Covardia

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Hyunjin acordou com o sol da manhã entrando pelas frestas da janela, iluminando o rosto de Felix, adormecido ao seu lado. Ele sentiu um aperto no peito, uma sensação estranha e desconhecida que ele não conseguia ignorar. Por um longo momento, ele ficou ali, sem coragem de se mover, apenas observando aquele rosto sardento e sereno. Felix dormia profundamente, com os lábios entreabertos, que Hyunjin lembrava com perfeição dos beijos da noite passada. As sardas que cobriam o rosto dele pareciam ainda mais evidentes à luz da manhã, formando um mapa delicado que ele teve vontade de traçar com os dedos.

Felix estava deitado com uma das mãos sobre o peito de Hyunjin, pequena e delicada, e seu cabelo loiro espalhado pelo travesseiro era como um raio de sol contra o branco dos lençóis. Hyunjin engoliu em seco, tentando controlar o aperto que crescia em seu peito. Sabia que nunca tinha olhado para alguém dessa forma, que nunca tinha se permitido sentir algo tão profundo e confuso. Felix era diferente, e isso o aterrorizava.

Enquanto continuava a observá-lo, pensamentos conflitantes tomaram conta de sua mente. Ele poderia simplesmente se deitar de volta, dormir mais um pouco e aproveitar a paz daquele momento. Poderia acordar Felix e passar a manhã com ele, talvez até o dia todo. No entanto, cada possibilidade que surgia também trazia um medo sufocante, um pavor de se permitir algo que sempre evitou. Felix era o tipo de pessoa que fazia Hyunjin querer permanecer. E Hyunjin não sabia como lidar com isso.

Um suspiro escapou de seus lábios, e ele percebeu o quão perdido estava. Ele sabia que estava fugindo de algo, mas a perspectiva de ficar ali e se entregar a esse sentimento o assustava. Talvez porque, pela primeira vez, ele temia o que poderia acontecer se se permitisse gostar realmente de alguém. Felix poderia ser sua perdição, e Hyunjin não sabia se estava preparado para isso.

Depois de mais um longo momento, ele decidiu. Levantou-se devagar, tirando a mão de Felix de seu peito com o maior cuidado para não acordá-lo. Vestiu-se em silêncio, sentindo uma onda de tristeza e arrependimento se acumular a cada peça de roupa que colocava. Antes de sair, ele lançou um último olhar para Felix, ainda adormecido, guardando aquela imagem dele, tão pacífica e vulnerável.

Ele se aproximou da porta e hesitou, sentindo o coração martelar no peito. Parte dele queria voltar para a cama, puxar Felix para seus braços e nunca mais sair. Mas a outra parte, a que sempre escolheu o caminho mais seguro, venceu.

Em um último ato de covardia, Hyunjin abriu a porta e saiu do apartamento de Felix, fechando-a suavemente atrás de si.

...

Hyunjin entrou em casa naquela manhã, ainda em um estado de euforia. Ele passou direto pela sala, indo para o banheiro. Fechou a porta, tirou os sapatos e se olhou no espelho, rindo ao lembrar-se da noite com Felix. O calor daquela lembrança o envolvia. Era como se o toque de Felix ainda estivesse presente, a sensação dos lábios dele nos seus, o gosto que parecia ter ficado na boca, algo doce e viciante.

Com um sorriso que não conseguia conter, ele tirou a camisa e observou seu reflexo no espelho. No ombro esquerdo, três marcas arroxeadas decoravam sua pele, chupões que Felix deixara ali sem hesitação. Hyunjin passou a ponta dos dedos sobre as marcas, rindo baixo. Seus olhos seguiram até o pescoço, onde perto da pinta que sempre o caracterizava, havia outro chupão, mais forte, deixado com certeza enquanto Felix o beijava com aquela intensidade que o deixava em chamas.

— Você deixou sua marca, hein, Lee Felix — murmurou para si mesmo, sorrindo.

Lembrava-se de como Felix tinha ficado sobre ele, rebolando lentamente no começo e depois com mais intensidade, como se o desafiasse a acompanhá-lo. Hyunjin sentiu o rosto esquentar com a lembrança dos gemidos de Felix, que preenchiam o quarto e pareciam cravar uma ânsia em seu peito. Ele levou as mãos ao rosto, rindo consigo mesmo, surpreso com o efeito que aquelas lembranças provocavam.

Virou-se, ligou o chuveiro e deixou que a água escorresse sobre ele. Fechou os olhos e, enquanto a água descia, Felix voltou à sua mente, cada detalhe daquela noite. Hyunjin ainda conseguia sentir o aperto quente do interior dele o esmagando, a forma como Felix se arqueava a cada movimento, a maneira que ele o prendia e o fazia se sentir como se fossem um só. Quando a água escaldante tocou seu pescoço, ele suspirou, lembrando-se da força com que Felix desceu em seu pênis.

— Isso deveria acabar por aqui — ele murmurou, tentando se convencer.

No entanto, a imagem de Felix — os olhos fechados, os lábios entreabertos, o sorriso provocador — continuava a rondá-lo, e Hyunjin se pegou sorrindo de novo.

Após o banho, secou-se e, enquanto vestia a roupa, encarou novamente o reflexo das marcas.

— Acho que estou perdido — murmurou para si, com um suspiro resignado e um sorriso no rosto que ele já sabia que, contra sua vontade, era um reflexo do desejo de querer vê-lo de novo.

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora