Às oito da noite, Frida e eu decidimos começar a nos arrumar. Eles também. Nos vestimos separados para surpreender uns aos outros, e gosto disso.
Quero que Rafaela tenha
uma surpresa. Frida se oferece para me maquiar, algo que não faço com muita frequência, então aceito. Ela é esteticista. Me aplica uma sombra escura nas pálpebras e usa bases de mil potinhos no rosto todo. E, quando me olho no espelho, minha expressão
é impagável. Essa desconhecida com esses olhões sou eu?Frida ri e me anima a continuarmos com a produção. Ela comprou um vestido vermelho, decotado e cheio de franjas, e eu um prateado de lantejoulas, solto até os quadris. Os dois vão até os joelhos e são sensuais e provocantes. Usaremos sapatos de
salto incríveis, colares imensos, plumas no cabelo e também umas luvas compridas até acima dos cotovelos. Quando acabamos, nos olhamos no espelho e Frida diz, achando graça:— Uau... estamos parecendo melindrosas de verdade!
— Melindrosas? O que é isso?
— Bianca, nos anos 20 a mulher mudou radicalmente de imagem e ficou mais livre...
mais atrevida. As melindrosas dançavam charleston e se vestiam de maneira diferente, provocativa e meio doidinha. Exatamente como a gente. Prontas pra deixar os homens
loucos.Isso me faz rir. Frida é divertida e tem um senso de humor maravilhoso. Pegamos nossas piteiras de meio metro que compramos e descemos para a sala, onde estão
nos esperando.Antes de entrar, vejo Rafaela e fico sem palavras. Ela usa um terninho branco, uma camisa preta, e um chapéu no estilo Al Capone. Está sexy e gatíssima. Andrés também, mas seu terno é cinza e sua camisa vermelha. Quando nossos olhares se encontram, sorrio.
Reparo que ela gosta da minha fantasia e vem, me pega pela mão e me faz dar uma voltinha na sua frente.— Está deslumbrante.
— Gostou?
— Adorei, tanto que acho que nem vou te deixar sair de casa.
Isso me faz rir. Me afasto dela e me requebro um pouco para que o vestido balance.
— Sou uma melindrosa! — Por sua expressão vejo que não sabe do que estou falando, então explico: — Uma mulher desinibida da época do charleston.
Rafaela sorri, me pega pela cintura e, enquanto seguimos Frida e Andrés até o carro, murmura em meu ouvido:
— Muito bem, melindrosa... vamos nos divertir.
Às nove e meia, entramos numa linda mansão decorada no mais puro estilo anos 1920. Fascinada, olho ao redor e me surpreendo ao ver uma banda tocando no fundo de um enorme salão. Os músicos estão de branco, como nos famosos filmes de gângsteres que eu via quando era pequena.
Rafaela me apresenta aos anfitriões e estes, encantados, elogiam minha roupa. Eu sorrio, feliz. Andrés e Frida também os cumprimentam. Entro no salão e vejo as pessoas
conversando animadamente e percebo que todo mundo conhece Rafa e fala com ela.Enquanto me apresenta aos empregados da casa, eu fico admirada. Saber que é uma
festa em que todos estão em busca de sexo é algo que me surpreende. Há gente de todas as idades. Gente jovem e gente mais velha.
Terminadas as apresentações, Rafa e eu ficamos um tempo curtindo o som. Frida, que sabe tudo sobre os anos 1920, é quem me diz se está tocando um boogie-woogie, um charleston ou um foxtrot. Eu não entendo nada disso. Sou mais um rock. E, quando já
entornamos vários copos, descubro que foi Frida quem ajudou Maggie, a dona da casa, a organizar a festa. Conforme as horas vão passando, percebo como os homens se aproximam de nós e me devoram com os olhos. Sei o que estão pensando, mas estou tranquila. Ninguém, absolutamente ninguém, diz nada que possa me incomodar. Todos
são muito educados.
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The Boss / Rabia
RomantizmRafaela Kalimann é uma garota intersexual, que perde o pai e assumi a empresa da família, se tornando uma empresária alemã poderosa que se "apaixona" pela secretária Bianca Andrade.