Uma quase promessa

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Lee Felix era o homem mais bonito e gentil que Hyunjin conhecera. Hyunjin observava Felix com uma atenção que ele mesmo não costumava dedicar a ninguém. Felix estava ali, na cozinha iluminada pela luz baixa amarelada, em uma cena que parecia casual, mas que para Hyunjin tinha uma aura quase mágica. Felix movia-se com a tranquilidade de quem estava em casa, os cabelos loiros caindo em cascata sobre os ombros, as sardas cobrindo o rosto de forma delicada, como se fossem parte de uma obra de arte. As mãos pequenas e habilidosas manuseavam a cafeteira com cuidado, e Hyunjin sentiu seu coração bater um pouco mais rápido ao observar a precisão de cada movimento.

Sem perceber que estava sendo observado, Felix mordeu o lábio inferior, concentrado, e a ponta da língua deslizou por ele, de um jeito distraído e quase inocente. Hyunjin sentiu o rosto esquentar e desviou o olhar por um momento, como se estivesse presenciando algo íntimo demais, embora Felix não tivesse dito uma palavra.

Mas não resistiu. Voltou a olhar para ele, e foi então que Felix percebeu.

— Tá me espionando, Hyunjin? — Felix brincou, sorrindo ao perceber o olhar fixo do outro.

Hyunjin, pego de surpresa, tentou disfarçar, mas um sorriso acabou escapando.

— Só... é estranho ver você tão focado em uma coisa tão simples. — ele disse, sem querer admitir que estava completamente encantado.

Felix deu de ombros, colocando um pouco de café na xícara e dando um gole experimental, ainda com aquele sorriso leve nos lábios.

— Bom, algumas coisas pequenas também merecem atenção, sabe? — ele respondeu, com um brilho suave nos olhos, entregando uma xícara para Hyunjin. — Às vezes, é nos detalhes que a gente encontra o que precisa.

Hyunjin pegou a xícara, tentando evitar o olhar intenso de Felix, mas era impossível não se perder naqueles olhos que o encaravam de forma gentil e honesta. Ele tomou um gole do café e sentiu-se estranhamente em casa, uma sensação que raramente experimentava.

— Eu não sou muito bom com detalhes. A não ser quando estou pintando ou me apresentando — ele admitiu, sua voz saindo mais baixa do que pretendia. — mas no geral... Sempre vivi tudo de forma... mais rápida. Talvez seja por isso que não reparei em coisas assim antes.

Felix sorriu, sentando-se ao lado de Hyunjin e encostando os cotovelos na mesa.

— Talvez você só não tivesse encontrado algo que valesse a pena prestar atenção. — ele comentou, os olhos brilhando com uma leve provocação. — Ou alguém.

Hyunjin sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir aquelas palavras, como se fossem uma provocação suave. Ele riu, desviando o olhar para a xícara, sem saber exatamente como responder.

— Você fala como se já me conhecesse bem, mas... eu sou meio difícil, Felix. — Hyunjin confessou, encarando a superfície do café. — Nem sempre consigo ser... gentil.

Felix inclinou-se para ele, apoiando o queixo nas mãos, os olhos curiosos e suaves.

— Acredite, eu sei disso. — ele disse, divertido, mas com um toque de seriedade. — Mas quem disse que gentileza é o que define alguém?

Hyunjin o encarou, intrigado, como se aquelas palavras tivessem um peso que ele ainda não havia compreendido totalmente.

— E o que te define, então, Felix? — perguntou, tentando entender o que tornava Felix tão diferente de tudo o que ele conhecia.

Felix parou por um momento, como se refletisse sobre a pergunta, e deu de ombros com um sorriso tímido.

— Acho que... o que eu escolho. As pessoas que eu escolho ter por perto, o que eu escolho amar... e cuidar. Não importa se é algo grande ou pequeno.

Hyunjin se ajeitou na cadeira, fixando o olhar em Felix. A expressão no rosto de Felix tinha mudado; ele estava com um semblante pensativo, quase triste, e isso chamou a atenção de Hyunjin.

— E então... quem era aquele idiota que eu soquei mais cedo? — Hyunjin perguntou, tentando soar casual, mas sua curiosidade era evidente.

Felix suspirou, o olhar perdido em algum ponto além da cozinha. Depois de um momento de silêncio, ele finalmente falou, sua voz baixa e sincera.

— Nicholas... é complicado. Nunca realmente amei ele, sabe? — Felix admitiu, as palavras saindo como um desabafo. — Eu estava preso num ciclo que nem eu conseguia entender. Ele... ele sempre parecia estar lá, e de algum jeito, eu me acostumei com isso. Mas no fundo, eu sabia que não era o que eu queria.

Hyunjin observava em silêncio, absorvendo cada palavra. Ele sentia uma pontada de incômodo, mas não soube exatamente por quê. Talvez porque nunca tivesse pensado tão profundamente sobre alguém, sobre o que o outro queria, sentia ou precisava.

— E o que você quer, então? — ele perguntou, sua voz soando mais séria do que de costume.

Felix o olhou diretamente nos olhos, e Hyunjin sentiu uma intensidade ali que o fez desviar o olhar, mas ele se forçou a continuar encarando.

— Eu só... não quero ser só uma coisa passageira, Hyunjin. — Felix disse, sua voz tremendo um pouco. — Eu tô cansado de ser apenas uma distração, alguém que só serve para preencher um espaço vazio. Quero algo mais.

Hyunjin se manteve em silêncio, absorvendo aquilo. Ele queria responder, queria prometer algo, mas as palavras simplesmente não saíam. Ele sabia o que Felix estava pedindo, e sabia que não poderia oferecer isso. Não ainda. Porque, para ele, as pessoas sempre foram apenas uma forma de preencher o vazio. Ele estava sempre na cama com alguém, como se o toque momentâneo dos outros pudesse acalmar algo dentro dele.

— Olha, Felix... eu gostaria de ser alguém pra você — ele admitiu, hesitante. — mas eu não sei como ser... isso que você quer. Eu... sempre vivi desse jeito. Usando as pessoas, talvez, e... sendo usado também. Eu nunca pensei muito no que isso significava. Nunca me prendi a ninguém. Não sei se consigo ser o que você precisa.

Felix sorriu, mas havia uma tristeza ali que Hyunjin percebeu, mesmo que o sorriso tentasse esconder.

— Eu sei. — ele disse suavemente, desviando o olhar. — Eu sabia disso desde o começo, Hyunjin. Só que... às vezes a gente espera que as coisas possam mudar.

Hyunjin ficou sem resposta, e o silêncio entre eles ficou pesado. Ele sentia que deveria dizer algo, qualquer coisa que aliviasse a dor que ele via nos olhos de Felix, mas ele não sabia como. Ele sempre foi bom em brincar, em provocar, em ser o cara confiante e despreocupado. Mas naquele momento, ele se sentia perdido, como se estivesse diante de algo que não podia apenas ignorar ou fingir que não via.

Depois de alguns minutos de silêncio, Felix suspirou e passou a mão pelos cabelos.

— Eu só quero ser mais do que uma coisa temporária, Hyunjin. Acho que todo mundo quer, no fim das contas. — ele murmurou, quase como se falasse para si mesmo.

Hyunjin assentiu, sentindo o peso das palavras, mas ainda incapaz de prometer algo que ele não sabia se poderia cumprir. Por um momento, ele quis se aproximar e confortá-lo, mas não sabia se deveria. Em vez disso, ele apenas estendeu a mão, tocando o ombro de Felix de forma quase hesitante.

— Eu... Eu gostaria de poder ser diferente, Felix. — ele disse, sua voz um sussurro.

Felix olhou para ele, com um sorriso pequeno, resignado, mas ainda assim grato.

— Talvez algum dia você seja. — ele respondeu, sua voz suave. — E quando isso acontecer, eu espero que você se lembre disso.

O silêncio entre eles se instalou de novo, mas dessa vez havia uma compreensão mútua. Ambos sabiam onde estavam, e talvez onde não estavam prontos para estar. Era um momento que não exigia palavras, porque, às vezes, o silêncio dizia mais do que qualquer promessa.

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora