Acidente

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Na manhã seguinte, eu e Rafaela chegamos separadas ao escritório. Ela está emocionada pela minha decisão de ir com ela para a Alemanha; e eu também estou. Por sorte tenho
algumas roupas em seu hotel e me troco para não ir com a mesma da véspera.

Não comentei com ela o episódio com aquelas mulheres, e decido ficar quieta. No fundo não aconteceu nada, e, se eu contar, ela vai ficar aborrecida comigo.

Como todo dia, Fred vem me buscar e vamos tomar café antes de começarmos a trabalhar.
Me sento em frente à porta. Sei que Rafaela entrará de uma hora para outra e vai me procurar com o olhar. Ela não falha. Dez minutos depois, a mulher por quem estou completamente apaixonada passa pela porta e, depois que me localiza, acomoda-se bem diante de mim.

Fred e eu continuamos conversando, e observo discretamente Rafa tomando café da manhã. Fico concentrada no seu jeito elegante de passar a manteiga no croissant. Em
alguns momentos nossos olhares se cruzam, sei que ela está feliz porque vou morar com ela na Alemanha e preciso me segurar para não ficar rindo como uma boba.

Quando terminamos o café, Fred e eu nos levantamos e Rafaela faz o mesmo. Eu a vejo sair e, ao chegarmos ao elevador, ela está esperando com as mãos enfiadas nos bolsos,
com a sua expressão séria e impenetrável. Assim que repara na nossa presença, olha para nós dois.

— Bom dia, senhorita Andrade. Senhor Morán.

— Bom dia, senhora Kalimann — dizemos em coro.

As portas do elevador se abrem e nós três entramos. Vamos para o 17º andar, mas o elevador vai parando e pegando outras pessoas. De repente, sinto Rafaela roçando os nós dos meus dedos nos seus, e eu sorrio. Cada vez é mais difícil estarmos juntas sem nos
tocarmos.

Quando a porta se abre no nosso andar, nós três saímos, mas Rafaela toma um caminho diferente do nosso.

— Será que a Ice woman sorri alguma vez? — cochicha Fred ao vê-la se afastando.

— Pssss... não sei.

— Essa mulher precisa é de uma boa trepada. Você ia ver só como ele ia sorrir rapidinho.

Seu comentário me faz soltar uma gargalhada. Se Fred soubesse o que eu sei, ficaria bem surpreso, mas prefiro fazer de conta que concordo e pronto.
Então minha chefe aparece, olha para nós dois e com sua voz irritante me avisa num tom ríspido:

— Bianca, deixei várias pastas na sua mesa. Preciso que você xeroque o que está dentro delas e depois leve à minha sala. Fred, acho que estão te procurando no seu departamento. Vamos, ao trabalho!

Sigo meu caminho até a sala. Ali dentro, vejo as pastas e me dirijo à máquina de xerox. Depois respondo vários e-mails das sucursais. Lá pelas onze, entro no arquivo.
Preciso de vários papéis que os representantes me pediram. Me concentro neles, até que ouço uma voz às minhas costas:

— Hummmm... confesso que te encontrar no arquivo me dá mil ideias pervertidas.

Sorrio. É Rafaela, que me observa da porta.

— Senhora Kalimann, deseja algo?

Seus olhos passeiam pelo meu corpo.

— Pode dar uma voltinha? Você fica ótima com essa calça.

Fico toda boba com seu elogio e faço o que ela pede. Dou uma voltinha e pergunto:

— Satisfeita?

— Sim... mas eu ficaria ainda mais satisfeita se você tirasse sua roupa e...

— Rafaela!

Com as mãos nos bolsos, sorri.

— Menina... — murmura sem se aproximar. — Se é você que me provoca...

The Boss / RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora