o assustando com aquelas perseguições e presentes macabros, ela acabou despachando o idiota do Torres. 

Se aquele idiota do Javier não fosse tão confuso, eles dois não estariam brigados, não se odiariam com essa intensidade. E Blair... Se ela não fosse tão irritante, tão quebrada, talvez não tivesse se afastado daquele imbecil. Eles são ridículos. Se tivessem tido coragem de se confessarem, eu não estaria agindo como estou agora. E no fim, tudo isso é culpa daquele desgraçado que, desde que nasceu, decidiu se intitular meu amigo.

Ele cairia duro no chão se me visse agora, me comportando como um lobo atrás daquela raposa. Quem diria... Eu, Kenji Nakamura, correndo atrás de alguém que sempre gritei aos quatro ventos a não ser nada para mim, mesmo ter ganhado-a em uma aposta. No começo, era apenas mais uma que cruzou meu caminho. Mas agora, toda vez que olho naqueles olhos turquesa, sinto minha alma presa a ela. E o pior... A simples ideia de que ela me trocaria pelo primeiro idiota que cruzar seu caminho me deixa completamente desorientado. Ao ponto de agir compulsivamente. Não sou de agir assim, mas ela me desestruturava por inteiro desde o primeiro dia que nossos malditos olhares se cruzaram.

Deve ser essa a sensação primordial que André sempre mencionou, aquela que surgiria quando eu finalmente encontrasse aquela que chamaria de minha.

Emilly Johnson. … Ela é minha.

— Volte aqui, sua peste! — gritei ao ver a ruiva correndo assim que me avistou do outro lado da rua. Era uma questão de segundos: assim que pensei nela, vi sua figura parada na calçada, esperando o sinal ficar vermelho. Mas assim que aqueles olhos afiados e astutos como os de uma raposa se encontraram com os meus, ela se assustou e saiu correndo na mesma direção de onde viera.

Corri atrás dela, os passos batendo firmemente contra o chão, enquanto a adrenalina pulsava nas minhas veias. A rua se transformava em um borrão ao meu redor, mas eu só conseguia focar nela, na forma como seus cabelos ruivos brilhavam sob a luz do sol, como uma chama escapando do controle.

— Emilly! — gritei, a frustração e a urgência se entrelaçando em minha voz.

Ela virou a esquina, seus tênis batendo rápido contra a calçada. Cada vez que eu achava que ia alcançá-la, ela se afastava ainda mais, como se estivesse jogando um jogo cruel. A angústia se acumulava em meu peito; o que ela pensava que iria conseguir? Por que corria de mim? Se era eu que deveria estar correndo dela. Essa garota…

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