Fogo cruzado

Vontade de ficar

Hyunjin sorriu, mas era um sorriso leve, quase imperceptível. Felix... ele era realmente diferente. Qualquer outra pessoa teria cedido ou, pelo menos, feito algum esforço para conquistá-lo. Mas Felix? Ele simplesmente não queria ser só mais uma noite. E, por algum motivo que Hyunjin não conseguia explicar, isso não irritava seu ego. Pelo contrário, o fazia sentir algo diferente, algo que ele não conseguia definir.

Felix olhou para ele, notando o sorriso distante, mas sem entender o que se passava na mente de Hyunjin. Ele se remexeu no sofá, cruzando os braços como uma forma de se proteger, enquanto quebrava o silêncio com um tom casual.

— Deveria te incomodar alguém te dizer "não", não é? — provocou, tentando manter a conversa leve, mas seus olhos expressavam uma mistura de curiosidade e expectativa.

Hyunjin suspirou, apoiando o copo na mesa e esfregando a nuca. Ele parecia desconfortável, mas sorriu novamente, dessa vez com um toque de resignação.

— A verdade é que incomodaria, se fosse qualquer outra pessoa. — Ele olhou para Felix, com sinceridade nos olhos. — Mas você... sei lá. Me faz pensar que talvez seja bom que você não queira só isso.

Felix não pôde evitar sorrir também, mas logo desviou o olhar, sentindo-se um pouco vulnerável.

— Talvez eu queira mais, Hyunjin, mas não vou esperar nada de você. Não vou... esperar que você mude da noite para o dia.

Hyunjin assentiu, entendendo. Ele sabia que Felix estava sendo honesto, e isso o tocava de um jeito estranho. Era como se, finalmente, alguém visse através das barreiras que ele sempre construía.

— Eu não sei prometer nada, Felix. — Sua voz saiu quase num sussurro, como se ele estivesse confessando algo muito íntimo. — Eu me conheço. Sei que estou... meio fodido internamente. — Ele riu, tentando aliviar a tensão, mas Felix apenas observava, sem rir.

— Talvez esteja mesmo, Hyunjin. — Felix murmurou, sem julgamento. — Mas fugir para a cama de alguém não resolve. Só adia o que você sente.

Hyunjin desviou o olhar, fixando-o no chão, como se evitasse encarar a verdade. Por um momento, um silêncio desconfortável se instaurou entre os dois. Então, como que para quebrá-lo, Hyunjin olhou para Felix e falou:

— E o que você faria se estivesse no meu lugar? — Ele perguntou, realmente curioso. — Quero dizer... como você lidaria com isso?

Felix suspirou, refletindo.

— Não sei... Talvez não seja fácil pra mim te dar conselhos, porque eu não sinto as mesmas coisas que você. Mas eu só acho que... você merece mais do que fugas. — Felix o encarou, os olhos suaves e gentis. — E as pessoas à sua volta também merecem mais. Eu não vou ser só um desses momentos pra você, Hyunjin.

Hyunjin encarou Felix por um longo momento, absorvendo aquelas palavras. Ele não conseguia lembrar a última vez que alguém falara com ele daquela forma, sem rodeios, sem interesse próprio, apenas com honestidade.

— Você é mesmo louco, sabia? — Hyunjin murmurou, um sorriso leve aparecendo em seus lábios. — Louco de verdade. Quem mais teria a coragem de me dizer isso?

Felix deu um pequeno riso, mas seus olhos permaneciam sérios.

— Talvez, mas eu prefiro ser louco do que viver uma mentira.

Hyunjin ficou em silêncio, e Felix pôde ver em seus olhos que ele estava lutando internamente. Aquela verdade o tocava, mas ele não sabia como lidar com isso. Tudo o que ele conhecia era o vazio temporário que ele preenchia com noites fugazes. Qualquer coisa além disso parecia aterrorizante e, ao mesmo tempo, desconhecido.