PRONTA PARA OUTRA

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Cassandra acordou no hospital, mais uma vez. Sentia o corpo muito pesado e estava confusa. Logo percebeu que tinha passado por mais cirurgias e dessa vez era impossível ignorar a dor e que não teria alta tão cedo.

- Você tem o santo mais forte de todo esse país. - A voz de Marília soou no canto do quarto.

Cassandra tentou esboçar um sorriso, mas estava tão fraca e dopada que só tremeu os lábios.

- Santa. - Sussurrou com a boca seca e a língua pesada.

A cabeça estava estranha.

- É um alívio ver você abrir os olhos, minha amiga. - Marília se levantou e segurou a mão de Cassandra entre as suas. - Durante algumas horas eu pensei que... Que tínhamos te perdido.

A voz da delegada falhou um pouco. Elas trocaram olhares.

- Eu sou forte. - Cassandra murmurou. - Logo vou estar pronta para outra.

Marília sorriu.

- Deixe de valentia, mulher. Você vai usar todo o tempo que te cabe para se recuperar. - Marília ameaçou.

- Aqui tem coragem. - Foi a resposta.

Cassandra ia contestar o que a delegada disse, mas outra pessoa apareceu. Uma senhora. Estava com grandes olheiras e parecia tímida. Era Marínia.

- Você acordou, menina. - Ela se aproximou e fez um carinho na testa de Cassandra. - Eu fiquei tão preocupada, filha.

- Estou bem. - Cassandra a tranquilizou.

E voltou a dormir sob o efeito do medicamento.

*****

Cassandra sentiu o sangue fervendo nas veias quando viu o sorriso vitorioso de Rodolfo. A consequência para ele era pífia, porque foi impossível provar que ele era responsável pela morte de Virgínia e do açougueiro, assim como possível mandante de outros crimes. Com Virgínia executada, toda a culpa recaiu sobre ela e os jagunços de Rodolfo. Sua equipe de advogados era muito boa e fez todos os malabarismos legais, incluindo o uso do depoimento e do relatório de Cassandra, para livrá-lo.

- Então a senhora não o viu mandando matar alguém. Como sabe que ele mandou, investigadora? - A defesa dele indagou. - Você mesma relatou que viu e ouviu ele dizendo que não ordenou a morte de ninguém.

Ela não podia mentir. Estava em seu relatório. Porém o contexto mostrava que, apesar das falas de Rodolfo, ele ordenou. Ele estava tranquilo demais quando viu a execução. O problema era que ela não podia provar o contexto e nem usar expressão corporal como evidência. Já Rodolfo, estava com tudo pronto para provar que a morta fez tudo aquilo de que era acusada. Os capangas também assumiram a culpa pelas mortes e contaram histórias sobre desafetos e segurança.

- Ela não tem uma resposta porque esse fato nunca existiu. - O homem a encarou.

Aquela frase a assombrou por muito tempo, tal como as palavras de Rodolfo quando ela o viu pela última vez.

- Obrigado pela sua honestidade, Cassandra. - Ele disse com desfaçatez. - Vou ter justiça, graças a Deus.

Era quase impossível enjaular um homem tão rico.

Não havia registros dos crimes que ele cometeu, pois ele era dono da maior parte dos imóveis em pontos estratégicos onde os corpos foram encontrados. Rodolfo não podia nem sequer responder por não ajudar a investigadora Cassandra quando estava ferida naquele barracão, pois alegou ter deixado seus homens para isso, e que a má reação da mulher tinha gerado um efeito em cadeia. E, ainda, que ela só estava viva graças à chegada dele, o que era verdade.

Guerra de argumentos.

Os peões foram sacrificados e o rei estava a salvo. Cassandra e a justiça perderam.

*****

Mais tarde, quando estava em sua casa, Cassandra encontrou um bilhete anônimo em sua caixa de correio.

"Fique tranquila, pois não tenho interesse em você."

O ódio a consumiu.

Assassinato no Parque Brito (postando)Onde histórias criam vida. Descubra agora