15 de Agosto, 23:00

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Diário,

Hoje a aula dos professores foi muito estranha. Todos abordaram temas que envolviam as consequências do uso das drogas. Principalmente a aula da professora Fabiana que tinha o maior tempo; discutimos muito sobre cada tipo de droga e suas consequências, inclusive percebi que a maioria da minha sala já experimentou algum tipo. Claro que eu não me manifestei, as pessoas tem uma visão diferente sobre mim: acham-me um "anjo". Por isso seleciono bem as pessoas com quem ando e tudo acontece de forma sigilosa.

Durante a aula tivemos que apresentar em plenária alguns tipos de drogas e seus efeitos. A minha equipe ficou com a MACONHA como tema. Aninha foi quem apresentou maior parte do conteúdo, eu, praticamente só apresentei a equipe e isto incomodou um pouco a professora. Não sei por que ela está tão interessada nesse assunto, parece até que ela sabe que nós usamos de vez em quando.

Outro aspecto que me incomodou foi o Pelado, que mal falou durante a apresentação. A equipe dele ficou com a COCAÍNA e percebi que ele estava muito desconfortável em relação à temática da aula. Sem falar nos olhares e cochichos durante a apresentação da equipe dele.

Pelo menos desta aula pude conhecer algumas coisas sobre a maconha, coisas que eu não sabia e que são importantes que saibamos, pelo menos, para nos proteger e evitarmos de nos tornarmos dependentes. Aprendi que com o uso contínuo, alguns órgãos, como o pulmão, passam a ser afetados. Devido à contínua exposição com a fumaça tóxica da droga, o sistema respiratório do usuário começa a apresentar problemas como bronquite e perda da capacidade respiratória. Além disso, por absorver uma quantidade considerável de alcatrão presente na fumaça de maconha, os usuários da droga estão mais sujeitos a desenvolver o câncer de pulmão. O consumo da maconha também diminui a produção de testosterona. Portanto, com a diminuição da quantidade de testosterona, o homem que consome continuamente a maconha apresenta uma capacidade reprodutiva menor.

Diante disso tudo que foi visto e discutido em sala de aula me bateu uma vontade enorme de puxar um baseado. Por isso, depois da aula marcamos de nos encontrar atrás dos muros da escola, onde fica um galpão abandonado. Victor, Jéssica e eu atravessamos o terreno baldio e fomos sentar um pouco nesse galpão para puxarmos um baseado tranquilamente.

- Vocês não acharam a professora Fabiana muito direta em relação às drogas e sempre com um olhar em cima da gente? – nos questionou Jéssica.

- Eu achei muito estranho mesmo, parecia que ela sabia da gente. – disse-lhe pegando meu celular e colocando Avril Lavigne para tocar.

- Avril não, por favor. – indagou Jéssica. – Coloque Paramore, please.

- Paramore não! Me lembra...

- A Manu... – completou Victor e antes mesmo que eu pudesse argumentar ele continuou. – Patrick, meu caro, Manu e Pelado não estão mais juntos. E sabe por quê? Os pais dela não a querem se relacionando com um "suburbano" metido com drogas.

- Como assim? A Manu não daria ouvidos a uma idiotice dessas. – gritou Jéssica.

E ela tinha razão. Se havia algo que eu admirava naquela garota era essa imparcialidade dela. Mesmo sendo de classe média alta, ela jamais demonstrou nenhum tipo de preconceito. Inclusive se dava bem com todos da escola, chegando a ser uma das mais populares de lá somente por conta desse jeito dela de ser legal com todo mundo.

- Mas vocês sabem pelo que o Pelado está passando, não sabem? – perguntou Victor, abrindo um saquinho e despejando a maconha nas folhinhas de papel. – Desde que a polícia bateu na casa dele, ninguém mais lá teve paz. Tudo por culpa do primo traficante que está devendo uma bolada ao chefe de uma máfia do bairro inimigo. E pelo que sei o Pelado está tentando se livrar de um problema que não é dele.

- Meu Deus, isso é uma desgraça na vida de meu amigo, digo, do amigo de vocês. – disse isso, observando o rosto da Jéssica.

- Do nosso amigo, Pat. Essa história de ex-amigo não existe. – exclamou ele, enrolando o papel. Lambeu a borda da folhinha, enfiou o filtro numa das extremidades e torceu a outra para formar um bico. – Lindo! – exclamou, todo contente.

Em seguida estendeu a mão pedindo o fósforo que Jéssica tinha roubado da cantina da escola, pôs a ponta com o filtro na boca e acendeu o baseado. Deu então uma forte tragada, contemplativa, soprou um jato grosso de fumaça e repetiu a operação.

Peguei a droga e dei uma tragada sentindo o poder dela se irradiar. Jéssica se debruçou sobre nós, rindo também, não só pela expectativa, mas principalmente por causa do sorriso beatífico que via no rosto de Victor.

Dei uma segunda tragada e achei que minha mente estava sendo sacudida como um travesseiro, tudo ficando macio, fácil, leve.

Quando fui passar para o Victor, ele já estava com os dedos postos em minha direção. Seu sorriso mais parecia de um bobo da corte pendurado num balanço de algum parquinho público. Jéssica deitou em meu colo e eu encostei minha cabeça no ombro de Victor.

- Como é ficar com uma mulher, Jéssica? – perguntou Victor, dando uma tragada forte.

- Você não sabe? Nunca transou com uma?

- Nem eu! – respondi, tentando clarear o constrangimento dele.

- Bem, no meu caso – disse Jéssica, puxando forte a maconha. – é bem diferente. Há todo um estágio, carícias, beijos e dedos, principalmente dedos...

- E a língua. Não esqueça a língua. – completou Victor e nós começamos a rir.

Fui tentar dar minha última tragada e queimei os dedos, derrubando um pouco da brasa dentro do decote da Jéssica.

- Meu amigo disse que é muito bom estar dentro de uma menina. – disse Victor.

- Que amigo? – perguntei-lhe, mas fomos interrompidos pelo toque do celular de Jéssica.

- Gente, eu preciso ir, meu amorzinho está me chamando. – disse Jéssica, sem notar que aquilo poderia magoar nosso amigo.

- Então vamos também! – disse Victor.

Quando cheguei ao apartamento encontrei minha mãe no sofá olhando umas roupinhas de bebê junto com o Frank. Senti um nojo enorme e vim para o meu quarto. Mas antes que eu pudesse me deitar ela gritou:

- A pia lhe espera meu querido, desde ontem.

Confissões de um TaurinoOnde histórias criam vida. Descubra agora