Fogo cruzado

Voltando à luz

O show daquela noite já estava em seu auge, e Felix sentia a energia pulsando do público, preenchendo cada canto do estádio. As luzes oscilavam, acompanhando a batida de sua última música, e ele observava a multidão que o assistia com olhares de adoração e empolgação. No entanto, algo o incomodava, algo que ele sabia que não poderia deixar de lado, mesmo em um momento como aquele.

Ele respirou fundo, permitindo que a música baixasse e os gritos da plateia diminuíssem. Lentamente, levou o microfone aos lábios e, com uma expressão séria, começou a falar. A voz de Felix era baixa no começo, mas logo se encheu de emoção.

— Eu... eu queria falar algo com vocês — começou, hesitando ao perceber a expectativa nos rostos de todos. — Tem uma pessoa que foi parte da minha vida de uma maneira muito especial. Vocês o conhecem também. — Felix fez uma pausa, a voz vacilando. — Ele está passando por um momento muito difícil.

O nome de Hyunjin ecoou em sussurros pela plateia, e Felix não precisou dizer mais nada para que todos soubessem de quem ele estava falando.

— Ele precisa de todo o apoio possível agora — continuou Felix, com a voz embargada. — E eu sei que ele significa tanto para todos vocês quanto significa para mim. Então... — Ele engoliu em seco, as palavras pesando. — Eu só quero pedir que vocês enviem o máximo de energia positiva, o máximo de amor, para ele. Que vocês continuem acreditando nele. Ele vai precisar disso quando acordar.

Felix olhou para a multidão e viu algo que fez seu coração acelerar. Uma pessoa levantou a lanterna do celular, depois outra, e logo o estádio inteiro estava iluminado por milhares de pequenas luzes. A visão foi tão comovente que ele mal conseguiu segurar as lágrimas.

— Obrigado... obrigado de verdade — disse, a voz falhando enquanto ele sorria emocionado. — Eu não... eu não sei nem como descrever o quanto isso significa pra mim.

A plateia começou a gritar o nome de Hyunjin, e Felix levou uma mão ao peito, sentindo a intensidade daquele momento. Ele segurou o microfone com força, tentando se recompor, mas a emoção transbordava em cada palavra.

— Eu acredito que ele vai sair dessa. — Felix olhou para as luzes com um sorriso trêmulo. — E quando ele sair, vai ser lindo mostrar para ele o quanto todos vocês o amam. Eu sei que ele... ele vai sentir essa energia, mesmo de onde está agora.

As lágrimas correram pelo rosto de Felix, e ele sorriu, tentando disfarçar a emoção, mas sem muito sucesso. A plateia não parava de gritar, e o apoio que ele sentia naquele momento era uma força que o ajudava a manter a esperança viva.

— Muito, muito obrigado, gente. Vocês são incríveis — ele repetiu, levando a mão livre aos lábios em um gesto de gratidão, beijando-a e soprando na direção do público. Felix fechou os olhos por um instante, deixando-se tomar pela força daquele momento. Quando voltou a abrir, sentiu-se renovado, pronto para continuar o show.

Ele se afastou do microfone, enxugando o rosto rapidamente e tentando recuperar o fôlego. Um técnico se aproximou, estendendo-lhe um copo d'água, e ele aceitou com um leve aceno de cabeça. As batidas da próxima música começaram a preencher o ambiente, mas aquele momento ficaria marcado para sempre no coração de todos.

Naquela noite, Hyunjin, mesmo inconsciente, era lembrado e amado por todos ali. E Felix, de alguma forma, sentiu que aquele gesto era algo que ele precisava — um lembrete de que Hyunjin não estava sozinho, que havia uma onda de amor o esperando, pronta para recebê-lo de volta quando ele acordasse.

...

Na manhã seguinte, o corredor do hospital parecia mais silencioso do que o normal, mas o coração de Felix batia em um ritmo apressado, como em todas as vezes que ele vinha visitar Hyunjin. A diferença era que, naquele dia, algo nele dizia que algo estava diferente.

Felix respirou fundo antes de abrir a porta. Ao entrar, seus olhos logo buscaram a cama, e foi ali que ele congelou. Hyunjin estava acordado. Seus olhos estavam abertos, vagando pelo quarto como se tentassem se localizar em uma realidade que ainda parecia desfocada. Ele ainda não havia notado Felix.

Com passos hesitantes, quase temendo que tudo fosse um sonho, Felix se aproximou, o coração disparado e um nó na garganta. Quando estava perto o bastante, ele sussurrou, com a voz quase falhando:

— Hyunjin...

Aquele chamado fez os olhos de Hyunjin se voltarem para ele, e o silêncio pesado do quarto foi quebrado pela expressão de surpresa e emoção que tomou conta de seu rosto. Os olhos de Hyunjin se encheram de lágrimas, refletindo toda a dor e o alívio que ele parecia sentir ao ver Felix ali.

Hyunjin ergueu a mão lentamente, como se cada movimento exigisse um esforço que ele mal conseguia fazer. Felix não hesitou; ele logo segurou a mão de Hyunjin, envolvendo-a entre as suas e se inclinando levemente para mais perto.

— Você... está aqui — murmurou Hyunjin, a voz fraca, rouca, quase irreconhecível. Ele olhava para Felix como se ainda não acreditasse que estava mesmo ali, desperto, e que Felix não havia saído do seu lado.

Felix engoliu em seco, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair.

— Eu nunca deixei de estar aqui, Hyunjin. — Ele apertou a mão dele com força, os olhos úmidos, enquanto um sorriso tímido surgia em seu rosto. — Você... você nos deu um baita susto, sabia?

Hyunjin fechou os olhos por um momento, um suspiro trêmulo escapando de seus lábios.

— Eu... eu me lembro de algumas coisas — confessou, a voz vacilante. — Não de tudo... mas eu... lembro de ter feito muita merda.

Felix balançou a cabeça, não querendo que Hyunjin se afundasse naquela culpa ali, naquele momento. Ele acariciou a mão dele, os polegares fazendo um movimento suave para tranquilizá-lo.

— Isso não importa agora. O que importa é que você está aqui, comigo... com todos nós.

Hyunjin fitou Felix, seus olhos brilhando de algo entre arrependimento e esperança. Por fim, ele sussurrou:

— E você... você sempre esteve aqui, mesmo depois de tudo? — A vulnerabilidade em sua voz era quase palpável.

— Sempre — respondeu Felix, a voz carregada de sinceridade. — Não havia outro lugar onde eu queria estar. Eu só... só queria que você estivesse bem.

Hyunjin sorriu, um sorriso fraco, mas sincero, e Felix sentiu o peito se aquecer ao ver aquele pequeno sinal de vida. Com esforço, Hyunjin apertou um pouco mais a mão de Felix e murmurou:

— Obrigado, Felix. Obrigado... por não desistir de mim. Mesmo depois de ter perdido você pra sempre.

Felix não conseguiu mais segurar as lágrimas. Ele se inclinou para frente, trazendo a mão de Hyunjin até seu rosto, permitindo que ele sentisse a verdade em seu toque e em suas palavras.

— Você nunca me perdeu, Hyunjin. E agora... agora vamos cuidar de você. Vamos recomeçar.

Hyunjin assentiu levemente, fechando os olhos por um momento, como se estivesse finalmente em paz.