Laços do Destino

Capítulo 71

"Os segredos sussurram nas sombras do destino, esperando o momento certo para revelar a verdade que mudará tudo."

Nova Orleans, Luisiana  - 2013

No instante em que a estaca penetra seu coração, o mundo ao redor de Clarissa desaparece. Uma leveza incomparável toma conta dela, como se a alma estivesse se desprendendo do corpo, deixando para trás todas as preocupações, a dor e as lembranças que a mantinham ancorada ao mundo físico. Ela não escuta vozes nem sente o peso das últimas emoções; há apenas um vazio profundo, sereno, e uma estranha paz que a envolve.

Aos poucos, seu espírito é atraído para uma corrente de energia suave e envolvente. Clarissa sente-se levada, flutuando, sem resistência. O tempo e o espaço parecem não ter mais significado, e ela se deixa guiar pela sensação, que traz consigo um calor familiar, quase como um sussurro perdido no vento, algo que parece chamar por ela, suave e caloroso.

Quando abre os "olhos" de sua alma, encontra-se em um lugar vasto e luminoso, onde a realidade é feita de nuances suaves e brilhantes. Campos intermináveis de flores delicadas se espalham ao seu redor, com pétalas que refletem uma luz prateada, oscilando suavemente ao toque de uma brisa etérea. Árvores de troncos retorcidos e folhas que brilham como estrelas formam um caminho, guiando-a para mais fundo nesse plano de descanso e serenidade.

Seu espírito se sente em casa, acolhido por uma energia ancestral, como se esse lugar sempre tivesse sido parte de si. Clarissa caminha em silêncio, absorvendo cada detalhe com a essência de sua alma, e sente uma presença antes mesmo de vê-la.

No final do caminho, à sombra de uma árvore de galhos amplos e brilhantes, está sua mãe. Ela sorri, um sorriso terno e conhecedor, que carrega toda a sabedoria do tempo em que viveu ali. A presença dela é forte, cheia de amor e serenidade. Clarissa sente sua alma vibrar com uma alegria silenciosa e profunda, algo que não pode ser expresso em palavras.

Sua mãe estende a mão, como se para receber a filha depois de uma longa jornada. Clarissa sente a carícia daquele gesto em seu espírito, um toque leve, quase como um sopro que dissipa todas as cicatrizes da sua alma.

Elas não precisam de palavras. Ali, no coração desse lugar, o laço que une mãe e filha fala por si, um laço que transcende a própria existência. Clarissa sabe que sua estadia será breve, mas, por um instante, o tempo se dissolve, e elas caminham lado a lado, em paz, compartilhando aquele momento eterno onde nada mais existe poder e da presença uma da outra.

E então, quando os ecos suaves do amor da mãe, parecem abraçar sua alma, Clarissa sente o peso antigo que nunca a abandonou. A presença de sua mãe traz à tona a lembrança do dia fatídico de sua transformação, quando, tomada pelo rancor, pela fome e pela nova força de vampira, ela caçou e tirou a vida de quem deu a vida a ela. A culpa que carrega há mil anos agora parece pulsar em seu espírito, misturando-se ao amor, a culpa e à saudade.

Ela percebe que o destino a trouxe até ali não apenas em busca de respostas, mas de redenção, de perdão — não da mãe, mas dela mesma. Ao encarar o olhar terno de sua mãe, Clarissa sente que talvez seja possível encontrar paz com o passado, que talvez esse encontro seja o começo de uma nova jornada, onde o amor possa finalmente sobrepor-se ao arrependimento.

— Eu estava esperando por você. — Kayla disse, sorrindo para a filha, seu olhar profundo refletindo anos de sabedoria e um carinho eterno.

Clarissa parou, sentindo uma mistura de ansiedade e expectativa que vibrava em sua alma.

— Mãe... quem eu realmente sou? — perguntou, sua voz carregada de incerteza e um desejo desesperado por respostas.

Kayla soltou um suspiro suave, seus olhos brilhando com um misto de orgulho e melancolia.