Proximidade

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Felix estava jogado no sofá, um balde de pipoca equilibrado em seu colo enquanto assistia a uma comédia qualquer, tentando relaxar. O som da TV preenchia o silêncio da sala, e ele começava a sentir uma tranquilidade que há tempos não experimentava, desde que decidira afastar Nicholas de sua vida.

Então ouviu o som familiar de chaves tentando girar na fechadura. Seu coração parou por um segundo. Ele trocara as chaves. Nicholas estava trancado do lado de fora.

A batida na porta começou, uma pancada pesada, insistente. Felix engoliu em seco, tentando ignorar, mas seu corpo já começava a tremer. Ele se sentou no sofá, apertando a tigela de pipoca com força, enquanto Nicholas chamava seu nome, a voz ficando cada vez mais impaciente.

— Felix! Eu sei que você tá aí! — a voz de Nicholas soava cada vez mais forte, cheia de irritação e, ao mesmo tempo, de um desespero que o deixava inquieto.

Felix respirou fundo, tentando manter o controle. Ele sabia que Nicholas podia ouvir o som da TV, o que apenas o fazia bater mais forte.

— Abre essa porta, Felix! Vamos lá, só quero conversar! — A batida continuava, cada vez mais insistente, e Felix finalmente se levantou, hesitando, mas a tensão crescendo com cada golpe na madeira.

Ele se aproximou da porta, com a mão ainda tremendo. Deu uma olhada pelo olho mágico, vendo a expressão descontrolada de Nicholas.

— Vai embora, Nicholas! — Felix gritou com a voz firme, mesmo que seu coração estivesse acelerado. — Eu não quero falar com você.

Do outro lado, Nicholas deu um passo para trás, o rosto vermelho de raiva.

— Vai se arrepender disso, Felix — a ameaça saiu de seus lábios com uma frieza que Felix nunca havia ouvido antes.

Felix recuou um passo, os olhos arregalados, mas permaneceu em silêncio, esperando que Nicholas desistisse. Ele ainda escutou Nicholas praguejar baixinho, mas depois de alguns segundos de silêncio, ouviu os passos pesados dele se afastando.

Felix suspirou profundamente, passando as mãos pelos cabelos compridos, tentando dissipar a tensão que dominava seu corpo. Ele voltou para o sofá, mas o clima leve da noite havia evaporado. Sentia uma mistura de medo e alívio. Sabia que aquela decisão era o que precisava para se libertar, mas a inquietação permanecia no ar.

Naquela noite, mesmo sem querer, Felix trancou todas as janelas e dormiu com a luz do abajur acesa, tentando espantar os resquícios da presença de Nicholas que ainda pareciam assombrar o ambiente.

...

Na manhã seguinte, Felix chegou ao estúdio de fotografia com um misto de ansiedade e determinação. Estava tentando deixar para trás os eventos da noite anterior e se concentrar no trabalho. A sessão seria intensa, com uma pegada mais ousada, e ele sabia que precisava manter o foco. Vestia um cropped justo que realçava seu abdômen definido, e um brilho leve de gloss cobria seus lábios em formato de coração. Seus cabelos loiros estavam soltos, e ele entrelaçou os dedos nas mechas, projetando uma imagem confiante e provocante.

O fotógrafo ajeitou a câmera e observou Felix pelo visor, com um sorriso satisfeito.

— Isso, Felix! Perfeito! — incentivava, clicando a cada nova pose. — Olhar intenso, isso! Exatamente assim. Me dá aquele olhar misterioso.

Felix respirou fundo e entrou no papel, os olhos fixos na câmera com uma expressão de segurança e charme, mas por dentro, ainda sentia as tensões da noite anterior.

— Ótimo! Agora, vira o rosto um pouco para a direita... Isso, isso! E passa a mão no cabelo. — O fotógrafo sorriu, claramente impressionado. — Está incrível, Felix. A intensidade tá toda aí. Esse é o espírito!

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora