Estudo de campo

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Hyunjin estava sentado em uma poltrona do estúdio de gravação, o celular em mãos, mas os fones de ouvido ao redor do pescoço nem estavam sendo usados para a música que deveria estar gravando. Em vez disso, ele assistia a um vídeo de Lee Felix pela terceira vez. Observava, atento, cada passo da coreografia, cada expressão suave, cada movimento de mãos que, mesmo simples, parecia conter uma força silenciosa e magnética.

A luz suave do estúdio criava sombras ao redor, mas Hyunjin nem notava o ambiente. Tudo que via era Felix em sua mente, aquele jovem loiro, de rosto delicado, com um estilo tão oposto ao dele que era quase uma afronta. "Como é que alguém pode ser sexy e ainda assim tão... leve?" pensou, os olhos se estreitando com uma mistura de fascinação e irritação.

O vídeo mostrava Felix em uma apresentação recente, onde ele movia os braços de forma fluida, com um controle corporal que parecia hipnotizar o público. A plateia o observava em um silêncio quase sagrado antes de explodir em aplausos quando ele terminava. Hyunjin cerrou os dentes, detestando admitir para si mesmo que Felix era realmente bom.

— Ele é bom, mas... — Hyunjin murmurou para si mesmo, quase como se precisasse reforçar suas próprias palavras — não melhor que eu.

Ele desligou o celular com um bufar, jogando-o de lado e passando a mão pelo cabelo, um gesto automático de irritação. A diferença entre eles era evidente. Hyunjin era um furacão, sua presença esmagadora e seu estilo cheio de energia agressiva. Ele era desejado, sabia como incendiar o palco com uma dança que transmitia puro desejo, com olhares afiados e movimentos provocantes.

Mas Felix... Felix parecia ser adorado, quase venerado. As pessoas não o desejavam apenas; elas o admiravam. Ele era gracioso, sutil, e tinha um magnetismo que capturava as pessoas de uma forma completamente diferente. Isso incomodava Hyunjin de um jeito que ele não conseguia entender.

— Ei, Hyunjin — a voz de um dos produtores interrompeu seus pensamentos. — Você tá aqui pra trabalhar ou pra ver vídeo?

Hyunjin ergueu os olhos, respirando fundo antes de responder.

— Só... fazendo um estudo de campo — ele disse com um sorriso irônico, ajustando os fones no pescoço.

O produtor apenas riu, sem entender o peso do que Hyunjin realmente queria dizer. Quando o produtor se afastou, Hyunjin se levantou e começou a gravar, tentando canalizar a irritação na intensidade da gravação. Cada batida da música era uma resposta silenciosa ao rival invisível que parecia espreitar no fundo de sua mente.

Hyunjin sussurrou para si mesmo, numa promessa quase silenciosa:

— Felix pode ser adorado... mas eu sou o indomável.

...

A noite no estúdio tinha sido um pesadelo. Hyunjin se encontrou gravando o mesmo trecho inúmeras vezes, e nada parecia agradar ao produtor, que insistia em repetir.

— De novo, Hyunjin. Pode ser melhor. Quero que coloque mais alma nisso — o produtor disse, impassível.

Hyunjin fechou os olhos, lutando para conter a explosão que sentia se formando. Mas já estava exausto, frustrado com a sensação de que, por mais que se esforçasse, nunca era suficiente.

— Mais alma? Você quer mais alma? Eu já gravei isso mil vezes! — Hyunjin exclamou, a voz cortante.

— E vai gravar quantas vezes for necessário — respondeu o produtor, com calma.

A paciência de Hyunjin se esgotou. Ele se inclinou sobre a mesa de mixagem, olhando o produtor nos olhos.

— Vai se foder — Ele jogou os fones no chão e saiu do estúdio sem olhar para trás.

A adrenalina da discussão ainda pulsava quando Hyunjin entrou no carro, acelerando pelas ruas com o som alto, tentando afastar o gosto amargo da noite. Ele estacionou em frente a um bar qualquer, um daqueles lugares onde ninguém parecia se importar com quem você era ou o que fazia. Exatamente o que ele precisava.

Dentro do bar, ele se afundou em uma sequência de doses, cada gole ajudando a anestesiar a raiva. A música alta, o som de risadas e o cheiro de cigarro ao seu redor foram um alívio momentâneo.

Uma garçonete com um sorriso provocador passou por ele, fazendo contato visual e oferecendo um leve aceno de cabeça. Hyunjin ergueu uma sobrancelha, e ela entendeu o convite. Sem trocarem uma palavra, ele a seguiu até o banheiro.

Lá, eles se espremiam dentro de uma cabine, o espaço mínimo, o cheiro de álcool e o som abafado da música do lado de fora. Ele pressionou a mão contra a boca dela, enquanto se movia com uma intensidade que beirava o desespero, tentando esquecer a noite frustrante.

Quando terminou, Hyunjin se afastou, ajustou a calça e a jaqueta, evitando qualquer contato visual. Ele não olhou para trás ao sair do banheiro, e voltou para o carro sentindo o mesmo vazio, agora ainda mais pesado.

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