Vazio

43 6 1
                                    

As semanas passavam em um turbilhão de festas, shows, e noites vazias para Hyunjin. Ele se jogava em performances intensas, cada uma mais provocativa que a outra, e sua vida noturna se tornava uma sequência interminável de cigarros, copos de bebida e encontros fugazes. Seu nome dominava as redes, tanto pelo talento quanto pelas polêmicas, e os tabloides pareciam não se cansar de explorar sua vida fora dos palcos. Ele era o centro das atenções, mas, ironicamente, sentia-se mais vazio do que nunca.

Hyunjin se via, em muitos momentos, parado diante da tela do celular, rolando as fotos de Felix no Instagram. Cada nova postagem mostrava Felix deslumbrante e em ascensão. Estava sempre em movimento — de uma cidade para outra, de um palco para o outro, sempre sorrindo, sempre com aquele brilho nos olhos. Hyunjin percebia o quanto Felix parecia estar em paz consigo mesmo, completamente realizado. Cada foto, cada vídeo, mostrava alguém que não dependia de escândalos ou dramas para estar no topo. Felix brilhava sozinho, sem os excessos e fugas que Hyunjin usava como muletas.

Uma noite, no silêncio do camarim após mais um show, ele acendeu um cigarro, tragando fundo enquanto observava a tela do celular. No Instagram de Felix, havia uma nova foto, dessa vez em uma praia, os cabelos loiros soltos ao vento, as sardas salpicadas no rosto bronzeado pelo sol. Felix parecia tão sereno, tão bem, como se o mundo estivesse perfeito.

Hyunjin murmurou para si mesmo, numa voz baixa e amarga:

— Você nem precisa de nada disso, não é, Felix? — Ele soltou uma risada sarcástica, tragando o cigarro com força, os olhos fixos na tela. — E olha pra mim, me afogando em tudo que eu não preciso... Só pra tentar me preencher.

Ele balançou a cabeça, sentindo o gosto amargo da fumaça na boca, mas o vazio no peito era ainda pior. Olhando para Felix, era impossível não ver as diferenças gritantes entre eles. Hyunjin era como um castelo de areia, que cada onda de erros e vícios destruía um pouco mais. Ele queria sentir inveja de Felix — isso era o que ele dizia a si mesmo. Mas, no fundo, não era inveja. Era saudade. Era o desejo de estar ao lado dele, de sentir novamente aquela paz que só Felix trazia.

Ele soltou o cigarro no chão do camarim e o pisou, murmurando para si mesmo:

— Que fracasso, Hyunjin. Você é um covarde... não consegue nem responder uma mensagem.

Ele se levantou, batendo as cinzas de sua jaqueta, tentando afastar o sentimento que o corroía. Mas a saudade de Felix permanecia, como uma sombra em tudo que fazia.

...

Dias depois, Hyunjin entrou na sala de reuniões com uma expressão confiante, as mãos nos bolsos da jaqueta e os cabelos bagunçados, como se não estivesse nem aí para o que fosse discutido ali. Seu empresário, Jay, estava sentado do outro lado da mesa, com um olhar sério que, de imediato, incomodou Hyunjin.

Jay suspirou e começou, direto ao ponto:

— Hyunjin, precisamos conversar. — Ele ergueu o olhar, encarando o jovem artista. — Precisamos que o seu próximo single ultrapasse o sucesso de Felix.

Hyunjin arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços com um meio sorriso desafiador.

— Sério, Jay? Eu tô no topo. Meus shows são insanos, as pessoas não param de falar de mim. Estou literalmente em todas as manchetes.

Jay se inclinou para frente, as mãos entrelaçadas sobre a mesa.

— Justamente, Hyunjin. — Ele o encarou com um olhar duro. — Estão falando de você, mas não pelas razões certas. — Jay puxou uma pasta com recortes de notícias e colou algumas manchetes no monitor atrás dele: "Polêmicas de Hyunjin fora dos palcos", "Cantor visto em mais uma noite caótica", "Rumores de novos escândalos". — Estão falando dos seus escândalos. Sua música está ficando em segundo plano, e isso é um problema.

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora