Fogo cruzado

O certo a se fazer

Felix encarava Hyunjin, seu coração acelerado, enquanto a tensão entre eles enchia a sala de um jeito quase palpável. Ele sabia que bastava um passo, um movimento, para que eles finalmente quebrassem aquela barreira invisível que os separava. A proximidade, o jeito como Hyunjin o olhava, quase desafiador, deixava claro que a vontade era mútua. Mas Felix hesitava.

Hyunjin parecia estar esperando também, os olhos brilhando sob a pouca luz do ambiente, fixos nos de Felix, com uma mistura de curiosidade e desejo. Ele sorriu de leve, aquele sorriso confiante que sempre usava para disfarçar o que sentia. Mas dessa vez, parecia ser mais para ele mesmo, como se estivesse testando a própria determinação.

— Você devia ir — Felix finalmente murmurou, a voz saindo rouca e quase falha, mas Hyunjin não se moveu.

Hyunjin soltou um riso curto, sarcástico.

— Devia mesmo? — ele sussurrou, com um toque provocativo, inclinando-se levemente em direção a Felix, o suficiente para que seus rostos quase se tocassem.

Felix sentiu o coração apertar, lutando contra o desejo que subia por seu corpo. Ele queria, mais do que qualquer coisa, se render àquele impulso e beijá-lo ali mesmo. Ele sabia que Hyunjin esperava que ele fosse mais um, apenas uma noite como qualquer outra. E talvez, para Hyunjin, isso não significasse nada além disso. Mas para ele... era diferente.

— Para você, isso não é nada, né? — Felix perguntou, tentando esconder a vulnerabilidade em sua voz. Ele desviou o olhar, o rosto corando levemente.

Hyunjin arqueou a sobrancelha, a expressão ficando um pouco mais séria. Ele suspirou, parecendo procurar as palavras certas.

— Não é como se eu não quisesse... — ele admitiu, mas havia uma certa hesitação em seu tom. — Só que... você sabe, Felix. Eu não sou do tipo que se prende.

Felix assentiu, mordendo o lábio e afastando o olhar. Ele já sabia disso, mas ouvir Hyunjin dizer em voz alta doía mais do que ele imaginava.

— Eu não quero ser só mais um para você, Hyunjin — ele murmurou, finalmente dizendo o que estava em sua mente. — Se eu te beijar agora, sei que vai ser fácil pra você... me levar para cama e depois seguir como se nada tivesse acontecido. E eu... eu não sei fazer isso.

Hyunjin ficou em silêncio, absorvendo as palavras de Felix. Ele abriu a boca para responder, mas nada saiu. Não sabia o que dizer; não tinha uma resposta que pudesse mudar o que sentia, ou o que não estava preparado para sentir.

Após um momento que pareceu durar uma eternidade, Hyunjin se afastou um pouco, dando um passo para trás.

— Eu entendo. — Sua voz era um sussurro, quase uma confissão.

Felix sorriu levemente, um sorriso triste, mas resignado. Sabia que Hyunjin não estava pronto para algo além de um caso passageiro, e ele mesmo não queria viver aquilo. Não com Hyunjin.

— Então, acho que é isso, né? — Felix disse, tentando parecer casual, mesmo que cada palavra fosse como um nó em sua garganta.

Hyunjin assentiu, o olhar um pouco perdido, como se estivesse tentando processar o que acontecia. Ele não era o tipo que pensava duas vezes antes de agir, e aquela era a primeira vez que hesitava.

— Eu... acho que sim — ele disse, quase se arrependendo das próprias palavras.

Felix deu um passo para trás, sentindo seu corpo implorar para que voltasse, mas sua mente sabia que era o certo a fazer. Hyunjin pegou o casaco que tinha deixado no sofá e, com um último olhar para Felix, abriu a porta.

— Boa noite — ele disse, e a voz saiu mais baixa do que ele gostaria.

Felix ficou parado, sem responder. Ele apenas observou Hyunjin sair pela porta, sem saber o que fazer. Quando a porta se fechou, ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. Por alguma razão, ele sentiu uma pontada de arrependimento, uma sensação estranha e incômoda.