Remorso

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Felix estava saindo do estádio após o show, cercado por seguranças e tentando dar o máximo de atenção às fãs que esperavam do lado de fora. Ele sorriu, assinou autógrafos, tirou fotos, e até pegou alguns presentes que lhe foram entregues. Mesmo exausto, ele fazia questão de agradecer pessoalmente a todos que haviam aparecido.

Quando finalmente conseguiu entrar na van, suspirou aliviado, pronto para um momento de paz. Mas ao levantar o olhar, seu coração deu um salto. Ali, sentado no banco da frente, estava Hyunjin, olhando para ele com um sorriso despreocupado no rosto.

Felix arregalou os olhos e deu um passo para trás instintivamente, a mão pousando sobre o peito.

— Hyunjin! — ele exclamou, tentando controlar o susto. — Não achei que você já estaria aqui.

Hyunjin deu aquele sorriso característico, como se nada estivesse errado, mas a expressão rígida de Felix fez o sorriso dele vacilar. Hyunjin engoliu seco, observando o rosto tenso de Felix, o olhar firme e sem aquela suavidade de antes.

— Eu... achei que seria mais fácil falar com você assim, sem a possibilidade de você fugir — Hyunjin disse, tentando aliviar o clima com um tom brincalhão, mas sabia que não funcionaria.

Felix cruzou os braços e manteve o olhar fixo em Hyunjin, com uma expressão intransigente.

— Não achei que fosse fugir, Hyunjin. Se queria conversar, não precisava se esconder. Só precisava me respeitar.

Hyunjin abaixou a cabeça, percebendo o quanto havia machucado Felix. A máscara de autossuficiência se desfez, revelando um olhar perdido.

— Eu sei que errei, Felix. — Ele olhou para cima, encarando-o com sinceridade nos olhos. — Mas me ouve, por favor. Eu... eu estou tentando me consertar. Você não tem ideia de como essas últimas semanas foram... de como eu me sinto.

Felix soltou uma risada curta, sem humor.

— Como você se sente? — ele repetiu, incrédulo. — Eu vi você em um vídeo, Hyunjin, completamente chapado, transando com duas mulheres. — A voz dele tremeu, mas ele se segurou, não deixando transparecer a dor por completo. — Você sabe o que isso fez comigo? A dor que isso trouxe?

Hyunjin se encolheu no banco, sentindo o peso das palavras de Felix.

— Eu não sabia que elas estavam filmando, Felix... — ele disse, a voz baixa, como se não tivesse forças para argumentar. — Eu estava fora de controle, e eu sei que isso não justifica. Mas eu te perdi uma vez, e parecia que tudo desmoronou. Cada coisa que eu fazia parecia que me afastava mais de você.

Felix o olhava com uma mistura de dor e exasperação.

— Hyunjin, você me perdeu por culpa sua. Eu estava disposto a começar algo com você depois daquela noite, mas você fugiu. E você ainda está me perdendo. Você me perde toda vez que escolhe esses excessos ao invés de enfrentar o que realmente sente — Felix disse, a voz um pouco mais suave, mas ainda firme. — Eu esperei que você fosse diferente, esperei que você quisesse ser alguém melhor. Mas parece que toda vez que algo dá errado, você volta para o mesmo ciclo.

Hyunjin abaixou a cabeça, sem saber o que responder. Ele estava ali, mas a gravidade de suas ações finalmente parecia clara, o peso das escolhas que havia feito.

— E é isso que me machuca, — Felix continuou. — Porque eu me importo com você, mesmo quando tudo me diz para não me importar mais. Mas eu não vou me destruir por você, Hyunjin. Eu aprendi que preciso me amar antes de te amar.

Hyunjin sentiu uma onda de desespero, sentindo que Felix estava escapando de suas mãos, como areia entre os dedos. Ele estendeu a mão, num impulso, segurando o braço de Felix.

— Eu preciso de você, Felix. — A voz dele era um sussurro, cheia de vulnerabilidade. — Me ajuda a ser alguém melhor. Eu sei que não mereço pedir isso, mas você é a única pessoa que me faz querer mudar.

Felix fechou os olhos por um momento, respirando fundo. Parte dele queria acreditar em Hyunjin, queria estender a mão e ajudá-lo. Mas ele sabia que isso não seria justo consigo mesmo, não se Hyunjin não estivesse disposto a mudar por conta própria.

Ele abriu os olhos, encarando Hyunjin.

— Você precisa querer mudar por você, Hyunjin. Não por mim. — Ele afastou delicadamente a mão de Hyunjin de seu braço. — Eu já não posso carregar esse peso para você. E eu não posso me permitir ser arrastado pelo seu caos.

Hyunjin parecia perdido, mas uma parte dele finalmente entendeu a mensagem.

— Eu... entendo, — ele murmurou, com a voz quebrada. — Eu entendo que estraguei tudo. E... talvez eu tenha que aprender a consertar isso sozinho.

Felix assentiu, sem dizer mais nada. As palavras estavam ditas, e ele sabia que, por mais que doesse, essa era a escolha certa para ambos.

Hyunjin o observou por um longo momento, tentando absorver a realidade daquela despedida não dita. Então, com um último olhar cheio de dor e arrependimento, ele saiu da van, deixando Felix para trás.

...

Hyunjin entrou em casa e já sentia a raiva queimando por dentro, como uma chama incontrolável. Assim que fechou a porta, deu um grito furioso, a voz ecoando pelas paredes do cômodo vazio. Sem pensar, ele derrubou o vaso de cerâmica mais próximo, que caiu em pedaços no chão. Em seguida, começou a destruir tudo o que via pela frente: vasos, quadros, almofadas. Cada objeto que tocava parecia um alvo para o ódio que sentia de si mesmo, da situação, e da maneira como havia perdido Felix.

Ele parou, ofegante, observando a sala devastada ao seu redor. A dor da rejeição, misturada ao desespero de saber que talvez tivesse destruído a única coisa boa em sua vida, era insuportável. Sem conseguir lidar com o peso do que sentia, Hyunjin foi até uma gaveta, onde guardava seus suprimentos. Preparou várias carreiras de pó, cheirando uma atrás da outra, até sentir a cabeça girar. O torpor começou a afastar os pensamentos, mas ele sabia que não duraria. Precisava de algo mais, de qualquer coisa que o fizesse se sentir... ou não sentir nada.

Ele pegou o celular e ligou para um dos seus contatos. Em menos de uma hora, uma das mulheres com quem costumava se encontrar estava lá. Eles foram direto para o quarto, onde Hyunjin, sem uma palavra, a puxou para a cama. Mas mesmo enquanto ele estava com ela, o vazio não preenchia. O rosto de Felix ainda estava lá em sua mente, o olhar de dor e decepção, cada palavra fria e definitiva ainda ecoando.

Assim que terminou, ele ligou para outra. Ela chegou pouco tempo depois, e eles repetiram o ciclo, mas, mais uma vez, o vazio persistia. Como se estivesse numa espiral incontrolável, ele chamou uma terceira. Logo estava na cama com as três, mas mesmo assim, a sensação de autodesprezo e fracasso era insuportável.

Em um momento de lucidez, ele deitou de costas, encarando o teto enquanto as três mulheres falavam e riam ao lado dele. Ele fechou os olhos, sentindo a culpa corroendo-o por dentro.

— Vocês podem... — ele começou, a voz rouca e cansada. — Vocês podem ir agora.

Elas se entreolharam, confusas, mas não questionaram. Pouco tempo depois, elas saíram, deixando Hyunjin sozinho naquela casa destroçada. Ele levantou, trôpego, e se arrastou até o banheiro, apoiando-se na pia.

Ele encarou o próprio reflexo no espelho, os olhos vermelhos, a pele pálida e suada. A imagem que ele viu ali era de um homem destruído, um covarde que não sabia lidar com suas próprias emoções. Ele fechou os punhos, batendo no espelho com tanta força que trincou o vidro. Uma pequena rachadura cortava seu reflexo, distorcendo sua imagem, como se aquilo simbolizasse o que sentia por dentro.

— Você é um merda — murmurou para si mesmo, o tom cheio de desprezo. — Um covarde que não sabe como parar.

Fogo cruzadoOnde histórias criam vida. Descubra agora