Demissão

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Na segunda-feira, quando chego ao trabalho, fico sabendo que Rafaela, minha suposta namorada, voltou para a Alemanha. Foi embora e não me avisou. Claudia, sua secretária,
está empolgada porque ela pediu para ela se encontrar com ela na quarta-feira nos escritórios de Munique. Isso me tira do sério. Saber que ela foi embora por não querer
me ver nem falar comigo me deixa arrasada. E, cada vez que olho para as caixas embaladas, me dá um nó na garganta.

Os dias vão passando dentro do possível. Não ligo para ela. Não mando e-mails.
Resumindo, não vivo. Eu lhe disse que, se fosse embora, teria de assumir as consequências, e sou uma mulher de palavra. Mas tenho que falar com ela. Preciso disso.

Escrevo um e-mail para a tal de Betta ou Rebeca, mas ela não responde. Compro um celular e coloco o chip do telefone em que tenho o número dessa sem-vergonha, mas ela
não atende. Ligo para Marisa, e ela também não atende. Estou de mãos e pés atados e não sei o que fazer. Nem como provar a Rafaela que o que ela pensa de mim é mentira.

Minha chefe tem sido simpática comigo esses dias. Continuo sendo a namorada dachefona e percebo que ela não me enche de trabalho como fazia há alguns meses. Agora
até fico entediada.
Na semana seguinte, quando chego ao escritório na segunda-feira, me surpreendo ao ver Rafaela na sala dela. Meu coração dispara. Minhas mãos começam a suar e acho que vou
ter um troço. Caminho pelo departamento para que ela me veja. Sei que me viu. Mas, como ela não me liga nem faz nada para falar comigo, resolvo tomar a iniciativa.
Quando abro a porta da sua sala, Rafaela me olha de um jeito duro.

— O que deseja, senhorita Andrade?

Fecho a porta. Meu coração está a mil. Vou até sua mesa e murmuro:

— Fico feliz em saber que você voltou.
Me olha... me olha... me olha e finalmente repete com uma expressão neutra:

— O que deseja, senhorita Andrade?

— Rafaela, a gente precisa conversar. Por favor, você tem que me escutar.

Com um olhar implacável, ela se recosta na poltrona.

— Já deixei muito claro que eu e a senhorita não temos mais nada a falar. E agora, por gentileza, volte à sua sala antes que eu perca a paciência e a coloque no olho da rua,
como está merecendo.

Meu corpo acusa o golpe. Ah, não... isso não vai ficar assim.
Quero gritar. Quero dar um chute nela e não aceito que me trate com tanta frieza.
Mas, como preciso que ela me escute, faço um esforço para engolir o orgulho.

— Senhora Kalimann, gostaria que o senhora ouvisse o que tenho a dizer.

— Saia da minha sala — diz sem alterar sua expressão — e atenha-se à sua tarefa, que é trabalhar para mim e para minha empresa.

A porta é aberta, e Claudia entra com um café. Ela nos observa e, quando faz menção de nos deixar a sós, Rafaela diz:

— Claudia, fica aqui pra gente terminar o que estava fazendo. A senhorita Andrade está de saída.
Me revolto e insisto:

— Pelo amor de Deus, Rafaela, quer fazer o favor de me dar um minuto?
Ela se levanta. Está super elegante com esse terno preto. Apoia-se na mesa e diz, olhando nos meus olhos:

— Saia da minha sala imediatamente.

— Não.

— Quer ser demitida?

Claudia faz uma cara cerimoniosa toda sem jeito. Olho para ela e digo furiosa:

— Por favor, sai da sala. Já!

Ela obedece sem hesitar. Rafaela solta um palavrão e, quando ficamos a sós, eu tomo coragem, ponho para fora o gênio que meu pai diz que é idêntico ao da minha mãe, e digo:

The Boss / RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora