O Peso da Espera

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As luzes fluorescentes do hospital criavam sombras que pareciam dançar nas paredes do quarto, enquanto Faye se mantinha firme ao lado de Yoko, seu coração batendo em um ritmo que não correspondia ao ambiente estéril e controlado. O pequeno alívio ao ver Yoko abrir os olhos não havia durado tanto quanto ela esperava. O medo ainda estava presente, o desespero rastejando em seu peito como uma fera silenciosa e implacável.

A enfermeira entrou no quarto discretamente, checando os monitores mais uma vez, enquanto Faye permanecia ao lado de Yoko, segurando sua mão, como se o contato físico fosse a única coisa que mantivesse ambas conectadas à realidade.

— Como ela está? — Faye perguntou com a voz baixa, como se tivesse medo de quebrar o silêncio que pairava no ar.

A enfermeira sorriu de maneira reconfortante, mas seus olhos revelavam cansaço.

— A situação está estável, mas os médicos ainda estão preocupados com as gêmeas. Vamos monitorar atentamente nas próximas horas. Qualquer mudança será crítica, mas por enquanto, as coisas estão... sob controle.

As palavras "por enquanto" ecoaram na mente de Faye, como uma espécie de lembrete cruel de que o futuro ainda estava incerto. O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo som do equipamento médico e da respiração suave de Yoko.

Quando a enfermeira saiu, Faye soltou um longo suspiro e deixou seu corpo cair lentamente na poltrona ao lado da cama. A exaustão começava a vencê-la, mas o sono era uma coisa distante demais para alcançar. Seus pensamentos voltaram àquele dia, ao momento em que recebeu a ligação do hospital.

Ela não conseguia esquecer a imagem de Yoko sendo levada às pressas para a cirurgia, o som das sirenes e a voz fria do médico explicando o risco que estavam correndo. Era como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta, um pesadelo do qual ela não conseguia acordar.

— Eu deveria ter te protegido... — murmurou Faye, quase para si mesma. — Não devia ter deixado você sair naquele dia...

O rosto de Yoko estava calmo agora, sereno, mas Faye sabia que, por dentro, a luta estava longe de acabar. A gravidez estava se mostrando muito mais difícil do que qualquer uma delas esperava, e Faye não conseguia deixar de se culpar por tudo.

As horas passaram lentamente, e a noite cedeu espaço ao amanhecer. A luz suave da manhã começou a entrar pelas janelas, mas Faye mal notou. Ela estava exausta, com os olhos pesados, mas seu corpo ainda se recusava a relaxar completamente.

O médico entrou novamente, dessa vez com uma expressão mais reservada.

— Precisamos conversar, Faye — disse ele, levando-a para fora do quarto.

O corredor do hospital era um pouco mais iluminado e cheio de movimento. O contraste com o quarto silencioso e sombrio de Yoko era quase chocante. Faye seguiu o médico com o coração na boca.

— O que está acontecendo? — perguntou ela, tentando manter a calma, mas o medo evidente em sua voz a traía.

O médico hesitou, escolhendo cuidadosamente suas palavras antes de prosseguir.

— A situação das bebês é delicada. Embora Yoko tenha se estabilizado, as gêmeas estão em uma posição de risco. Existe a possibilidade de que precisemos realizar uma cesariana emergencial, e com isso, as chances de sobrevivência para ambas serão menores, considerando a idade gestacional delas. Porém, se não agirmos, o risco para Yoko também aumenta.

Faye sentiu o chão se desfazer sob seus pés. Ela sabia que esse era um cenário possível, mas ouvir aquelas palavras em voz alta, da boca de um profissional, tornou tudo muito mais real.

— Quais são as opções? — A voz de Faye tremeu enquanto ela tentava processar as informações.

— A melhor opção é continuar monitorando de perto e evitar ao máximo a cesariana. Porém, se notarmos qualquer alteração nos batimentos cardíacos das bebês ou complicações com Yoko, teremos que intervir. Vamos fazer o possível para salvar todas elas, mas não posso prometer que será fácil.

Faye balançou a cabeça lentamente, sentindo o peso de cada palavra cair sobre ela como uma tonelada de tijolos. Ela estava sem escolhas. Era uma luta contra o tempo e contra o próprio destino.

— E se... — Faye hesitou, sentindo as lágrimas começarem a ameaçar. — E se não conseguirmos? Se... algo acontecer com elas?

O médico respirou fundo.

— Nós faremos tudo ao nosso alcance. Mas você precisa estar preparada para qualquer eventualidade, Faye. Tanto as vidas das bebês quanto a de Yoko estão em risco.

Aquelas palavras soaram como um golpe. Faye se sentiu incapaz de responder. O médico colocou a mão suavemente em seu ombro, tentando oferecer algum tipo de conforto.

— Eu sei que é muito difícil, mas vamos continuar fazendo o possível. Yoko e as bebês são fortes. Não desista de acreditar nisso.

Faye assentiu em silêncio, o rosto coberto de dor, enquanto voltava para o quarto de Yoko, sentindo-se mais perdida do que nunca.

De volta ao quarto, Yoko ainda dormia, alheia à batalha que acontecia ao seu redor. Faye sentou-se ao lado dela novamente, pegando sua mão.

— Eu não posso perder vocês... — sussurrou ela, sua voz embargada de emoção. — Por favor, sejam fortes. Eu preciso de vocês.

A tensão no ar era quase palpável, e Faye mal podia suportar o peso da incerteza. Ela olhou para o rosto adormecido de Yoko, desejando poder trocar de lugar com ela, absorver toda a dor e o medo, e garantir que tudo acabaria bem.

Mas, naquele momento, tudo o que Faye podia fazer era esperar.

Entre Cores e SilênciosOnde histórias criam vida. Descubra agora