Diário,
Antes do Jack vir me pegar para irmos à cidade onde Nina mora, arrumei toda a casa, deixei tudo como minha mãe gostaria que ficasse, pois não sabia que horas nós retornaríamos da viagem.
Tomei um banho demorado ao som da banda The Calling. Meu banho durou umas nove músicas. Parece estranho, mas a maioria das coisas que faço, marco não pelo relógio, mas pelas músicas. Coisas de Patrick, só eu entendo.
Quando o Jack chegou, senti-me traído. Ele estava muito bem vestido, para não dizer que ele estava bonito. Fiquei com vontade de voltar e me trancar em casa. Fiquei imaginando a reação de Nina quando o visse. Provavelmente seria atraída por ele. Mas tive que encarar os fatos.
E para minha surpresa ele usava o mesmo perfume que eu.
Como num passe de mágica, passou-me pela cabeça eu dando uma surra nele e roubando seu carro. Mas foi só por um segundo esses perversos pensamentos.
Durante a viagem, fomos ouvindo The Script, uma banda que só o Jack curte, mas confesso que também gostei.
Para disfarçar a ansiedade, de vez em quando eu fazia algumas palhaçadas e ele ria.
Sabe, diário, o Jack é mais bonito quando sorri. Aliás, eu vejo as pessoas mais bonitas quando sorriem. Seja um sorriso forçado, um meio sorriso, um sorriso de canto. Eu vejo beleza nos sorrisos. Mas me apaixono por aquelas pessoas que se permitem gargalhar. Se o mundo soubesse o bem que faz um sorriso acho que o nosso planeta teria o formato de uma boca.
Enquanto ele sorria, comecei a me imaginar no lugar dele. Apesar de ter a vida que ele tem, qualquer pessoa gostaria de ser como ele.
Chegamos por volta das 17 horas e fomos à procura do Central Café, local que marcamos de nos encontrarmos. Ao chegarmos lá, percebemos que a cafeteria só seria aberta uma hora depois de nossa chegada. Então, resolvemos dar uma volta pela cidade para conhecermos um pouco alguns locais, que por sinal não foram tão interessantes. Cidade pequena, novidade zero.
Estacionamos num parque próximo e fomos fumar. A ansiedade já estava me esgotando, mas não podia deixá-la me dominar. Missão quase que impossível.
Depois daquele passeio, ao invés de ficar mais calmo, acabei tornando a situação pior. Agora, não somente eu estava ansioso ou desesperado, como também era visível o nervosismo explícito de Jack.
Voltamos à cafeteria e ao entrarmos verifiquei cada lugar, cada detalhe e não vi nada ou ninguém que pudesse me dá uma pista sobre a presença de Nina.
A cafeteria era um lugar aconchegante, possuía uma luminosidade tranquila e misteriosa. Ali servia muito mais outras coisas do que o próprio café. Tenho certeza que aquele lugar servira de ponto de encontro entre casais que até hoje devem estar juntos.
Jack e eu sentamos próximos a porta de entrada para podermos ver o momento de chegada da garota. Pedimos, então, dois cafés e ficamos conversando.
O tempo passou voando e quando percebemos já havia passado duas horas e meia desde a nossa chegada.
- Pat, acho que ela não virá. – disse-me Jack, sorumbático.
- Você ainda acha? Tenho certeza absoluta. Só não entendo por que ela fez isso comigo. – retribui-o com um ar pesaroso em minhas palavras.
- Não gosto de vê-lo assim, Pat. Sorria! – disse-me ele dando um leve tapa em meu rosto.
Dei-lhe um sorriso, mas não sei se o convenci. Senti-me mal por tê-lo feito esperar tanto tempo comigo por conta de uma menina que eu só conhecia virtualmente. Mas como o Jack é o Jack, ele deu um jeito de transformar aquela decepção numa noite diferente.
Meu amigo decidiu que deveríamos aproveitar o resto da noite naquela cidade, portanto acabamos saindo dali para uma boate, um pouco distante.
Ao chegarmos à boate, Jack deu um jeito (não sei como), pois não vi como ele fez para me colocar dentro de uma boate que não aceitava menores de idade, mas consegui entrar.
No interior da boate fomos direto ao bar e Jack tomou a brilhante decisão de que aquela noite seria por conta dele. Assim, pediu de inicio duas doses de tequila e me ensinou o ritual quase cômico de como beber tequila. Coloquei um pouco de sal em cima da mão e tomei a dose, em seguida lambi o sal e chupei um pouco do limão. Começamos a rir e pedimos mais uma dose.
De repente começou a tocar Thriller do Michael Jackson e corremos para a pista de dança.
Dançamos, bebemos, rimos e pulamos. No instante em que o Jack saiu para comprar mais bebida dois caras se aproximaram de mim e perguntaram-me se eu estava solteiro. Respondi que sim e somente algum tempo depois percebi que estávamos numa boate gay.
Aquilo me deixou nervoso e eu me encontrava sozinho na pista de dança.
Quis sair correndo dali, porém alguém me agarrou pela cintura e disse, tentando intimidar os rapazes.
- O que está acontecendo, Pat? – era Jack quem havia segurado minha cintura.
- Seu namorado? – perguntou o garoto mais alto.
- Sim, algum problema. – respondeu Jack, sem hesitar. Em seguida os meninos saíram a contragosto.
Olhei para Jack e começamos a rir. Por pouco eu ia sendo atacado.
- Vamos ao banheiro, namorado! – disse-me Jack puxando-me com força.
Entramos no banheiro e ele trancou a porta. Fiquei curioso para saber o que iriamos fazer ali trancados.
Jack retirou do bolso o celular e colocou-o em cima da pia daquele minúsculo lugar. Sacou um saquinho com cocaína e despejou a droga em cima da tela do aparelho eletrônico. Usando o próprio CPF, dividiu todo o pó em fileiras e começamos a cheirar.
Cada vez que eu aspirava aquele maldito pó era como se eu levasse uma espetada nas têmporas. Do outro lado do banheiro, alguém batia na porta tentando entrar. Fiquei assustado pois poderia ser a segurança.
Terminamos de cheirar e voltamos para a pista de dança. Quando chegamos lá, encontramos duas lindas garotas dançando e se beijando. Era quase impossível não ficar olhando. Ambas possuíam uma sensualidade fora do comum, mas acabei exagerando no olhar.
- Vocês formam um casal tão bonito. Por que não se beijam ao invés de ficar nos olhando? - disse uma delas meio que irritada.
- Nã..Não...não somos um casal. – respondi embaraçado.
- Se vocês nos beijarem, a gente se beija. – propôs Jack surpreendendo-me mais uma vez.
Pensava eu que elas jamais cairiam na proposta dele, mas foi pura ilusão minha. Ambas vieram em nossa direção e nos beijaram. E que beijo, viu.
Elas elogiaram nosso beijo, disseram que beijávamos bastante parecido e em seguida pediram que nós nos beijássemos. E isso foi durante toda à noite.
Quando a boate já estava esvaziando resolvemos dar carona para as meninas. Eu já estava muito chapado. Já Jack, esse ninguém nunca sabe quando está bêbado.
Durante a volta, viemos escutando Red Hot Chili Peppers. Jack ria das minhas piadas e eu ria toda vez que me lembrava daquelas meninas.
Enfim, acabei esquecendo Nina. Quando Jack parou em frente a minha casa, percebi o quanto ele tinha sido importante em minha vida. Principalmente naquela noite, então, ao me despedir dei-lhe um beijo. Um beijo seco, um beijo estranho, mas dei-lhe um beijo.
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Confissões de um Taurino
Teen FictionPatrick tem apenas 16 anos e já precisa tomar decisões sobre o futuro, sobre as amizades e principalmente sobre si mesmo. Saber quem você é num mundo cheio de escolhas e reviravoltas não é nada fácil. Através das páginas de seu diário, Patrick colo...