Um tempo dos palcos

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Quando Hyunjin saiu da clínica, cerca de 6 meses depois, Felix o levou para seu apartamento. Hyunjin não queria voltar para sua casa ainda e estava até considerando se mudar e recomeçar. Felix disse que ele podia ficar ali.

Enquanto Hyunjin observava os quadros nas paredes do apartamento de Felix, ele sorriu, reconhecendo cada pincelada, cada cor que havia escolhido com tanto cuidado. Ele não esperava ver suas pinturas tão bem expostas, enfeitando aquele lugar que agora começava a sentir como um lar, como um refúgio.

— Você realmente pendurou todos eles — comentou com um sorriso suave.

Felix, que estava no outro lado da sala, sorriu de volta, mas sem deixar a cautela que ele sentia transparecer. Ele se aproximou de Hyunjin, mas manteve uma certa distância, como se uma parte dele ainda estivesse protegendo o próprio coração.

— Cada um deles me lembrava... me lembrava de você, do que você estava enfrentando — Felix respondeu em voz baixa. — Então, é claro que quis pendurar todos.

Hyunjin assentiu, a expressão em seu rosto se suavizando. Ele então virou-se para Felix, hesitante, mas decidido a tentar, a entender e respeitar os limites que Felix parecia precisar. Ele ergueu a mão e a pousou de leve no rosto de Felix, traçando com o polegar a linha suave da sua bochecha.

— Felix... — ele murmurou, aproximando-se com cuidado. — Eu sei que te machuquei. E eu não tenho o direito de pedir nada... mas queria que você soubesse que estou aqui. De verdade, dessa vez. Eu não quero te deixar de novo.

Felix fechou os olhos por um momento, sentindo o toque quente de Hyunjin. Ele lutava contra uma onda de sentimentos — medo, desejo, e uma esperança que, apesar de tudo, não conseguia apagar. Ele abriu os olhos e olhou nos de Hyunjin, enxergando algo diferente, algo mais profundo e verdadeiro do que antes.

— Eu quero acreditar nisso... — Felix murmurou, a voz embargada. — Mas ainda é difícil. Porque da última vez... — ele hesitou, buscando as palavras. — Da última vez, eu me senti... tão abandonado, tão invisível. E o medo de passar por isso de novo...

Hyunjin se aproximou mais, sem afastar o olhar de Felix, e sussurrou:

— Eu entendo. Eu mereço sua desconfiança. Mas eu estou disposto a passar pelo que for preciso. Estou disposto a provar a você, dia após dia, que aquele Hyunjin... — ele deu um sorriso leve e triste. — Aquele Hyunjin realmente não existe mais.

Felix suspirou, sentindo o peito apertado, mas também uma leveza que ele não sentia há muito tempo. Ele ergueu os olhos, o olhar relutante, mas, ao mesmo tempo, cheio de algo que ele tentava controlar.

— Eu não vou mentir, Hyunjin. Eu quero tentar, mesmo, mas preciso de tempo. Preciso que você mostre que quer mesmo fazer isso dar certo. Não é só mais uma noite... ou mais um impulso.

Hyunjin sorriu, um sorriso genuíno, e assentiu, abaixando a mão devagar até que os dedos deles se entrelaçassem.

— Eu posso esperar o tempo que você precisar. Contanto que você me deixe tentar — ele respondeu.

Felix o olhou, e, sem saber o que mais dizer, segurou a mão de Hyunjin. Eles ficaram em silêncio por um instante, apenas sentindo a presença um do outro, com as mãos unidas e os corações batendo em um ritmo novo, lento, mas seguro.

Finalmente, Felix murmurou:

— Bem-vindo de volta.

E Hyunjin sorriu, sabendo que, dessa vez, ele faria de tudo para não decepcioná-lo.

No silêncio confortável que pairava no apartamento, Felix olhou para Hyunjin, que estava sentado ao lado dele no sofá, a expressão pensativa. Ele respirou fundo antes de perguntar, de forma cautelosa:

— E... os palcos? Quando acha que vai voltar?

Hyunjin desviou o olhar para as próprias mãos, pensando. Ele havia passado por tanto, e o caminho para chegar ali já tinha sido exaustivo.

— Eu... não vou voltar agora — ele respondeu com sinceridade. — Eu não quero me apressar e correr o risco de cair de novo. Não até estar completamente bem... comigo mesmo. Acho que, por enquanto, vou focar na pintura. Tem sido... terapêutico, sabe?

Felix sorriu, assentindo.

— Acho que é uma boa escolha — ele disse, a voz suave e cheia de compreensão. — Você sempre foi talentoso, Hyunjin. Sinto que, com a pintura, você consegue... expressar uma parte de você que talvez nunca tenha mostrado nos palcos.

Hyunjin sorriu levemente, um pouco surpreso pela compreensão de Felix. Ele nunca havia se sentido tão visto, tão compreendido antes. Havia uma sinceridade e um cuidado nos olhos de Felix que o faziam sentir-se seguro, como se ele pudesse se permitir ser vulnerável sem medo de julgamentos.

Por alguns minutos, o silêncio voltou a cair entre eles, mas era um silêncio diferente, um silêncio repleto de algo latente, uma tensão suave, mas familiar. Felix observava Hyunjin, os olhos capturando cada detalhe do rosto dele, a maneira como os cabelos caíam levemente sobre a testa, o brilho suave nos olhos.

Felix não resistiu ao impulso que crescia dentro dele. Lentamente, ele se esticou, as mãos deslizando levemente pelos ombros de Hyunjin, e então se aproximou até que seus lábios roçassem os dele. Era um beijo suave, delicado, mas cheio de sentimentos que ambos guardaram por tanto tempo.

Hyunjin correspondeu ao beijo com a mesma ternura, fechando os olhos e se deixando levar pelo momento. Não havia pressa, nem expectativas. Apenas o calor da presença um do outro, e a sensação de que, mesmo depois de tudo, havia algo ali que era precioso demais para ser ignorado.

Quando o beijo se desfez, Hyunjin abriu os olhos lentamente, encontrando o olhar de Felix, que o observava com um sorriso suave e olhos brilhantes. Hyunjin sussurrou, a voz carregada de emoção:

— Eu realmente senti sua falta, Felix. Mais do que consigo expressar.

Felix sorriu, acariciando levemente a bochecha de Hyunjin.

— Também senti a sua. E... eu sei que as coisas ainda estão se ajeitando, mas quero estar ao seu lado.

Hyunjin assentiu, os olhos úmidos com uma emoção que ele ainda estava aprendendo a entender e aceitar. Ele segurou a mão de Felix, entrelaçando os dedos, e sorriu suavemente.

Eles ficaram ali, em um abraço silencioso, deixando que aquele momento falasse por si.

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora