Presentes

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Hellooooo, voltei, ficou quente aí também?!
🥵

No dia seguinte, quando chego ao escritório e entro na sala da minha chefe para buscar
uns arquivos, suspiro ao me lembrar do que aconteceu ali na véspera. Quase não dormi.
Não paro de pensar na senhora Kalimann e no que houve entre nós. Na noite anterior, ao chegar em casa, vi na televisão a reprise do jogo Alemanha-Itália. Que jogaço da
Itália! Quero esfregar na cara dessa sujeita pedante a eliminação de seu país.
Fred aparece e vamos juntos tomar café da manhã. Paco e Raul se juntam a nós e conversamos animados, enquanto observo a entrada na expectativa de que Rafaela, a
Boss, a mulher que me convidou para jantar e me deixou super excitada, passe por aquela porta. Mas isso não acontece. E eu fico decepcionada. Então, depois que acabamos o café, voltamos a nossas respectivas salas.
Ao retornarmos, Fred vai ao departamento administrativo. Precisa resolver algo que a senhora Kalimann lhe pediu no dia anterior.
Disposta a enfrentar um novo dia, ligo meu computador e em seguida meu telefone toca. É da recepção para avisar que um jovem com um buquê de flores está perguntando por mim. Flores? Nervosa, me levanto da cadeira. Nunca ninguém me mandou flores e tenho certeza de quem foi: Kalimann.
Com o coração disparado, vejo as portas do elevador se abrirem, e um jovem com um boné vermelho e um lindo buquê confere a numeração das salas. Mas, ao se dar conta de que estou olhando para ele, aperta o passo.
— Por acaso você é a senhorita Andrade? — pergunta ao chegar perto de mim.
Quero gritar: “Sim! Meu Deeeeeeus!”
O buquê é espetacular. Lindas rosas amarelas. Amei!
O jovem do boné vermelho me olha e, por fim, respondo “sim” à sua pergunta.
— Assine aqui e, por favor, entregue esse buquê à senhora Gabriela Versiani. Minha boca abre e não fecha mais.
É pra minha chefe?
Um balde de água fria.
Meus breves segundos de felicidade por me considerar alguém especial se desfazem num piscar de olhos. Mas, sem querer deixar minha decepção
transparecer, pego o buquê, olho para ele e quase choro. Seria tão bom se fosse para mim... Deixo o buquê sobre minha mesa e assino o papel que o rapaz estende na minha direção. Depois que ele vai embora, levo as lindas flores à sala da minha chefe. Coloco-as em cima da sua mesa e me viro para sair. Mas então sou dominada pela curiosidade, daí me viro de volta e procuro o cartão entre as flores. Eu o abro e leio:
“Gabriela, repetimos na próxima vez? Rafaela Kalimann.”

Ler isso me deixa nervosa. Como assim “repetimos”?
Fala sério! Parece propaganda de chocolate. “Repetimos?”
Rapidamente deixo o cartão no seu devido lugar e saio da sala. Meu humor agora está péssimo. Espero que ninguém me encha nas próximas horas ou vai pagar muito caro. Eu me conheço e sei que sou bem perversa quando fico chateada.
Sem conseguir tirar da cabeça esse “repetimos?”, começo a digitar um relatório no computador, até que minha chefe aparece.

— Bom dia, Bianca. Entre na minha sala — diz sem olhar para mim.
Não! Agora não. Mas me levanto e a sigo.

Quando entro e fecho a porta, ela vê o buquê de flores e o pega. Tira o cartão e eu a vejo sorrir. Que idiota! Meu pescoço está coçando! Malditas brotoejas.

— Falei com Roberto, do RH — me diz.
Ai, minha nossa! Vai me demitir?

— Vai haver umas mudanças na empresa. Ontem tive uma reunião muito interessante com a senhora Kalimann, e algumas coisas vão mudar em muitas das sucursais
espanholas.

Escutar que ela teve uma reunião interessante é algo que me incomoda. Mas logo o telefone toca e eu atendo imediatamente.

— Bom dia. Sala da senhora Gabriela Versiani. Sou a secretária, a senhorita Andrade. Em que posso ajudá-lo?

— Bom dia, senhorita Andrade. — É Kalimann! — Poderia me passar para sua chefe?
Com o coração acelerado, consigo balbuciar:
— Um momento, por favor.
Nem preciso dizer que minha chefe, quando informo que é ela, aplaude — não apenas com as mãos — e pede que eu me retire da sala. Mas antes de sair eu a ouço dizer:

— Oieeee. Chegou bem ao hotel ontem à noite?
Ontem à noite? Ontem à noite? Como assim “ontem à noite”?
Fecho a porta.

Mas ontem à noite ela estava comigo!
Então minha mente fantasiosa logo começa a imaginar o que aconteceu. Ela era a mulher com quem ela falava ao telefone no carro. Me deixou em casa e foi encontrá-la.
Será que voltou ao Moroccio?
A cada segundo que passa, fico com mais raiva. Mas por quê? A senhora Kalimann e eu não temos nada. Apenas jantamos, ela colocou a mão em mim por cima da roupa e
assistimos juntos a um espetáculo sexual. Isso me dá o direito de ficar com raiva?
Volto à minha cadeira e continuo a digitar. Tenho que trabalhar. Não quero pensar. Em algumas ocasiões pensar não é bom, e esta é uma dessas ocasiões. A uma da tarde, minha chefe sai da sala e, após dirigir o olhar para Fred, ele se levanta e eles vão
embora juntos. Sei o que vão fazer. Treparão como coelhos durante as duas horas de almoço, e sabe-se lá onde.
Trabalho, trabalho e mais trabalho. Me concentro no meu trabalho.
Estou tão mal-humorada que ataco minhas tarefas com muita energia e me livro de uma pilha de papéis. Por volta de duas e meia, chega Óscar, um dos seguranças que ficam na portaria.
— O motorista da senhora Kalimann deixou isto aqui pra você — diz, me entregando um envelope.

Boquiaberta, olho para o envelope fechado com meu nome escrito. Agradeço a Óscar, e ele se retira. Fico um tempo observando a embalagem e, sem saber por quê, abro uma
gaveta e o guardo ali. Não pretendo abrir até segunda-feira. Hoje é sexta. Dia de trabalhar direto até as três, sem pausa para o almoço.
O telefone toca. Atendo e, após dizer as palavras de sempre, escuto do outro lado:

— Abriu o pacote que te mandei?

Kalimann! Não respondo e ele acrescenta:
— Estou ouvindo sua respiração. Responda.
Mil respostas passam pela minha cabeça. A primeira: “Mandona!” A segunda é pior.

— Senhora Kalimann, o pacote acabou de chegar e resolvi esperar até segunda-feira

— respondo finalmente.

— É um presente para você.

— Não quero nenhum presente seu — murmuro com um fio de voz, surpresa com suas palavras.

— Por quê?

— Porque não.

— Ah! Senhorita Andrade, essa resposta não me serve. Abra o pacote, por favor.

— Não — insisto.
Eu a ouço bufar... Estou irritando ela.

— Por favor, abra.

— E por que eu deveria abrir?

— Bia, porque é um presente que comprei pensando em você.

Ah tá... Então voltei a ser Bia?
E, como sou uma fraca, uma idiota e ainda por cima uma curiosa incorrigível, acabo abrindo a gaveta, pego o envelope, rasgo, olho dentro dele.
— O que é isso?
Escuto sua risada.

— Você disse que estava disposta a tudo.

— Bem... eu...

— Você vai gostar, pequena, te garanto — me interrompe.

— Um é para casa e o outro
é pra você levar na bolsa e usar em qualquer lugar e a qualquer hora.
Ao ouvir o tom de sua voz quando diz “a qualquer hora”, sinto falta de ar. Meu Deus, cá estamos nós outra vez!

— Passo na sua casa às seis — afirma antes que eu possa responder.

— Vou te ensinar a usar.

— Não estarei lá. Vou à academia.

— Às seis.

A ligação cai e eu fico com cara de idiota.
Enquanto ouço o telefone apitar do outro lado da linha, sinto vontade de soltar um monte de palavrões. Mas só eu escutaria. Ela já foi embora.
Irritada, desligo. Olho de novo dentro do envelope e leio “Vibrador Fairy. Sucesso no Japão”. Nesse momento, meu corpo reage e eu suspiro. Acabo guardando-o na minha bolsa e apoio os cotovelos na mesa e minha cabeça entre as mãos.

— Preciso parar com isso — digo em voz baixa.

— E já!

The Boss / RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora