Quando as estrelas se apagam

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Stefany Martins

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Stefany Martins

Já fazia três dias desde que eu havia sido liberada da delegacia. Três dias em que eu ignorava o mundo ao meu redor, incluindo Gabriela. Eu ainda não sabia como aquilo tinha acontecido, mas a polícia tinha provas muito consistentes de uma suposta ligação minha com o comando do crime local (este, que era gerenciado por alguns parentes meus), indo muito além do meu parentesco com os Bianchi. Danilo me disse que um primo distante, de cuja existência eu sequer sabia, tentou afundar os negócios da família, colocando a culpa nos elos mais fracos — incluindo eu. As acusações contra mim eram graves: associação criminosa, conspiração para cometer delitos e obstrução da justiça por não ter denunciado as atividades ilícitas que eu supostamente sabia. O caso era tão sólido que Danilo me informou que a única forma de eu ser absolvida seria com bastante suborno, e foi o que aconteceu.

Por debaixo dos panos, houve uma negociação milionária, e eu fui solta vinte e quatro horas depois. Afinal, era só isso que a polícia queria: dinheiro. Esse primo não havia traído apenas a família, mas também as pessoas que o ajudavam, como a polícia, que agora usava suas ações para justificar suas acusações. Ele havia se colocado em uma posição de desonra, tentando afundar os negócios da família e, ao mesmo tempo, expondo a todos nós a um sistema corrupto que não hesitaria em me sacrificar para proteger seus próprios interesses. Mas os Bianchi moveram céus e terras para me tirar das grades, e isso me deixou surpresa, porém a resposta de Danilo foi:

— Somos uma família e a gente sempre defende a família.

Fiquei ainda mais surpresa quando meu pai, ainda que muito debilitado, apareceu no meu apartamento perguntando como eu estava. Acho que essa foi a primeira vez que vi uma sombra de preocupação em seus olhos; era a primeira vez que ele agia como um pai. Lorenzo era um homem muito bonito, no auge dos seus 57 anos, mas estava definhando, sofrendo de Alzheimer, provavelmente devido às drogas que usou por tanto tempo. Dizem que, quando as coisas apertam, o filho à casa torna, mas quem diria que eu veria meu pai na minha casa, chorando e pedindo perdão. Ele estava com medo de morrer, isso era um fato; estava com medo de ir para o inferno depois de tantas coisas ruins que fez. Mas não cabia só a mim perdoá-lo, eu era apenas uma linha em toda aquela história.

Eu disse a ele que o perdoaria, não agora, mas que um dia o faria, depois de muitas sessões de terapia. Ele riu e me pediu um abraço. Eu o abracei, me sentindo estranha, era como abraçar uma pessoa desconhecida e estranhamente familiar.

Depois que ele partiu, me isolei no meu apartamento, sempre temendo que, a qualquer momento, a polícia pudesse aparecer novamente. Aquelas vinte e quatro horas foram um tormento absoluto. O tempo todo, algum policial ou delegado entrava naquela minúscula sala de interrogatório, um lugar frio e sem janelas, onde as paredes pareciam se fechar ao meu redor. Eles me acusaram de coisas que eu sequer sabia o que eram, como se eu fosse um monstro em um jogo de poder. Os gritos. Sem dúvida, os gritos foram o que mais me atormentou. Ser tratada daquela maneira, como se eu tivesse cometido um crime hediondo, sendo que nunca havia feito mal a uma formiga sequer. O assédio psicológico era insuportável, com perguntas repetidas e provocativas, tentando me persuadir a confessar coisas que eu não havia feito. As longas horas na delegacia ainda me assombravam: o medo de ser considerada culpada, o horror de ser uma marionete nas mãos da polícia, e o desespero que crescia a cada instante. Cada olhar acusador, cada tom de voz elevado me deixava mais paralisada. E mesmo em casa, eu só queria me encolher no canto do meu quarto, agarrada ao meu gato, buscando algum consolo em sua presença. Meu Deus, como eu queria que Gabriela estivesse ali.

Em Meio às 𝓔𝓼𝓽𝓻𝓮𝓵𝓪𝓼 ✦ Gabi Guimarães Onde histórias criam vida. Descubra agora