bobagem

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De volta ao escritório, meu mundo recupera sua relativa normalidade.
A diferença é que agora Rafaela está ao meu lado: e seus mimos e carinhos me alegram.

Continua hospedada no hotel, embora passe algumas noites lá em casa. Ter um lugar de referência para cada uma é algo que consideramos necessário, apesar de gostarmos muito de ficar juntas. Cada vez sente mais vontade de contar para todo mundo que sou sua namorada, mas rejeito a ideia. Não sei por quê, mas não quero que ninguém fique sabendo. Temos conversado muito sobre a questão da mudança para a Alemanha.
Percebo que ela precisa que eu dê uma resposta logo, mas ainda não sei o que fazer. Ela não me pressiona e eu fico agradecida por isso.

Vários dias se passaram desde que Rafaela voltou. Toda manhã lhe pergunto como está e sua resposta é sempre a mesma: “Bem.” Não teve mais dor de cabeça e acho que
também não sentiu enjoos, e isso me deixa mais tranquila.

Certo dia, quando estou na cantina com Fred, vejo Rafa entrar. Seu olhar me diz que ela não aprova o fato de eu estar tomando o café da manhã com meu amigo.
Senta-se ao fundo da cantina e pede um café. Eu continuo falando com Fred, até que meu celular toca. Rafaela.

— Posso saber o que você está fazendo? — pergunta irritada.
Não olho para ela, já que eu acabaria rindo.

— Tomando o café da manhã.

— Por que você tem que tomar café todo dia com esse cara?

Sentado na minha frente, Miguel me olha e, por meio de gestos, me pergunta quem é.

— Meu pai — respondo, e murmuro dissimulada: — Fala, pai, estou tomando café, o que você quer?

— Seu pai? Como seu pai? — diz Rafa, grunhindo.

Achando graça, sorrio enquanto ouço meu amor bufando de raiva do outro lado da linha.

— Ah, pai, não se preocupe, te garanto que estou comendo diretinho, ok?

— Bia... — murmura entredentes.

Nesse instante, Raul e Paco se juntam a nós. Como sempre, me dão um beijo na bochecha e se sentam na nossa mesa. A reação de Rafaela não demora.

— Beijos? Quem lhes deu permissão pra te beijar?

Não sei o que responder. Acabo rindo. Paco e Raul são um casal e, quando estou quase dizendo a primeira coisa que me passa pela cabeça, Fred chega perto de mim, retira uma mecha de cabelo do meu rosto e coloca atrás da minha orelha.

— Que inferno — diz Rafaela, enfezada  — Por que esse cara está tocando em você?

— Pai, posso te ligar quando chegar em casa? — Antes que Rafaela responda qualquer coisa, eu digo e desligo:

— Um beijinho, pai. Te amo.

Fecho o celular e deixo sobre a mesa. Com curiosidade lanço o olhar na direção de Rafaela e a vejo parada com o telefone ainda na orelha. Sua expressão diz tudo. Está muito...muito irritada. Não gosta que eu desligue o telefone e é isso que acabo de fazer.
Imediatamente se levanta. Passa ao nosso lado, e Fred, alheio ao que está
acontecendo, toma tranquilamente seu café, enquanto eu, em compensação, sinto meu estômago se contrair.

Minha chefe entra acompanhada de Gerardo, o chefe do RH, e, pouco à vontade com a presença dela, saio da cantina dez minutos depois e vou para minha sala. Sei que Rafaela
estará por ali. Me sento à mesa e meu telefone toca. É ela. Me manda ir até sua sala.

The Boss / RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora