Entre Cores e Silêncios

Decisões e Despedidas

A semana da viagem de Faye se aproximava mais rápido do que ela gostaria, e o clima em casa era uma mistura de ansiedade e despedidas antecipadas. Yoko fazia o possível para parecer tranquila, mas Faye sabia que algo estava incomodando-a. Na verdade, as duas estavam tentando disfarçar o peso da situação, aproveitando os últimos dias juntas antes de Faye embarcar para Nova York.

Naquela manhã, Faye estava finalizando os últimos detalhes da sua partida. Os quadros estavam prontos, as malas quase todas feitas, e a galeria havia confirmado seu voo para dois dias depois. Mesmo com a cabeça ocupada com a viagem, seus pensamentos sempre voltavam para Yoko e a bebê.

Ela olhou pela janela da sala e viu Yoko no jardim, distraída, mexendo no celular, provavelmente buscando receitas ou algo que a mantivesse ocupada. Um suspiro escapou de Faye enquanto ela observava, sabendo que a conversa que vinham evitando tinha que acontecer.

Caminhou até o jardim e sentou-se ao lado de Yoko no banco de madeira. O silêncio entre as duas era confortável, mas carregado de coisas não ditas. Faye decidiu quebrá-lo.

— Já decidiu o que vai fazer enquanto eu estiver fora? — ela perguntou, tentando soar casual.

Yoko ergueu o olhar e suspirou.

— Não sei... Eu ainda vou ver isso. Mas não quero falar disso agora. — Ela tentou mudar de assunto, mas o desconforto era palpável.

Faye mordeu o lábio, sabendo que não podia deixar isso passar.

— Yoko... — ela começou, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Eu preciso saber o que você quer. Quero ter certeza de que, enquanto eu estiver longe, você vai estar bem. Não quero que você se sinta sozinha.

Yoko ficou em silêncio por um momento, encarando o chão antes de finalmente responder.

— Vou sentir sua falta, Faye. Eu sei que você vai atrás do seu sonho, mas... é difícil imaginar ficar dois meses sem você aqui, sem sua companhia, sem sua ajuda. — Ela olhou para Faye, seus olhos revelando o que tentava esconder. — Estou com medo.

Faye segurou a mão de Yoko, sentindo a vulnerabilidade naquelas palavras. Ela não estava sozinha nesse sentimento.

— Eu também estou com medo. — Faye admitiu, entrelaçando seus dedos aos de Yoko. — Mas eu preciso que você confie em mim. Eu não vou a lugar nenhum. Quero dizer, vou para Nova York, mas... você sabe o que eu quero dizer.

Yoko riu suavemente, e isso aliviou um pouco a tensão.

— Eu sei. — Ela respondeu, encostando a cabeça no ombro de Faye. — Eu só queria que as coisas fossem mais simples.

Faye ficou em silêncio, aproveitando aquele momento de proximidade. Ela queria dizer algo que aliviasse o coração de Yoko, mas sabia que nenhuma palavra poderia tornar a situação menos complicada.

— Eu quero que você fique aqui. — Faye disse de repente, quebrando o silêncio. — Na minha casa. Quero que você se sinta em casa. E quando eu voltar, quero que a gente continue de onde paramos... se você quiser.

Yoko levantou a cabeça, surpresa com a oferta.

— Ficar aqui? Durante dois meses? Sozinha?

— Não sozinha. Com a bebê que ainda não nasceu kkkkkkkkk. — Faye sorriu, tentando deixar a situação mais leve. — E claro, posso pedir para alguém vir te visitar, se você quiser, ou até mesmo uma enfermeira pra ficar com você.

Yoko parecia estar considerando a ideia, mas a hesitação ainda estava clara em seus olhos.

— E se eu sentir sua falta? — Ela perguntou, sua voz baixa e carregada de preocupação.

— Eu vou sentir a sua também. — Faye respondeu suavemente. — Mas nós vamos conseguir lidar com isso, Yoko. Nós duas. E quando eu voltar, prometo que vou compensar todo o tempo que ficamos longe. — Ela apertou a mão de Yoko com mais firmeza, tentando transmitir confiança.

Yoko suspirou e sorriu levemente, aceitando as palavras de Faye.

— Tudo bem... eu fico. Mas só porque quero ter certeza de que, quando você voltar, vai me trazer algo de Nova York. — Ela brincou, tentando aliviar a seriedade da conversa.

Faye riu, agradecida pela leveza. Ela sabia que as próximas semanas seriam difíceis, mas aquele momento entre elas fez com que o peso da separação diminuísse um pouco.

Dois dias depois, Faye estava prestes a sair para o aeroporto. As malas estavam no corredor, prontas para serem levadas, e Yoko estava em pé, olhando para elas como se ainda estivesse processando a ideia de que Faye realmente estava indo embora por dois meses.

Faye se aproximou de Yoko, segurando-a pela cintura e olhando-a nos olhos.

— Vou sentir sua falta. — Faye disse, sua voz carregada de sinceridade.

— Eu também... muito. — Yoko respondeu, tentando conter as lágrimas.

Elas ficaram assim por um momento, apenas se olhando, até que Yoko sorriu, um sorriso triste, mas cheio de afeto.

— Vai logo antes que eu desista de te deixar ir. — Ela disse em um tom brincalhão, embora seus olhos traíssem a leve tristeza que sentia.

Faye riu suavemente e a beijou na testa antes de finalmente se afastar e pegar suas malas. Mas antes de sair, olhou para Yoko uma última vez.

— Eu te amo, Yoko. — Ela disse, as palavras saindo com uma facilidade que a surpreendeu.

Yoko piscou, surpresa, e sorriu.

— Eu também te amo, Faye. — Ela respondeu, sentindo seu coração disparar.

Com isso, Faye saiu pela porta, deixando para trás não apenas a casa, mas uma parte importante de si mesma. E enquanto caminhava em direção ao carro, sabia que, não importava a distância, seu coração ainda estaria lá, com Yoko e a bebê.